19.6.06

O fluxo de todas as coisas

"Que é que vês?
Mares, rios, árvores, montes, vales, campinas, desertos, povoados: e tudo passando.

Os mares em contínuas crescentes e minguantes: os rios sempre correndo; as árvores sempre remudando-se, ora secas, ora floridas, ora murchas: os montes já foram vales, e os vales já foram montes, ou campinas; os desertos já foram povoados, e os povoados agora já foram desertos. Mas olha em especial para os povoados, porque o mundo são os homens.

Tudo está fervendo em movimentos que acabam, e começam; uns a sair dos ventres das mães, outros a entrar no ventre da sepultura; aqueles cantam, dali a pouco choram; estoutros choram, e dali a pouco cantam; aqui se está enfeitando um vivo, parede meia estão amortalhando um defunto; aqui contratam, acolá destratam; aqui conversam, acolá brigam; aqui estão à mesa rindo, e fartando-se, acolá estão no leito gemendo o que riram, e sangrando-se do que comeram."

Manuel Bernardes


bvtana

1 Comments:

At 6:27 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Janelas nocturnas alumiadas. Tantas! De risos e choros. Nascimento e Morte.Esperanças...
Ciclos que se repetem: tudo acba. Em Silêncio.

 

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