6.9.04

INQUIETAÇÕES E RÊVERIES

“ - Mas afinal, que moléstia é a tua, menino?
- Eu sei lá, tia Doroteia! Nem os médicos a conhecem bem. É, entre outras coisas, uma tristeza, uma melancolia, que me não deixa, que me persegue por toda a parte. Às vezes, parece-me que sinto apertar-se-me dolorosamente o coração; outras são palpitações, ânsias. Tenho quase vontade de chorar; não leio, não durmo, não como. Finalmente, todo eu sou doença e tristeza.
(…)
- Então, é assim uma espécie de mania?
À palavra “mania”, Henrique sobressaltou-se. Seria a consciência que se sentia ferida?
- Mania! Ó, tia Doroteia! Mania! Veja bem, olhe que o terno é forte! Mania!
- Sim, menino – pois olha que não é outra coisa. Pois isto de estar triste sem ter de quê…sim, porque não te morrendo ninguém, nem te doendo nada…
(…)
Henrique não podia, porém, digerir a expressão de que se servira a tia para diagnosticar o seu mal.
- Mania! – repetiu ele – Essa agora! Sempre é forte de mais. Mania, não, tia Doroteia, lá isso não. Mania!”

Júlio Dinis

Avalon