31.10.06

Memorandum




O tempo não existe. Há o presente, a memória, mas o tempo não.
François-Paul Journe



guido sarraza

With a little help from my friends

US mid-terms blog

An unexpected gift to the Republican party



crisdovale

Figuração

«O FADUNCHO: Na 1ª parte do Barcelona-Chelsea contei seis faltas iguais ou piores do que a de Katsouranis sobre Andersson. Só mesmo Pinto da Costa - que fazia de motorista de Paulinho Santos no dia seguinte a este partir uma queixada ou uma perna a um adversário - para alimentar tanto disparate. Também é verdade que conta com um séquito de prosélitos, confiados que estavam na capacidade do jovem brasileiro de apenas 18 anos em esconder a tremideira do Prof. Jesualdo.»
posted by FNV on 8:44 PM #
in Mar Salgado


crisdovale

Manufacturamos realidades


"Damos comummente às nossas ideias do desconhecido a cor das nossas noções do conhecido: se chamamos à morte um sono é porque parece um sono por fora; se chamamos à morte uma nova vida é porque parece uma coisa diferente da vida.
Com pequenos mal-entendidos com a realidade construímos as crenças e as esperanças, e vivemos das côdeas a que chamamos bolos, como as crianças pobres que brincam a ser felizes.
Mas assim é toda a vida; assim, pelo menos, é aquele sistema de vida particular a que no geral se chama civilização.
A civilização consiste em dar a qualquer coisa um nome que lhe não compete, e depois sonhar sobre o resultado. E realmente o nome falso e o sonho verdadeiro criam uma nova realidade. O objecto torna-se realmente outro, porque o tornámos outro.
Manufacturamos realidades.
A matéria-prima continua a ser a mesma, mas a forma, que a arte lhe deu, afasta-a efectivamente de continuar sendo a mesma.
Uma mesa de pinho é pinho mas também é mesa. Sentamo-nos à mesa e não ao pinho. Um amor é um instinto sexual, porém não amamos com o instinto sexual, mas com a pressuposição de outro sentimento.
E essa pressuposição é, com efeito, já outro sentimento."

Fernando Pessoa



crisdovale

Resistir ao impulso de trivialização


«Interpor providências cautelares para impugnar decisões do Governo e das autarquias está a tornar-se moda. Estão a invadir os tribunais, diz o presidente do Supremo Tribunal Administrativo (STA), havendo o sério risco de se estar a violar o princípio da separação de poderes, avisa o constitucionalista Paulo Rangel, e o perigo de se politizar a justiça, alerta a jurista Adelaide Menezes Leitão.
(...)
A queixa é do presidente do STA. "Em nome da plenitude da tutela, torna-se necessário refrear", afirma Santos Serra. E avisa: "Importa resistir, com determinação, ao impulso de trivialização deste tipo de processos." Quanto ao perigo de os juízes poderem "favorecer de forma desproporcionada e injustificada" os requerentes de providências cautelares administrativas, Santos Serra adverte: "Nada se deve substituir ao bom senso e à ponderação, exigindo-se a autocontenção dos juízes mais voluntariosos, sempre sujeitos ao risco de precipitação na consideração dos vários interesses em conflito.»
(Licínio Lima in DN-2.7 )


crisdovale

30.10.06

Mareando




O essencial é ter o vento.


guidosarraza

The honourable John Profumo




John ProfumoProfumo's redemption involved tireless charity workJohn Profumo, who was at the centre of one of the UK's most famous political scandals, has died at the age of 91.John Profumo's public life was dramatically split into two parts: disgrace and redemption. Nearly 40 years after he misled the House of Commons and helped bring down the Macmillan government, the former politician was a dedicated charity worker, for whom his friend Lord Longford "felt more admiration than all the men I've known in my lifetime".(http://news.bbc.co.uk/1/hi/uk_politics/1158516.stm)


The Profumo AffairEspionage, Russian attaches, political treachery, top-notch Tory politicians.Sex parties, call girls, secret FBI investigations, lies told in parliament. The downfall of a cabinet minister, and ultimately the resignation of the British Prime Minister Harold Macmillan.
(http://www.bbc.co.uk/crime/caseclosed/profumo.shtml)




crisdovale

29.10.06

O jogo da dama



I think the main reason my marriages failed is that I always loved too well but never wisely.
Ava Gardner



guido sarrasa

O Jasmineiro




Era ele, de todos os homens que conheci, o mais complexamente civilizado — ou, antes, aquele que se munira da mais vasta soma de civilização material, ornamental e intelectual.

Nesse palácio (floridamente chamado o Jasmineiro) que seu pai, também Jacinto, construíra sobre uma honesta casa do século XVII, assoalhada a pinho e branqueada a cal — existia, creio eu, tudo quanto para bem do espírito ou da matéria os homens têm criado, através da incerteza e dor, desde que abandonaram o vale feliz de Septa-Sindu, a Terra das Águas Fáceis, o doce país ariano.

A biblioteca — que em duas salas, amplas e claras como praças, forrava as paredes, inteiramente, desde os tapetes de Caramânia até ao tecto, donde, alternadamente, através de cristais, o sol e a electricidade vertiam uma luz estudiosa e calma — continha vinte e cinco mil volumes, instalados em ébano, magnificamente revestidos de marroquim escarlate.

Só sistemas filosóficos (e com justa prudência, para poupar espaço, o bibliotecário apenas coleccionara os que irreconciliavelmente se contradizem) havia mil e oitocentos e dezassete!

Uma tarde que eu desejava copiar um ditame de Adam Smith, percorri, buscando este economista ao longo das estantes, oito metros de economia política!

Assim se achava formidavelmente abastecido o meu amigo Jacinto de todas as obras essenciais da inteligência — e mesmo da estupidez.

