5.1.07

Uma velha história


«Zapatero andou a brincar com o fogo espanhol mais intenso e antigo: a unidade do Estado. É uma velha história espanhola, mais ligada às raízes do conflito civil, e do conflito civil máximo que foi a guerra de 1936-9, do que parece, submergido que foi numa memória construída apenas na antinomia, fascismo-comunismo, ou em outras variantes do mesmo. Basta conhecermos na sua integridade o celebre episódio da Universidade de Salamanca entre Unamuno e Millan Astray para perceber como a “questão nacional” é vital na compreensão da Espanha. Zapatero, louvado por cegueira pelos nossos socialistas lusos, tem tentado activamente destruir duas políticas de Aznar que serviam Espanha: uma, a afirmação da Espanha na cena internacional e europeia, que correspondia ao vigor e pujança da economia e da sociedade espanholas; outra, uma política de intransigência com o terrorismo basco.

Saliente-se que em muitos aspectos estas políticas de Aznar eram sucedâneos de políticas de González. As políticas de Aznar continham riscos e foi aos erros assentes num desses riscos que ele ficou a dever a sua abrupta queda e o afastamento muito significativo do PP da opinião pública e do poder. Mas Zapatero fez e está a fazer pior: está a abalar a unidade do Estado espanhol caminhando para um ponto sem retorno a toda a velocidade. E esse ponto sem retorno será em Espanha não um momento pacífico, mas sim o soltar de todos os demónios. De novo.

O atentado da ETA só o podia surpreender a ele, e mostrou a enorme irresponsabilidade do caminho negocial que iniciou com o terrorismo, não a partir de uma posição de força, mas sim de fraqueza. Agora, a meio do caminho, o governo perdeu toda a legitimidade para tratar da questão basca, e o terrorismo da ETA, sendo o que foi sempre, mostrou as garras que nunca perdeu.»


J. Pacheco Pereira


crisdovale

3 Comments:

At 1:40 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Análise bem feita, clara e correcta. O problema em Espanha é parecido com o português:
Falta de liderança da Oposiçao.

A ETA está destroçada, mas, como animal ferido de morte, ainda ataca enquanto respira. Os líderes estao presos e espalhados por Espanha. A força da ETA é a de alguns atentados cobardes e traiçoeiros. A política de diálogo do Governo socialista, é que lhes está a dar fôlego. Para nós fica o grande exemplo do Poder Judicial Espanhol que segue com os processos e as prisoes, apesar de toda a pressao do Governo.

 
At 5:42 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Deus conserve Zapatero Primeiro Ministro de Espanha por muitos anos...rezemos por tal

 
At 7:36 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Mas o que será mais interessante para Portugal? A visão centralizadora de Aznar ou a visão dos zapateros, descentralizadora, quiçá, "fragmentadora"?

 

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