A infinita criação rusticana
"A bolota taluda ficara ali muito quieta, muito bem refastelada em virtude do próprio peso, enterrada que nem pelouro de batalha depois de passarem carros e carretas. Que fazer senão deitar-se a dormir?! Dormiu uma hora ou uma vida inteira, quem sabe?! Um laparoto veio lá de cascos de rolha, rapou a terra, fez um toural, aliviou-se, e ela ficou por baixo, sufocada sem poder respirar, em plena escuridão. Estava no fim do fim? Um belisco, e do seu flanco saiu como uma flecha. Era de luz ou de vida? Era uma fonte ou antes um cântico de ave, de água corrente, de vagem a estalar com o sol (... )? Era tudo isto, encarnado no fogo incomburente que lhe lavrava no flanco, verbo que acabou por irradiar do próprio mistério do seu ser.
Do pinhão, que um pé de vento arrancou ao dormitório da pinha-mãe, e da bolota, que a ave deixou cair ao solo, repetido o acto mil vezes, gerou-se a floresta.
Acudiram os pássaros, os insectos, os roedores de toda a ordem a povoá-la. No seu solo abrigado e gordo nasceram as ervas, cuja semente bóia nos céus ou espera à tez dos pousios a vez de germinar. De permeio, desabrocharam os cardos, que são a flor da amargura, a abrótea, a diabelha, os esfondílio, flores humildes, por isso mesmo troféus de vitória. Vieram os lobos, os javalis, os zagais com os gados, a infinita criação rusticana."
Aquilino Ribeiro
"A Casa Grande de Romarigães"
brunoventana
3 Comments:
Grande pedaço de escrita do grande Aquilino.
Assim nasceu a floresta, que tão maltratada é na nossa santa terrinha.
Mónica Ferreira
é preciso fresar a terra:))
já tenho o gadanho na mão.
Talvez seja por aí que passa o entendimento de muita coisa,até, mesmo, o da utilidade da gadanha.
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