E o único inconveniente deste monumental armazém do saber era que todo aquele que lá penetrava, inevitavelmente lá adormecia, por causa das poltronas, que, providas de finas pranchas móveis para sustentar o livro, o charuto, o lápis das notas, a taça de café, ofereciam ainda uma combinação oscilante e flácida de almofadas, onde o corpo encontrava logo, para mal do espírito, a doçura, a profundidade e a paz estirada de um leito.
Eça de Queirós



bvtana

Voando sobre um ninho de cucos

... foi «manobra planeada» ...


crisdovale

Da cor dos olhos de quem olha






Alentejo

A luz que te ilumina,
Terra da cor dos olhos de quem olha!
A paz que se adivinha
Na tua solidão
Que nenhuma mesquinha
Condição
Pode compreender e povoar!
O mistério da tua imensidão
Onde o tempo caminha
Sem chegar!...



miguel torga
Sousel, 20 de Outubro de 1974


brvtana

Descer mais um passo




« (JPP)
LENDO VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS
de 29 de Outubro de 2006
Lendo o Sol hoje: um editorial de miséria e uma miséria de editorial. Já se percebeu que tudo está maduro para se descer mais um passo na abjecção pública. É verdade que os sinais já estavam por todo o lado, que a porta que o Expresso abriu escancaradamente já estava semi-aberta. Mas cada vez temos menos respeito por nós próprios e pelos outros. Se há quem queira viver no mundo do Simplesmente Maria e na lama voyeuristica da exibição da privacidade e da intimidade, força! Que as páginas exibicionistas vos sejam leves! Mas não esperem de quem não é desse mundo outra coisa que não seja nojo e vergonha por terem descido tão baixo.»

J. Pacheco Pereira
(In Abrupto)


crisdovale

Palácios de sonho e água


Mar adentro, com Luis de Camões, foram os portugueses. Por onde andam agora?


guido sarraza

Into the Great Silence

A melhor coluna do fim de semana. Fabulosa. Divertimento puro e inteligente.
Vá ao cinéma verité. Com Paulo Moura (Publico-29.10).


crisdovale

Girândola

« (...) Na verdade, suspeito que muitas destas notícias erráticas são deliberadamente fabricadas, seja pelos gabinetes do poder, seja pelos da oposição. Assim como pelos sindicatos e patrões. E também por jornalistas e "fontes" partidárias anónimas. As intenções destas mentiras, meias verdades, batos, fugas de informação e notícias verdadeiras são várias. (...) »

Antonio Barreto
publico-28.1o


crisdovale

Independências

«Tenho visto com muita simpatia a determinação em governar, em tomar decisões, em não ficar dependente da plateia e do que pode acontecer amanhã em termos de opinião pública.»

D. José Policarpo
TSF-28.10


crisdovale

Boas notícias para Madame Saraiva

«O facto de as mulheres serem mais autónomas que os homens, poderá fazer com que estes se tornem apêndices dispensáveis.»
José António Saraiva

Sol-28.10


crisdovale

Contributos para o anedotário




«(...) Este, porém, em quatro escassos meses, excedeu as piores expectativas. Não me refiro já aos contributos que deu para o anedotário do pós-25 de Abril, mas sim ao vertiginoso carnaval de improvisos, leviandades, demagogias, vitimizações obsessivas, faltas de sentido de Estado, descoordenações, mancebias entre Estado e partido, contradições e "trapalhadas" (tantas e tais, que esta palavra instalou-se e desperta tão pavlovianamente os receios populares que já não é fácil fazer oposição sem ela). Só que o povo não gostou do populismo e ele foi fragorosamente derrotado nas urnas
(...)
Não se deseja a ninguém um calabouço em Guantánamo. Mas, se o PSD continuar a tratar as suas baixas [Pedro Santana Lopes] em tão zelosa conformidade com as convenções de Genebra, vai ter muito com que se entreter no futuro próximo. E não é a fazer oposição.»

Nuno Brederode Santos
DN-29.10


crisdovale


28.10.06

Esmiuçar e simplificar


«A análise de um problema, para o compreender, não é igual à análise do mesmo problema para aplicar à prática a sua solução. Compreender envolve esmiuçar o mais possível; resolver envolve simplificar.»

Fernando Pessoa


crisdovale

Em segredo

“É o escândalo público que faz a ofensa, pecar em segredo não é sequer pecar.”
Voltaire


guidosarraza

Os bacamartes do espírito

Ministério nega intenção de acabar com pausas lectivas para os professores

O Governo tem a RTP. A Fenprof tem o Público.
Assim é que é bonito.


crisdovale

Onde estão os 4,1 milhões?

«A notícia épica
LUSA
18 de AGOSTO de 2005
Museu de Arte Popular reabre portas em 2006
O Museu de Arte Popular, em Lisboa, voltará a abrir portas em finais do próximo ano, quando terminarem as obras de requalificação iniciadas em 2003, disse à Lusa a subdirectora do Instituto Português de Museus (IPM). (...)
A colecção do Museu inclui cerâmicas, algumas de autoria de Rosa Ramalho, alfaias agrícolas, trajes, instrumentos musicais, joalharia, cestaria e selas.
Ao visitante é assim possível observar as cangas e os galos de cerâmica do Minho, as cestarias de Trás-os-Montes, os badalos e as louças de terracota do Alentejo, ou os equipamentos de pesca do Algarve, um acervo datado essencialmente do século XX.
De acordo com dados do IPM nos primeiros quatro meses de 2003, o Museu de Arte Popular recebeu 1.711 visitantes.
A actual directora do Museu é Elisabete Cabral.»

LUSA
OUTUBRO DE 2006
"O Mar da Língua" com acervo virtual e interactivo
O Museu O Mar da Língua, cujas obras deverão ser iniciadas em 2007 e concluídas em finais de 2008, vai ter um acervo virtual/interactivo e um centro de interpretação da língua portuguesa e dos Descobrimentos.
Em declarações à Agência Lusa, a ministra da Cultura referiu que o obje ctivo do museu, a criar nas instalações do Museu de Arte Popular, actualmente en cerrado, é "articular o estudo e a divulgação da língua portuguesa com os Descob rimentos".


*Entretanto onde estão os 4,1 milhões de euros afectados às obras de recuperação do Museu de Arte Popular?
*Quem nos garante que as obras do Museu da Língua Portuguesa vão começar e terminar? Afinal as do Museu de Arte Popular, se alguma vez começaram, não terminaram.
* E «as cangas e os galos de cerâmica do Minho, as cestarias de Trás-os-Montes» mais «os badalos, as louças de terracota do Alentejo, ou os equipamentos de pesca do Algarve» que, em 2005, eram enumerados quais fantásticas maravilhas do mundo onde estão agora em 2006? Já não precisam de museu nem de directora? Ninguém os quer ver?
*Por fim quem nos garante que, em 2007, o Ministério da Cultura não muda outras vez de ideias e resolve fazer ali um museu dedicado a outra qualquer matéria? Sobre propaganda, por exemplo.»

