31.12.06

Caminante


Os tempos mudavam
no devagar depressa dos tempos
Guimarães Rosa

Ainda somos o que vamos deixar de ser e já somos o que seremos
Paul-Eugéne Charbonneau

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades

Luis de Camões



Salute
Às correntes clandestinas, aos desejos e nostalgias, aos perigos e paixões. Que confluam vorazes nos signos de cada qual, pois desatá-los, um a um, desatá-las, uma a uma, é o sal de toda a vida.
Seja como for, atravessamos para 2007, como o fizemos para outros atrás, com António Machado:

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino,
sino estelas en la mar.



bruno ventana

Os melhores votos

Os melhores votos para um ano novo: cheio de perigosas tentações.


guido sarraza

Meio de comunicação que aproxima

Bloga, logo existe. Com aplomb.


Com um abraço
Cristóvão do Vale

Memorandum


O tempo não existe. Há o presente, a memória, mas o tempo não.
François-Paul Journe


guido sarraza

30.12.06

The art of conversation


Chattering classes
The rules for verbal exchanges are surprisingly enduring


brunoventana

Os intemporais

O segredo do demagogo é fazer-se passar por tão estúpido quanto a sua plateia, para que esta pense ser tão esperta quanto ele.
Karl Kraus


crsdovale

Sempre inteira



Êxtase

Terra, minha medida!
Com que ternura te encontro
Sempre inteira nos sentidos,
Sempre redonda nos olhos,
Sempre segura nos pés,
Sempre a cheirar a fermento!
Terra amada!
Em qualquer sítio e momento,
Enrugada ou descampada,
Nunca te desconheci!
Berço do meu sofrimento,
Cabes em mim, e eu em ti!


miguel torga
Monforte do Alentejo,
28 de Dezembro de 1968


bvtana

A opinião pública



«(...) Ramalho fez-me a honra insigne de approximar o meu nome do de Turgot; e se recordo o paralelismo assim feito das nossas situações, é só para frisar que, se Luis XVI, aliás bondoso e sincero, abandonou o seu ministro, cedeu às pressões da corte, e às próprias illusões e preconceitos - El Rei D. Carlos caminhou até à morte, do mesmo passo firme, convicto e deliberado.
N`uma das suas cartas escrevia: "Eu bem sei que seria mais fácil , e menos penoso para nós, o tratar de agradar a todos; mas espero também que um dia a opinião pública, que felizmente não é sempre a opinião que se publica, saberá fazer-nos justiça." (...)»

João Franco Castello-Branco
(in "Cartas D`El-Rei D. Carlos"
Livrarias Aillaud e Bertrand-1924)


bventana

Weights and measures of their own






«A politician`s character and position are measured in his day by party standards. When he is dead, all that he achieved in the name of party is at an end. The eulogies and censures of partisans are powerless to affect his ultimate reputation. The scales wherein he was weighed are broken. The years to come bring weights and measures of their own.»

Winston Churchill
on his father Lord Randolph Churchill



bventana

Com grande perfeição




«O que a voz não pode exprimir juntamente em diferentes lugares e a diversas pessoas em um mesmo tempo, o faz a escritura com grande perfeição...»

Francisco Roiz Lobo


guido sarraza

Vida e morte na TV

Diante do espectáculo televisivo desta madrugada, vem à memória uma observação de Karl Kraus:

«When someone behaves like a beast, he says: 'After all, one is only human.' But when he is treated like a beast, he says, 'After all, one is human.'»


crisdovale

Em todos os sentidos, um erro

Judge: Hussein hanging imminent
Saddam's execution 'is imminent'

Um erro monumental, além do resto. O resto, aliás, é a civilização.
Será que a mensagem vai ser entendida?

adenda: 30 December 2006, 03:21 GMT
Saddam Hussein 'executed in Iraq'


crisdovale


Os desqualificados

«O CDS está a oferecer um espectáculo de irremediável irresponsabilidade aos portugueses. O braço-de-ferro que se arrasta entre a direcção do partido e o grupo parlamentar desacredita por completo uma das quatro grandes forças políticas fundadoras da nossa democracia.
O inédito apelo - nada natalício - feito por alturas do Natal pelo presidente da bancada parlamentar, Nuno Melo, ao regresso de Paulo Portas, humilhando na praça pública o actual líder do partido, Ribeiro e Castro, desqualifica quem o produziu. E também desqualifica quem o mantém em funções. Para o bem e para o mal, Ribeiro e Castro foi sufragado em dois congressos pelas bases do partido. Nuno Melo - como outros - teve oportunidade de o contestar nesse palco, mas sem sucesso visível. Não admira: nas legislativas de Fevereiro de 2005, que deram a primeira maioria absoluta ao PS, não houve apenas um derrotado, chamado Pedro Santana Lopes. Houve outro, chamado Paulo Portas. É bom que a memória não se perca em nome dos efeitos mediáticos do momento.(...)»
Pedro Correia-Dn,30.12


crisdovale

?!

