12.11.06

Lentos e vagos

«(Portugal) num rompimento desesperado com o velho regime, tudo quebrou, tudo estragou, tudo vendeu. Achou-se de repente nu; e como não tinha já o carácter, a força, o génio, para de si mesmo tirar uma nova civilização, feita ao seu feitio, e ao seu corpo, embrulhou-se à pressa numa civilização já feita, comprada num armazém, que lhe fica mal e não lhe serve nas mangas (...) . Mas é sobretudo na minha especialidade, na literatura, que esta cópia do francês é desoladora. Como aqueles patos que Zola tão comicamente descreve na Terre, aí vamos todos em fila, lentos e vagos, através da poesia e da prosa atrás do ganso francês. Quando ele embica para a relva, vamos bamboleando, pata aqui, pata acolá, em direitura à relva; se ele pára, com o bico no ar, todos paramos com o bico noa ar (...)»

Eça de Queiroz


guido sarrasa