Helena Matos
(in Blasfemia)



crisdovale

Não podiam ignorar






«Os que justificavam as suas decisões com o argumento de que as pessoas são mais importantes do que os números não podiam ignorar que são os números que determinam como, quando e em que escala as pessoas podem ser protegidas, beneficiadas e defendidas em situações de risco.

Ao aceitarem confundir a descida da taxa de juro e a estabilidade da moeda única como factores que permitiam o aumento da despesa pública, estes protagonistas políticos agravaram a dependência da sociedade portuguesa em relação aos fluxos distributivos e condenaram ao fracasso qualquer estratégia de modernização no padrão da globalização competitiva.»

Joaquim Aguiar
(Fim das ilusões/Ilusões do fim)


crisdovale

A grande arte de luz e sombra


Le secret de plaire en société est de se laisser apprendre des choses que l ´on sait par des gens qui les ignorent.

Charles Maurice, Prince de Talleyrand-Périgord


bruno ventana

Cidade do Porto, 19.45








In boca al lupo...
Crepe´il lupo !




Ora vamos lá tratar de benficar.
brunoventana

Nem hoje

Uma visita guiada por António Guerreiro através do "organismo vivo" que é o último livro de António Lobo Antunes. (Expresso-28.10). Imperdível e definitiva.
"O excesso e o estado de exasperação desta escrita não têm nada de produtivo: são uma máquina de esvaziamento e de redução à frivolidade de um estilo e à virtuosidade gratuita da imaginação. Reduzem-se a uma «estética» que não sabe o que é a moral da forma."
Ontem não te vi em Babilónia.
Nem hoje.



crisdovale

27.10.06

O português




«... não é o regime, nem a agricultura, nem a indústria, nem as finanças que verdadeiramente estão em crise, o que em Portugal, há alguns séculos está em crise é o Português.
(...)
O nosso grande mal é uma doença de vontade cujos sintomas se chamam o desalento, o pessimismo, o abandono fatalista, uma inerte cobardia e a falta de confiança no esforço próprio.»

Jaime Cortesão
"Da Renascença Portuguesa e seus Intuitos"-1912
citado por Pedro Calafate in "Portugal como problema"


crisdovale

À bolonhesa

... terá um impacto no Orçamento do Ministério da Ciência e do Ensino Superior que não deve agradar especialmente ao Ministro...


crisdovale

Noites de Inverno

Para falar é engraçada com um todo senhoril, para cantar é suave com um certo movimento que favorece a música; para pregar é substanciosa, com uma gravidade que autoriza as razões e as sentenças; para escrever cartas nem tem infinita cópia que dane, nem brevidade estéril que a limite; para histórias nem é tão florida que se derrame, nem tão seca que busque o favor das alheias.


guidosarraza

Neste mundo



"Vivemos todos, neste mundo, a bordo de um navio saído de um porto que desconhecemos para um porto que ignoramos; devemos ter uns para os outros uma amabilidade de viagem"
Fernando Pessoa

guido sarraza


ADENDA: Correio do leitor

«Nem todos estamos a bordo do mesmo navio. Os espertalhuços fazem colectas no nosso navio para utilizarem meios de transporte mais convenientes em função dos objectivos de cada momento. Quando chegados á governação dividem o mundo em três grupos:
Grupo 1 - indefectíveis, amigos e animais de cavalgação simples - para proteger e apoiar.
Grupo 2 - inimigos, adversários e opositores convictos -para eliminar ou anestesiar por período longo.
Grupo 3 - palermas, para pagarem tudo e ainda fazerem de plateia.
Os protagonistas do poder têm treino muito antigo, os arrivistas aprendem com eles e associam-se-lhes. A vida é assim, dizem quase sempre os mais conformados dos palermas. »

Memória actualizada

«(...) No momento em que o Governo atravessa um dos seus momentos mais difíceis só mesmo a memória actualizada dos tempos ( e dos"episódios") do dr Santana Lopes é que poderia oferecer um novo brilho à desgastada imagem do primeiro-ministro.
(...)
Mas são exactamente estes jogos florais e estas habilidades toscas que melhor definem o que é o PPD do dr Santana Lopes.
(...)
As ficções que... alimenta sobre a sua magnífica pessoa e os efeitos que essas ficções têm no seu inesquecível grupo de apoiantes teriam uma importância relativa se não configurassem, com a sua confrangedora cegueira, a impunidade politica que existe hoje em Portugal. (...)»

Constança Cunha e Sá
Publico-27.10


crisdovale

Enredo de luxo

Embaixadores, intriga, conspiração e paixão.
Tudo junto.



guido sarraza

Por si sózinha

« (...) O que mostra que o anonimato é apenas uma ficção num pequeno mundo de pequeninas polémicas.»

Assim rematou Constança Cunha e Sá uma fina espreitadela sobre as ondulações à volta dos "anónimos", onde nomeadamente refere, a benefício de alguns excêntricos da matéria, que "dá pouca importância as essas subtilezas da blogosfera".

À finura das observações, junta-se a escrita da senhora, que se recomenda por si sózinha.

É caso para dizer que não é impunemente que se é sobrinha - neta do autor deste clássico da literatura portuguesa.

crstovãodovale

Jubila-te da memória


E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.


Hilda Hist

guidosarraza

25.10.06

"Que valores para este tempo?"






«(...) Os tempos são realmente propícios para iniciativas como esta. Fala-se, com frequência, de uma crise geral de sentido que ofenderia os sistemas de valores sobre os quais as nossas sociedades foram erigidas.
De épocas assim disse Oliveira Martins:
“… a um sistema sucede outro sistema e, nos intervalos das doutrinas sucessivamente dominantes, há sempre pausas de materialismo obscuro.”
Viveremos numa dessas pausas? Mas, se assim for, sabemos que é justamente no tempo do materialismo obscuro que mais se exige dos homens para conferir novos sentidos aos valores de sempre e, mesmo, para vislumbrar novos valores.