Hezbollah suspeita de Luís Amado
O movimento radical libanês suspeita da identidade dos passageiros do Falcon português que transportou o ministro dos Negócios Estrangeiros de Telavive para Beirute e sugere um suposto envolvimento de Portugal no atentado que matou o ministro libanês da Indústria, Pierre Gemayel.
(Expresso-30.1)


crisdovale

29.12.06

Os intemporais


Cada uno es como Dios le hizo, y aun peor muchas vezes
Miguel de Cervantes Saavedra


guidosaraza

Lances de dicacidade amarga



«Nas polémicas camilianas de móbil religioso ou erudito o factor pitoresco do adversário prime sobre as razoadas razões que pudesse haver contra o próprio. E basta um trocadilho, como feito com os verbos deputar e delegar aplicados a certa atitude de um publicista brasileiro, para que Camilo conquiste abusivamente a sua galeria de leitores, muito mais empenhados em ver uma luta de galos do que em derimir a verdade entre dois contendores de boa fé. Por isso a imagem de "carvalho cerquinho" do cacete estadeado pelo escritor ficou como símbolo da sua acometividade polémica, e o grosso epíteto – "descompassada besta" – como a chave do êxito dos seus lances de dicacidade amarga.»

Vitorino Nemésio


Guido Sarraza

On exagère!


«Quando o Duque de Guermantes descia as escadas do seu “ hôtel particulier” para ir a um grandioso baile de máscaras a que fazia muita questão de ir, uma das tias gritou-lhe do andar de cima:

- Basin, le pauvre Amanian vient de mourir il y a une heure!”

O nosso personagem, horrorizado com a perspectiva de trocar um baile por um velório, respondeu:

-Il est mort! Mais non, on exagère, on exagère ! »

Marcel Proust



brvtana

A inclinação certa



De l'aphorisme obscur retiens la possible étincelle.
Yves Broussard

guidosarraza

Harmonizar os portugueses com os ritmos e os ciclos

"Reportório útil a toda a gente"


«Bússola de Portugal, contribuindo para a harmonização dos portugueses com os ritmos cósmicos, os ciclos agrícolas, religiosos e civis e a sabedoria, sempre foi a função e a aspiração do Borda d´Água.»

crisdovale

Sob a égide de Sampaio

«Um documento da Comissão Europeia indica Portugal aos países que vão aderir ao euro como o exemplo a não seguir. O que fez Portugal? Aproveitou a descida das taxas de juro para consumir o que não podia. Criou uma dívida extravagante, interna e externa. E o Estado gastou o que tinha e o que não tinha em despesas correntes, nomeadamente em centenas de milhares de novos funcionários, sem utilidade e sem futuro. O responsável por tudo isto foi o Partido Socialista de António Guterres (...)»
Vasco Pulido Valente - publico-29.12


crisdovale

É notável




Eusébio Furtado

Mais dos "verosímeis"

Viagem aos subterrâneos do sistema:
Árbitros beneficiados para ajudarem clubes


crisdovale

Caminos


Para qué llamar caminos
a los surcos del azar?

Antonio Machado


guidosarraza

28.12.06

Boas obras de 2006


Portugal como problema
6 volumes
Pedro Calafate / José Luís Cardoso (org.)
(Fundação Luso-Americana
e PÚBLICO)


Em resposta a um desafio lançado pelo Prof. Luis Valente de Oliveira, o Prof. Pedro Calafate explicou-se:
«Portugal é, efectivamente, um "problema", no sentido mais profundo do tema, pelo que importa que nos estudemos sob esse ângulo, sublinhando, como Fernando Pessoa, que "a análise de um problema, para o compreender, não é igual à análise do mesmo problema para aplicar à prática a sua solução. Compreender envolve esmiuçar o mais possível; resolver envolve simplificar". Este trabalho situa-se, portanto, no primeiro dos dois planos esboçados por Pessoa, que é, não obstante, uma condição importante para perspectivarmos a "resolução", que não se esgota em fórmulas universais, com abstracção da substância dos homens»


crisdovale

A figura de 2006




Chegou o Presidente

«A cerimónia é o poder. Anteontem, a cerimónia exibiu e estabeleceu o poder. Tudo se passou como se Cavaco Silva já fosse o Presidente. Saiu de casa popular e humilde, no meio de um pequeno ajuntamente amigável. Acompanhado pelo seu primeiro ajudante-de-campo, almoçou numa sala solene e vazia, com o mandatário nacional e o mandatário da juventude, ou seja, face a face com os representantes do povo soberano.

Entrou, com escolta, no Centro Cultural de Belém, o seu monumento.
Precisamente à hora marcada, sózinho, sem um político à vista, falou ao país.
Depois, condescendente, respondeu, pela pura forma, a algumas perguntas que as televisões lhe fizeram.
E voltou para casa, cercado por um cordão de guarda-costas, que abriam entre ele e a multidão a devida distância.

