25.3.07

O gajo

Ressentido com Cavaco Silva por mor de Mário Soares, Vasco Pulido Valente dá em zurzir no primeiro (Publico-25.3), ao ponto de contar que o segundo "costumava falar", nos seus tempos áureos em Belém, da "adesão" como uma "oportunidade perdida".
Por culpa (subentende-se que exclusiva) do gajo.
Depois de, na sexta-feira passada, ter ido em amigo socorro do "Paulo", temos, hoje, um desagravo contra um "pequeno espírito", em nome da grandeza de espírito de alguém que deixou para a história destes bocados d´oiro: "(...) Até porque, «mais importante que ser primeiro-ministro, mais importante que ser Presidente da República, mais importante que ser deputado é ser Mário Soares».

Em relação ao período da vida portuguesa em causa, em vez de descuidadas opiniões de tertúlia, fiquemo-nos antes com a análise objectiva e serena dos historiadores justamente consagrados:


« (...) Pergunta- De uma forma simplista, diz-se que o "cavaquismo" se dividiu em dois períodos: a um primeiro tempo atribuem-se todas as virtudes; a um segundo, concedem-se todos os malefícios.

Resposta- Não houve dois períodos. Houve primeiro que normalizar o país, ou seja, aproximá-lo do modelo de sociedade dos Estados do Ocidente: liquidar o peso do sector público na economia; fazer as privatizações; pôr termo às ambiguidades sobre a propriedade da terra e acabar com as UCPs; desnacionalizar os media ( a imprensa, a rádio, a televisão) ; modernizar o sistema fiscal que tinha trinta ou quarenta anos; restaurar o sistema financeiro; baixar a inflação e o deficit do Estado; aumentar o rendimento médio dos portugueses e o poder de compra das populações; modernizar as vias de comunicação e as telecomunicações; garantir a cobertura hospitalar; aumentar a escolaridade obrigatória; restaurar o parque escolar; restabelecer o ensino tecnico profissional, destruído pela revolução; aumentar o acesso ao ensino superior...

Pergunta- E por aí fora...

Resposta- E por aí fora. Ou seja, fazer em Porugal o que, na essência, fora feito na Europa entre 1948 e 1973.
Em circunstâncias muito mais desfavoráveis, porque esses vinte e cinco anos foram para os países Europeus e para os Estados Unidos, os anos de maior expansão historicamente registados


Pergunta- Conclusão do cavaquismo?

Resposta- Primeiro, as acusações que eu rejeito: que ele promoveu o compadrio, o clientelismo e promoveu o "Estado Laranja"; que misturou os negócios com a política. Esses são defeitos estruturais da sociedade portuguesa, que não podem ser atribuídos ao dr Cavaco. A nossa mais antiga literatura politica acusa todos os Governos do mesmo. Muito limitou ele os estragos.

Pergunta -Que país deixou (Cavaco Silva) ?

Resposta - Com todos os erros, acabou por deixar um país mais moderno, mais igualitário e, apesar de tudo, um país um bocadinho mais preparado para se aguentar no mundo.(...)

Pergunta -E o dr Mario Soares, nisto tudo?

Resposta - Não teve importância alguma. A história destes dez anos podia-se ter escrito sem uma única referência ao dr Soares, excepto pela dissolução da Assembleia da República em 1987.Eu suspeito mesmo que o dr Mario Soares gostaria que o dr Cavaco lhe sucedesse, para preservar o prestígio do cargo. Se lhe sucedesse uma nulidade, o papel na história do primeiro Presidente da III República ficaria automaticamente desvalorizado. Ao passo que uma presidência do dr Cavaco valorizava a presidência do dr Soares.»

(Da entrevista de Maria João Avillez a Vasco Pulido Valente
in publico-magazine, nº259/26.2.95)



crstovaodovale

13 Comments:

At 5:18 da tarde, Anonymous Anónimo said...

A luta da memória contra o esquecimento é de facto uma coisa dos diabos.
FV

 
At 5:47 da tarde, Anonymous Anónimo said...

A "amizade" ou as "dívidas de gratidão" são muito más companheiras de viagem para um opinion maker. Mas, para um historiador não são más. São péssimas.

 
At 5:53 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Num espírito contestário e livre, como o que VPV aparenta, espantam os assomos subjectivistas que, volta não volta, exibe de uma forma quase ingénua. Não deixa de ser, de um ponto de vista humano, simpático. Mas nã tem a ver com história e historiadores. Não devia ter, pelo menos.

 
At 5:59 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O sr Cristovão do Vale dedica demasiado tempo a este cavalheiro.
Que se esquece que Portugal é pequeno, que somos poucos, e que, assim, os assuntos, de obrigatoriamente repetidos, se "atropelam" uns aos outros e uns aos mesmos.
RC

 
At 6:13 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Bem, é preciso ver que, tirando o arrobo anti-gajo (ridiculo, para quem se lembra das repetidas e malcriadas deselegâncias do sr soares) o artigo contém, na parte final, algumas verdades.
Agora, assacar a CS a "oportunidade perdida" é que, convelhamos, é do reino da bizarria.

 
At 7:03 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Soares, o Padrinho.
Quando é que se faz história e se conta o oportunismo e as vigarices que tem feito desde mesmo antes de 1974?´
Soares é um escarro!

 
At 8:30 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Nada mal, nada mal, com efeito

 
At 8:34 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Só o Pulido Valente e o Medeiros Ferreira, entre pessoas tidas como imputáveis, é que ainda têm pachorra para pajar o soba.
É caso para dizer, nem son ami Freitas o atura mais.

 
At 8:43 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Quem lida bem com o jactante malcriado é o dr Sampaio, que ainda ontem lhe deu uma cházada e mandou-o dar uma grande volta a propósito de umas diatribes sobre o Iraque.

 
At 8:45 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O sr Soares tem tiques africanos.

 
At 10:32 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Isto de ser um historiador e todas as semanas escrever aos sabores (também ) dos humores tem que se lhe diga.

 
At 10:35 da tarde, Anonymous Anónimo said...

a falta de objectividade de VPV em relação a Soares (hoje por hoje, pois como se sabe nem sempre foi assim)é um bocadinho parecida com a do C. do Vale em relação ao Cavaco silva.
HTV

 
At 7:04 da tarde, Anonymous Anónimo said...

A actuação do dr soares desde 1992 só mesmo por grande amizade pode ser branqueada.

 

Enviar um comentário

<< Home