(...)
Os valores são, pois, a expressão de um acordo sobre o modo de realizar objectivos comuns. Não falo das abstracções elaboradas, e longamente trabalhadas, pela reflexão filosófica. Falo dos valores que unem os homens que vivem em comum. Falo de valorações concretas –sobre a boa convivência, sobre o bem comum, sobre o trabalho, sobre a entreajuda e a cooperação, sobre as práticas culturais e os usos tradicionais -, valorações que representam a existência de uma sociedade perante os outros grupos e perante a História.
(...)
Somos livres também porque somos responsáveis e porque sabemos que seremos responsabilizados pelas escolhas que fizermos e pela maneira como as soubermos interpretar em toda a nossa vida. Somos, afinal, responsáveis perante todos os outros.Trata-se, sem dúvida, de uma difícil liberdade.Trata-se da responsabilidade no seu sentido mais profundo, como mediação entre a minha liberdade e o valor dos outros. Em cada homem que sabe viver assim a sua responsabilidade eu encontro uma nova razão para ter esperança. (...) »



brunoventana

Levas-nos



A terra leva-nos por terra;
mas tu, mar,
levas-nos pelo céu.

Juan Ramón Jimenez



guidosarrasa

Os intemporais


A nossa querida terra está cheia de manhosos, de manhosos e de manhosos, e de mais manhosos. E numa terra de manhosos não se pode chegar senão a falsos prestígios.

Almada Negreiros


brunoventana

A opinião pública


«(...) Ramalho fez-me a honra insigne de approximar o meu nome do de Turgot; e se recordo o paralelismo assim feito das nossas situações, é só para frisar que, se Luis XVI, aliás bondoso e sincero, abandonou o seu ministro, cedeu às pressões da corte, e às próprias illusões e preconceitos - El Rei D. Carlos caminhou até à morte, do mesmo passo firme, convicto e deliberado.
N`uma das suas cartas escrevia: "Eu bem sei que seria mais fácil , e menos penoso para nós, o tratar de agradar a todos; mas espero também que um dia a opinião pública, que felizmente não é sempre a opinião que se publica, saberá fazer-nos justiça." (...)»


João Franco Castello-Branco
(in "Cartas D`El-Rei D. Carlos"
Livrarias Aillaud e Bertrand-1924)


bventana

24.10.06

Certas elipses sofísticas padronizadas

«O mistificador beneficia-se, assim, não só da distração e do despreparo técnico de seus leitores, mas também do efeito dissuasivo do comodismo humano, bem como das limitações de espaço que, na imprensa, tornam geralmente inviável a publicação das análises e refutações que reduziriam a pó o renome científico de centenas de mandarins acadêmicos.
Tudo conspira, enfim, para que a mentira permaneça oculta e protegida numa obscuridade cúmplice. Não é de se desprezar, nesse panorama, o peso do fator “repetição”: quanto mais exposto a certas elipses sofísticas padronizadas, mais o público as aceita como argumentos probantes e definitivos, e isto de maneira cada vez mais rápida e automatizada — donde vem ainda um efeito colateral: cada vez é preciso menos talento para enganar o público e a cada geração os compactadores de sofismas podem se permitir ser cada vez mais tolos, confiados no adágio fatal de que un sot a toujours un plus sot qui l'admire.»

Olavo de Carvalho
"Lógica da mistificação, ou: O chicote da Tiazinha"


bvtana

A pitança da polpa




«Não está um caso bonito?
O pobre diabo sarabandeando os neuronios, listrando d´amarello e vermelho as calças dos periodos, aparando os callos dos trópos, pondo barretininhas de chifre na cabeça marcial dos adjectivos, enfileirando paginas, coitado, um anno preso á banca do supplicio, a recoser-se, a derreter pra´li os torresmos da psychologia e da syntaxe - sujeito aos juizos deprimentes da turba, á popularidade insultante da rua, ás insolencias invejosas da critica - e tudo isto para afinal do licoroso melão comer apenas as cascas, e toda a pitança da polpa cantar no buxo do agiota ironico que o edita!»


fialho de almeida


bventana

A mão invisível

«(...) não se preocupam com nada além de seu bem-estar e ao mesmo tempo não são solidárias com as causas desse bem-estar.
Como não vêem nas vantagens da civilização uma invenção e uma construção prodigiosas, que só podem ser mantidas com grandes esforços e cuidados, acham que seu papel se resume em exigi-las peremptoriamente, como se fossem direitos naturais. (...)»

Ortega y Gasset


crisdovale

A todo o pano

A SIC-Notícias - que vem apresentando um programa linha televendas com o bastonário Alves no papel de Mike- arranjou agora, com Santana Lopes, um entertainer capaz de ombrear com Castelo Branco.
A todo o pano.


crisdovale

Os pós e as contas

Pedro Sampaio Nunes mantém-se igual a si próprio: não convence ninguém. Nem os adeptos do nuclear. Mas aparece compostinho e educado e, assim, o melhor é deixá-lo com aquele seu entretém.


crisdovale

23.10.06

O brioso pimpão

“Vestia luva gema de ovo todos os dias e aos domingos alugava cavalo”
camilo castelo branco




«A política não pode continuar a ser feita assim», defendeu Santana Lopes
(diario digitasl-23.10)



Este brioso assomo do afamado estadista traz outra vez à lembrança o Pimpão, de que falava Fialho:

"...o mesmo não sucedia a Pimpão, que em raça de gato, era o mais poseur de quantos bichanos inda em minha vida aturei. Ele arremetia nas conversas onde não era chamado, ia molhar as patas na caçarola do jantar..."

bruno ventana

Coisas que tenho na ideia

«Numa noite já de despedida do Rio conheci na Avenida de Copacabana uma mulher nova que vendia rendas do Ceará e outras coisas bonitas. Eu estava acompanhada por alguém que, meio a brincar, me apresentou como escritora. E ela disse, logo expansiva e divertida:

“Eu também sou escritora. Escrevo pensamentos, coisas que tenho na idéia sobre José do Egito e a princesa Elisa. Havemos de voltar a falar”.

– Vou-me embora amanhã – disse eu.

