10.1.05

"Não Vamos Lá" (*)


Jorge Sampaio acabou anteontem um debate na SIC com uma observação profética: "Sem o médio prazo não vamos lá". Mas, se como dizia o sábio, a médio prazo estamos todos mortos, "não vamos lá" na mesma. Este "lá" do Presidente era (já adivinharam) a salvação da Pátria. A Pátria aparentemente precisa de "medidas" muito impopulares durante muito tempo, mas ninguém acredita que, no seu estado actual, o PS ou o PSD as tomem. Para resolver esta pequena dificuldade, há duas propostas, não necessariamente incompatíveis. Por um lado, alguma gente moderada e sisuda sugere um "entendimento" ou um "pacto" entre os dois partidos, ou seja, uma espécie de "bloco central" sem a promiscuidade e sem o nome, com o fim inefável de resolver em comum os problemas mais bicudos. Por outro lado, uma certa opinião quer governos fortes com uma grande maioria e um mandato de cinco anos, presumindo ardilosamente que esses governos poderão espremer os portugueses durante os primeiros quatro anos, para os redimir (e lhes caçar os votos) no quinto. A primeira solução exige ao PSD ou ao PS (conforme quem ficar de fora) um espírito de sacrifício nunca visto na vulgar humanidade democrática. A segunda solução só exige um pequeno conserto na lei eleitoral, a favor do PS e do PSD e contra o CDS, o PC e o "Bloco". De qualquer maneira, para estes pensadores, tudo se deve resolver com o PS e o PSD. Basta, suavemente ou à bruta, suprimir ou limitar a oposição para que eles, livres de eleições, se ponham logo a salvar a Pátria. A médio prazo.

Não ocorre a ninguém que o PS e PSD e o parlamentarismo bastardo e corrompido que os permite, engorda e faz florescer são o problema: a médio, curto e longo prazo. Como não ocorre a ninguém que o interesse vital do PS e do PSD é não se "reformar" e não deixar que o regime se reforme. Vivem os dois perfeitamente assim; e resistirão a que se toque na sua influência, nos seus privilégios, nas suas clientelas, nos seus negócios, no seu dinheiro. As panaceias que por aí se oferecem e que não partem deste facto básico não levam a nada. Quanto muito, entretêm teóricos de domingo e políticos desempregados, que se gostam de ouvir e se despediram definitivamente da realidade.


(*) in Público, 09 de Janeiro de 2005
Por VASCO PULIDO VALENTE

1 Comments:

At 4:07 da tarde, Anonymous Anónimo said...

That's a great story. Waiting for more. » » »

 

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