12.11.04

SENSIBLERIE

“Diriam todos em frase marinhesca, que em todo o mar salgado não havia nau de melhores manhas” (Sermões – VIII, 3)


O Governo vai baldear-se de lancha para bordo da “Sagres”.
Arteiro, troca pelo das gaivotas os grasnados da matula que, apelintrada, fica no cais a ver a barcagem.

Sanhudo, destecendo os fios do sofisma que o Tejo engenha, o povinho, ainda assim em alva expectativa, esperará dos mandantes naviculares um bouquet de ideias frescas, com pico de maresia.

Pois não vieram sempre dos lados do mar as letras amenas dos nossos fados?
Assim é que, sempre peristáltico, agora em perístase, o vulgo esperará, de Pedrouços à Bica do Sapato, que o húmido Neptuno, lá de riba, rase as nequícias do nosso Outono político.

A natureza marinhática da curvatura governativa pode ser o arrimo que faltava para unhar, com chispa, o porvir.

E, talvez que o porta-voz desta açuda nautilóide, acabada a faina, venha ao cais dizer, como Diogo Bernardes (em O Lima): “ Não te darei ouriços espinhosos, sabes, Ninfa, por quê? Porque receio que piquem esses teus dedos mimosos.”

O Governo na “Sagres”

Será um novo estilo de vida?

Não é certo, que mais o será, pelo lusco-fusco, voltar à muito sua corveta Saragoça (vd. A corveta Saragoça e o Almirante Fitzroy – 29.10)


brunoventana