– Isso que tem? Nem a viagem ao céu é só de ida »



Agustina Bessa-Luís


guidosarraza

22.10.06

Salve-se a honra

"Esse senhor (Pinto da Costa) comprou resultados"
Luis Felipe Vieira
(citado in tempo extra-sic-n, 22.10)


Vamos ver quando surge a (natural) acção por difamação.


crisdovale


Catedral, 19.15




In boca al lupo...
Crepe´il lupo !





brunoventana

"Merece apoio"

«(...) Maria de Lurdes Rodrigues, que admiro, fez muito bem em, desde o início do seu mandato, se ter preocupado, não com ideias vagas sobre a educação, mas com a organização. Muito do que fez ou tem tentado fazer é essencialmente tratar da organização do sistema, dos poderes e competências dos seus agentes e interessados, dos aspectos materiais e funcionais. Tem razão. Sem alterar esses elementos de base, nada poderia fazer a não ser discutir tostões com funcionários, propinas com os estudantes, preços com os editores e transportes com os autarcas. Sem entrar no pormenor dos dispositivos por ela delineados, merece aplauso, na generalidade, o que quer fazer, por exemplo, com os horários de abertura das escolas, as aulas de substituição, o fecho das escolas com meia dúzia de alunos, a obrigatoriedade de cumprimento de horário de presença por parte dos docentes, a penalização das faltas dos professores, o novo sistema de avaliação dos professores e as exigências para a promoção na carreira. Fez muito bem em acabar com os destacamentos de muitas centenas de professores para servirem de funcionários e activistas dos sindicatos. Como fez bem em criar contratos de pelo menos três anos para fomentar a estabilidade do corpo docente. Nem tudo tem sido bem, como por exemplo a avaliação dos professores pelos pais, o golpe de misericórdia na filosofia ou a repetição de exames nas condições conhecidas. Mas, em grandes linhas, a ministra merce apoio. (...)»

António Barreto
Publico-22.10


crisdovale

Transmontano

«Sócrates é um homem de província, o que é sempre uma garantia.»

Agustina Bessa-Luís
(Sol-21.10)



crisdovale

O deserto africano

Onde estão os peritos que apetrechados de fundos conhecimentos científicos, e coisas assim, garantiam há pouco tempo a quem os queria ouvir que Portugal, à míngua de chuva, caminhava ligeiro para uma espécie de deserto africano, com camelos e tudo?
Com certeza abrigaram-se, benza-os Deus.


crisdovale

Talvez antes...

TPC PARA AS FÉRIAS DE NATAL


crisdovale

Mas não valem nada

« (...) Resta saber se esta agitação afecta Sócrates. Primeiro, no PS. Roseta e Alegre, como de costume, voltaram à cena. Mas não valem nada. O próprio Alegre reconhece que o congresso se destina a "glorificar" o chefe e a pouco mais. E o MIC, essa potência, tem três centenas de "adesões" no site. Fora do PS, o Bloco e o PC também não ameaçam Sócrates. Apesar da "rua", tanto um como outro continuam, como em 2005, pelos 7 por cento. Para efeitos práticos não existem. À direita, o CDS (2 por cento) desapareceu e nem por intervenção directa do Altíssimo volta a aparecer (...)»
Vasco Pulido Valente
Publico-22.10


crisdovale

O vaidoso

O cavalheiro apenas disse coisas elementares, de percepção simples, todavia...


crisdovale

Autodromo Carlos Pace - São Paulo - Brasil


Títulos para Alonso e Ferrari. São os votos.


crisdovale

21.10.06

E outro belo dia



Nada do que o homem foi, é ou será, o foi, o é ou será de uma vez para sempre, mas vem a sê-lo um belo dia e outro belo dia deixará de o ser.

Ortega y Gasset


guido sarraza

À sua maneira



"É um país sereno, educado, por vezes lento, que luta à sua maneira para sair da crise. Das várias crises", conclui o documentário.

Crise em Portugal foi tema de documentário transmitido pela televisão espanhola


crisdovale

O Napoleão da Bica do Sapato




Fontes santanistas dizem ao DN que "não houve um ataque ao quartel-general, só um avanço de posições".
(DN-21.10)


crisdovale

Partidas singelas e muito singelas

Em 7 de Fevereiro de 1835, o editorial de "O Nacional" explicava que o Ministério se governava por duas regras:

"Quem pilhou, pilhou e quem não pilhou, pilhasse."

Dias depois, em 27 de Fevereiro, num outro editorial, desagregava a escrituração:

" A escrituração do Tesouro é feita por partidas singelas e muito singelas:
Deve, Há-de Haver e Venha a Nós."

Outros tempos...


Brunoventana

O que tem de ser tem muita força




«É por não gostar de futebol que sou do Benfica. Tal como compreendo como é que há portugueses que conseguem ser de outros clubes.
O Sporting, o Porto podem jogar bem e o Belenenses e a Académica podem calhar bem em sociedade, mas só o Benfica, como o próprio nome indica, é o próprio Bem. Que fica.
Só o Benfica pode jogar mal sem que daí lhe advenha algum mal.
Basta olhar para os jogadores para ver que sabem que são os maiores, que não precisam de esforçar-se muito, porque são intrínseca e moralmente a maior equipa do mundo inteiro.
Porquê? Ninguém sabe.
Mas sente-se. Quando perdem, não se indignam, não desesperam.
Eusébio só chorou quando jogou por Portugal.
Quem joga no Benfica tem o privilégio e o condão de estar sempre a sorrir.
Não conseguem resistir.
O Benfica, a bom ver, nem sequer é uma equipa de futebol.
É um nome.
É como dizem os brasileiros, uma "griffe".
Têm uma cor.
Antes de entrar em campo, já têm um mito em jogo, já estão a ganhar por 3-0, graças só à reputação. Quando o Benfica perde, parece sempre que quis perder.
Essa é a força inigualável do Sport Lisboa e Benfica - faz sempre o que lhe apetece. O problema é que lhe apetece frequentemente, perder.
Qual é o segredo do Benfica? São os benfiquistas. São do Benfica como são filhos de quem são.
Ninguém "escolhe" o Benfica, como ninguém escolhe a Mãe ou o Pai.
Em geral, aliás, os benfiquistas odeiam o Benfica e lamentam-no no estádio e em casa, mas pertencem-lhe. Quanto mais pertencemos a uma entidade superior, seja a Família, a Pátria, Deus - ou o Benfica, mais direito, temos de criticá-la e blasfesmá-la. Não há alternativa.
(...)
O Benfica é um grande clube porque tem história e talento suficientes para não dar importância aos resultados. Tem uma tradição de "nonchalance" e de pura indiferença que não tem igual nos grandes clubes europeus.
O Benfica não joga - digna-se jogar.
Não joga para vencer - vence por jogar.
Odeio futebol.
Mas amo o Benfica.
As opiniões de quem gosta de futebol são suspeitas.
Claro que os sábios são do Benfica. Mas a força deste grande clube está nos milhões que são benfiquistas apesar do Benfica, apesar do futebol, e apesar deles próprios.
Em contrapartida, aposto que a totalidade de pessoas que são do Sporting ou do Porto, por infortúnio pessoal ou deficiência psicológica, são sócios.
A força do Benfica, meus amigos, está em quem não paga as quotas, que não vai a jogos, quem não sabe o nome dos avançados - isto é, no resto do mundo.
O Benfica, é o Benfica.
E o que tem de ser - e é - tem muita força.»

Miguel Esteves Cardoso
("O Benfica")


bventana

A essência pressentida

O poema em forma de roseira brava



brvtana

Os intemporais



«A sociedade já não é o que foi, não pode tornar a ser o que era, mas muito menos ainda pode ser o que é, o que vai ser só Deus sabe.»

Almeida Garrett



crisdovale

20.10.06

O golpe do Teatro Plástico



« (JPP)
LENDO
VENDO
OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 20 de Outubro de 2006
No Público de hoje dizia Francisco Alves, o director da "Rivolução": "Fomos tratados de forma pidesca, com requintes de desumanidade. Mas se somos os perigosos delinquentes que nos querem fazer parecer, por que é que fizeram isto às 6h00 da manhã, nas costas da opinião pública e dos jornalistas?". Uma daquelas frases que dizem tudo: primeiro, que não sabem o que foi a PIDE; segundo, que não sabem o que é uma "desumanidade"; terceiro, que o que lhes correu mal foi não estar lá a televisão nem os jornalistas para mostrarem as suas qualidades de actores. As duas primeiras, revelam mau teatro, um branqueamento da PIDE insultuoso para quem sabe o que é a "forma pidesca" de tratar alguém. A terceira, a obsessão pela visibilidade televisiva como maneira de transpor o enorme fracasso de adesão à causa que torna irónicas todas as alusões à "opinião pública". Mas há um agradecimento a fazer ao Teatro Plástico: deram o pior golpe à "cultura" subsidiada de que me recordo nos últimos tempos. A "opinião pública" felizmente percebeu-os.»

J. Pacheco Pereira


crisdovale

19.10.06

O segredo da importunidade


«Todo o português popular é um reformador impaciente. Não há atitude que não avalie, serviço que não comente, governança que não desconheça, ingratidão que não ouse, para maior desembaraço das suas aptidões. Estas podem não ser famosas, mas constituem a soma dum profundo sentido de perseverança e de sacrifício. Quando o mundo se super-humanizar, lá estará o português para achar natural o que acontece, e portanto necessitado de reforma, e por conseguinte de diálogo. O último homem sobre a terra terá de ser um português que duvida do que é natural e que se indisciplina perante a consumação dos séculos.

Há raças mais dinâmicas, outras mais brilhantes; mas nenhuma outra possui o segredo da importunidade que estimula, desassossega, altera, contradiz e, no entanto, não chega a ser violência. Dizei-lhe que a vida é um dom, que o trabalho é uma honra, que o homem é uma criação maravilhosa - e ele, ou vos acha hipócritas, ou ocos e delirantes. Os princípios «a piori» não lhe merecem respeito, e prefere analisar os seus pequenos problemas quotidianos, a obstinar-se na seriedade ou atrofiar-se na eloquência que é a mãe da burla. Ele sabe que a pior injúria é enobrecer a desgraça. Ele sabe que a pior opressão é dar rosto prazenteiro às realidades sinistras.»

Agustina Bessa-Luís



crisdovale

The Cuban Missile Crisis, October 18-29, 1962


«President Kennedy conducted his affair with great skill, energy, resourcefulness anda courage. He answered the communists with their own weapons - for they always use several and even divergent means to secure their ends. (a) He played a firm military game throughout - acting quickly and being ready to act as soon as mobilised ... (b) He played the diplomatic card excellently. The european and other Allies had no real grievance about non-consultation... (c) He played the United Nations admirably.....
Altogether the President did wonderful well...»
Harold Macmillan
At the end of the day, 1973



The Cuban Missile Crisis, 1962: A Political Perspective After 40 Years

crisdovale

18.10.06

Um fio de asas





Quando penso no mar, o mar regressa
A linha do horizonte é um fio de asas
E o corpo das águas é luar;

De puro esforço, as velas são memória
E o porto e as casas
Uma ruga de areia transitória.


Vitorino Nemésio

guidosarraza

A pedra de toque


«Compreender não é procurar no que nos é estranho a nossa projecção ou a projecção do nossos desejos. É explicar o que se nos opõe, valorizar o que até aí não tinha valor dentro de nós. O diverso, o inesperado, o antagónico, é que são a pedra de toque dum acto de entendimento. Ora o Alentejo é esse diverso, esse inesperado, esse antagónico.»
Miguel Torga


crisdovale

Causado pelos consumidores

«Uma desgraça raramente vem sozinha. O dr. Manuel Pinho tem um secretário de Estado para a Energia e a Inovação que atribuiu o aumento de 16% na electricidade, no próximo ano, ao mau desempenho dos consumidores. Segundo este senhor, de nome Castro Guerra, existe um "défice" que tem que ser colmatado com o dito aumento, défice esse causado pelos consumidores. A EDP, a empresa que distribui a energia eléctrica que eu preciso, quer eu queira, quer não (não há outra), é gerida pelo dr. Mexia, um amigalhaço dos drs. Pina Moura e Santana Lopes. Tem lucros colossais. E agora, com o beneplácito do sr. Guerra e com a esfarrapada conversa da "concorrência", do "mercado e da "entidade não sei de quê", espreme-se o nefando cliente nos termos enunciados. Eu sei que não é o governo a determinar esta chulice. Todavia, convinha que o primeiro-ministro - já que estamos a falar de um ministério politicamente incapaz - pudesse evitar estes pronunciamentos idiotas. Porque, em última análise, é directamente a ele que tudo vai parar, mais tarde ou mais cedo. Como uma espécie de corrente eléctrica.»

(in portugaldospequeninos)


crisdovale

Em cima do jogo



O tenista britânico Andy Murray serve no jogo frente ao croata Ivan Ljubicic, a contar para o torneio de Madrid do circuito profissional de ténis. Foto: Bernat Armangue/AP
Publico online-18.10


crisdovale

Linha directa

Pequim desafia Lisboa a propor projectos de cooperação conjunta em África


crisdovale

Deixa considerar miudamente




«Ao estilo sublime contrapomos o estilo simples ou humilde.

Assim como as coisas grandes devem explicar-se magnificamente, assim o que é humilde deve-se dizer com estilo mui simples e modo de exprimir mui natural.

As expressões do estilo simples são tiradas dos modos mais comuns de falar a língua; e isto não se pode fazer sem perfeito conhecimento da dita língua.

Esta é, segundo os mestres da arte, a grande dificuldade do estilo simples.

Fácil coisa é a um homem de alguma literatura ornar o discurso com figuras; antes todos propendemos para isso, não só porque o discurso se encurta, mas porque talvez nos explicamos melhor com uma figura do que com muitas palavras.

Pelo contrário, para nos explicarmos naturalmente e sem figura, é necessário buscar o termo próprio, que exprima o que se quer, o qual nem sempre se acha, ou, ao menos, não sem dificuldade, e sempre se quer perfeita inteligência da língua para o executar.

Além disto, as figuras encantam o leitor e impedem-lhe penetrar é descobrir os vícios que se cobrem com tão ricos vestidos.

Não assim no estilo simples, o qual, como não faz pompa de ornamemtos, deixa considerar miudamente os pensamentos do escritor...»


Luis António Verney


brunoventana

17.10.06

De tempo e água



Olhar o rio que é de tempo e água
E recordar que o tempo é outro rio,
Saber que nos perdemos como o rio
E que os rostos passam como a água.



jorge luis borges



brventana

Velocidade em si mesma



«Tudo muda quando o homem delega a faculdade da velocidade numa máquina: a partir de então, o seu próprio corpo sai do jogo e ele entrega-se a uma velocidade que é incorpórea, imaterial, velocidade pura, velocidade em si mesma, velocidade êxtase.
Curiosa aliança: a fria impessoalidade da técnica e as chamas do êxtase.»

Milan Kundera


guido sarraza

Bon chic bon genre

Bebe como os tigres bebem, furtivamente.
Lawrence Durrel



guido sarraza

Tesa de frescura









Ao Zé Cardoso peço uma miúda
com um toque de chiado ou de grandella
às nove e duas pernas da manhã,
que, como o peixe, tesa de frescura,
tenha perdido a escama de donzela,
mas não venha falar-me do Vailland...



Alexandre O`Neill
(Dispersos-Nov.1962)


bvtana

Celtic park, 19.45














In boca al lupo...

Crepe´il lupo !




brunoventana

Incertezas da vida







Faróis distantes,
De luz subitamente tão acesa,
De noite e ausência tão rapidamente volvida,
Na noite, no convés, que consequências aflitas!
Mágoa última dos despedidos,
Ficção de pensar ...

Faróis distantes ...
Incerteza da vida ...
Voltou crescendo a luz acesa avançadamente,
No acaso do olhar perdido ...

Faróis distantes...
A vida de nada serve ...
Pensar na vida de nada serve ...
Pensar de pensar na vida de nada serve ...

Vamos para longe e a luz que vem grande vem menos grande.
Faróis distantes ...

Álvaro de Campos



brunoventana

The ability








A politician needs the ability to foretell what is going to happen tomorrow, next week, next month, and next year. And to have the ability afterwards to explain why it didn't happen.
Sir Winston Churchill


crisdovale

O delito fica impune


"A literatura é uma arte predadora. Ela aniquila o real de forma simbólica, substituindo-o por uma irrealidade à qual dá vida fictícia, com a fantasia e as palavras, um artifício armado com materiais sempre saqueados à vida.

Mas geralmente esta operação é discreta, e frequentemente inconsciente, pois quem escreve rouba e pilha - e manipula e deforma - o vivido, a experiência real, mais por instinto e intuição do que por deliberação consciente; logo, a sua arte, a sua feitiçaria, a sua prestidigitação verbal estendem uns véus impenetráveis sobre o furtado. Se tiver talento, o delito fica impune."


Mario Vargas Llosa


crisdovale

Blairismo à transmontana


"Aceitava os agradecimentos com uns ares de modéstia, última demão que faltava ao esplendor de tantas maravilhas"
Camilo Castelo Branco





"Uma coisa é certa: o partido socialista mudou radicalmente. Já não é o mesmo de há cinco ou dez anos. Não se sabe o que será ou virá a ser. Mas já não é o que era. Se pensarmos que grande parte dos organismos agora extintos foi criada por eles e que muitas das decisões anti-burocráticas agora anunciadas visam procedimentos inventados por eles, logo perceberemos que o partido já não é o mesmo. Do passado recente, de Guterres em particular, herdou e ampliou o talento para a propaganda e uma inclinação muito especial para considerar, com afecto, as relações entre o Estado e alguns grandes grupos económicos e financeiros. A Cavaco Silva foi buscar a energia para combater grupos profissionais, associações e funcionários públicos. Por si, inventou uma pulsão destruidora do Estado socialista. Eis que merece atenção."
Antonio Barreto
publico-2.4


crisdovale
(Vd. Blairismo à transmontana)

16.10.06

Por conta da Lua

«O sr. Peres Metelo, na TVI, distinguiu "trabalhadores por conta de outrem" dos "funcionários públicos", como se estes trabalhassem por conta da Lua. E foi extremamente claro. Para os primeiros, melhorias no OE aprovadas pelo propagandista, perdão, comentador. Para os segundos, piorias no OE, igualmente apoiadas pelo mesmo comentador.(...)»

in Portugal dos Pequeninos


crisdovale

"Povo" genuíno




« (JPP)
LENDO VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS
de 16 de Outubro de 2006
Será que se eu juntar quarenta pessoas para protestar (e garanto que não preciso sequer de um partido), contra a televisão pública ou a "cultura" subsidiada, por exemplo, o evento passa em todos os telejornais com tanto tempo como os protestantes (a maioria do Bloco de Esquerda) junto do Rivoli, com directos e entrevistas, tenho o ministro respectivo logo disposto a receber-me, sou tratado com benevolência como "povo" genuíno e ninguém me tira de dentro do estúdio principal, caso o ocupe impedindo a emissão? Duvido.»

in Abrupto


crisdovale

Os livros de antigamente

«(...) Numa parte remota da minha cabeça, admito que devia aprovar a ignorância e a vulgaridade democrática. Infelizmente, não sou capaz. Desisto e leio. De facto, cada vez mais releio os livros de antigamente, suponho que à procura de um pequeno canto de sossego e sanidade.(...)»


crisdovale

15.10.06

Aventuriers

















A nous dix, nous prîmes la ville ;
- Et le roi lui-même! - Après quoi,
Maîtres du port, maîtres de l'île,
Ne sachant qu'en faire, ma foi,
D'une manière très civile,
Nous rendîmes la ville au roi.


Victor Hugo


guidosarraza

A História tranquila

Sua Majestade Imperial visitou o Sr. Alexandre Herculano. O facto em si é inteiramente incontestável. Todos sobre ele estão acordes, e a História tranquila.
No que, porém, as opiniões radicalmente divergem - é acerca do lugar em que se realizou a visita do Imperador brasileiro ao historiador português.
O "Diário de Notícias" diz que o Imperador foi à mansão do Sr. Herculano.
O "Diário Popular", ao contrário, afirma que o Imperador foi ao retiro do homem eminente que... O Sr. Silva Túlio, porém, declara que o Imperador foi ao Tugúrio de Herculano; (ainda que linhas depois se contradiz, confessando que o Imperador esteve realmente na Tebaida do ilustre historiador que...)
Uma correspondência para um jornal do Porto afiança que o Imperador foi ao aprisco do grande, etc.
Outra vem todavia que sustenta que o Imperador foi ao abrigo desse que...
Alguns jornais de Lisboa, por seu turno, ensinam que Sua Majestade foi ao Albergue daquele que...
Outros, contudo, sustentam que Sua Majestade foi à solidão do eminente vulto que...
E um último mantém que o imperante foi ao exílio do venerando cidadão que...
Ora, no meio disto, uma coisa terrível se nos afigura: é que Sua Majestade se esqueceu de ir simplesmente a casa do Sr. Alexandre Herculano!

Eça de Queirós


crsdovale

O poder ser



















Que jaz no abismo sob o mar que se ergue?
Nós, Portugal, o poder ser.
Que inquietação do fundo nos soergue?
O desejar poder querer.


Fernando Pessoa


brunoventana

Desgraçadamente, até sabe...

"Não sei se Timor é um Estado viável."

D. Basílio Nascimento
Publico-15.10



crisdovale

O mestre das escaramuças

«O primeiro-ministro tem jeito. Talvez mesmo talento e intuição. Decidiu, desde o primeiro dia, surpreender e tomar a iniciativa. Nunca ir atrás do acontecimento, mas provocá-lo. Para tal, escolheu um método: designar o adversário, denunciar um privilégio, tomar uma medida e atacar com a lei.
(...)
O mestre das Escaramuças especializou-se em raides súbitos. Não parece preparado para grandes batalhas. Mas esperemos. (...)»

António Barreto
Publico-15.10



crisdovale

14.10.06

Leiria, 21.15



In boca al lupo...
Crepe´il lupo !





bruno ventana

Sol de pouca dura




Faz o Expresso parecer um jornal mais sério, mais arrumado e apresentável. Tudo indica que temos Sol de pouca dura.
Ainda assim, a manchete do Expresso sobre Condoleezza Rice podia ser a de uma folhinha juvenil. É muito cândida...


crisdovale

... que o tempo parasse

"(...) Uma recusa romântica. Mas nunca propõem nada com uma relação ainda que vaga com a realidade. Gostavam que o tempo parasse, um desejo que se compreende. Infelizmente o tempo não pára. (...)

V. Pulido Valente
Publico-14.10



crisdovale

Disclaimer

«The illegal we do immediatly.
The inconstitutional takes a little bit longer.»

Henry Kissinger



crisdovale

13.10.06

I think it´s a damned bore


«Wavering and doubtful, he spoke his thoughts aloud to Tom Young. "I think it´s a damned bore", he said. "I am in many minds as to what to do."
"Why, damn it all", answered Young, "such a position was never held by any Greek or Roman: and if it only last three months, it be worth while to have been Prime Minister of England".
There are moments when a air will turn the balance; " By God, that´s true", exclaimed Melbourne. "I´ll go!".


(William Lamb, Lord Melbourne, conversation with a friend after knowing King Wiiliam IV invitation to become Prime Minister, in "Lord M." by David Cecil)


brunoventana

É um copo de vinho

Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.


Antonio Ramos Rosa



cristovaodovale

Um português dos grandes

«... Soares referiu-se a um "défice de presidência" enquanto citava uma frase da obra que, disse, poderia aplicar-se ao momento político que se vive em Portugal.»
Publico Online - 13.6


"A inveja não é você querer o que o outro tem (isso é a cobiça), mas querer que ele não tenha, é essa a grande tragédia do invejoso", explicou Zuenir Ventura, mas o pior é que, como bem apanhou Bacon, "a inveja é uma paixão calaceira, isto é, passeia pelas ruas e não fica em casa".


crisdovale

Hello

It is generally agreed that "hello" is an appropriate greeting, because if you entered a room and say "goodbye", it could confuse a lot of people.

Dolph Sharp



crisdovale

Os intemporais

O dinheiro não traz a felicidade, mas acalma os nervos.
Joe Louis



guido sarraza