Do princípio ao fim, nao houve um sinal de candidatura, houve um exercício de investidura.
Um exercício tão impressionante que, tirando Soares (que escapou por acaso ou instinto), os outros candidatos aceitaram inconscientemente o vexame de se pronunciar, em pessoa e em publico, sobre as declarações do príncipe; e mesmo Soares permitiu em seu nome um comentário inepto, intinidado e reverente.

A campanha não vai ser uma campanha, vai ser, como compete, uma progressão triunfal.

No discurso, Cavaco também disse o que diria um Presidente.
Antes de mais que era movido por "um imperativo de consciência", pelo estado da nação e pelo seu direito natural a emendar o presente e a salvar o futuro.
A seguir, que estava acima de considerações de partido ou de interesse, ambição ou vaidade. E, por último, como é óbvio, que tencionava respeitar a lei.

Cavaco não se candidata contra ninguèm, no fundo nem se candidata, cumpre o seu dever.

Eleitoralmente, e porque não se aboliu essa formalidade, Cavaco encostou a esquerda à parede e usurpou o estatuto que teoricamente caberia a Soares.
Quem o achava um amador, rodeado por amadores, levou uma lição de profissionalismo e de agilidade táctica.
Agora ele não precisa de provar que o país lhe deve dar a presidência.

Jerónimo, Louçã, Alegre e Soares, quando pararem de se roer e agredir, é que precisam de provar que o país não lhe deve dar a presidência. Esse quarteto de facciosismo e hostilidade mútua caiu redondamente na oposição, ainda por cima numa oposição pouco saborosa e pouco admirável.
E não tem para onde ir.

Chegou o Presidente.»
Vasco Pulido Valente - publico-22.10


crisdovale

Ainfield Road, Março de 2006



Os golos de 2006: por Simão Sabrosa e Fabrizio Miccoli


bruno ventana

27.12.06

O poder do silêncio



O poder do silêncio está no segredo.
Clarice Lispector conta-o.

guido sarraza

Os exemplares

Portugal é exemplo negativo para os futuros membros da Zona Euro

Portugueses gastaram mais 11 milhões por dia

Já em 1890, Rocha Peixoto reparava que o forno não estava para bolos:

«Um povo pode ser, por índole, sentimental e triste, por fatalidade étnica, indolente, por causa patológica, pouco inteligente. Parvo, a esta altura do século, é que não.

Não se altera artificialmente o cunho antropológico que define uma raça, nem o seu meio, nem o seu clima; corrige-se-lhe todavia as manhas e os vícios. E que cada um comece este trabalho de per si (...)» (in O cruel e Triste Fado)

crisdovale

"Quadro de miséria"




Em Gaia, Menezes (ao centro) - presidente da edilidade e ex futuro presidente do PSD (e logo candidato a primeiro-ministro), ladeado pelo inefável Marco António (esse baluarte da social democracia) e pelo irrepreensível José Guilherme Aguiar (esse paladino da credibilidade do futebol).

Um verdadeiro "quadro de miséria"!

Como é que alguém acreditou que Luís Filipe Menezes alguma vez poderia ser mais do que presidente da câmara de Gaia? (a começar pelo próprio...)


B. Pinheiro

Prosa com cheiro de madeira a arder em noite fria


... foi entroncamento de múltiplos destinos e vidas, desta velha Pátria.
Desta que só conseguimos sentir com o azeite da vida e pela candeia de Herculano:
"A Pátria não é a terra; não é o bosque, o rio, o vale, a montanha, a árvore, a bonina: são-no os afectos que esses objectos nos recordam na história da vida...."

Alexandre Herculano
O Pároco da Aldeia


bventana

Mais dos "verosímeis"

'Os árbitros temiam Pinto da Costa e Valentim'

Valentim e Pinto da Costa suspeitos de pressões


crisdovale

26.12.06

Recomendações e propósitos

Refrear a sanha e amansar o inchaço da soberba, que o soberboso do alto vai descendo.
A desordenada cobiça, a avareza ou a mostrança de sobrançaria bom resultado não dão, que os sujeitos, de sua natureza, são inferiores aos corpos celestes.
Quem guloso esbulhar de mantimentos os amigos, vai-lhe sobejar o couro em cima da atadura.
Isto, porque já lá vem no Hissope, (VII p. 97, ed. de 1911) :

"E, como quem um copo bebe d´agua
De café, chocolate, chá, sorvete,
D´um trago beberá toda uma pipa"



guido sarraza

Em frases!

“A história íntima do passado, sobretudo da corte, ganha muito em ser escrita por uma plume de gentilhomme.”
E. de Queirós


Eça de Queirós ao preparar, em 1888, a partir de Paris, o primeiro número da sua Revista de Portugal e, querendo a colaboração do Conde de Sabugosa, escreveu-lhe em 31 de Outubro:

“ Quer você, meu caro Conde de Sabugosa, ser desta panelinha de alta literatura?
Os deveres que se lhe impõe são ligeiros – um fino e burilado artigo de vez em quando, alguma graciosa estrofe aqui e além, muita amizade pela revista e alguma pelo seu director.
Por seu turno, a revista, essa, imprime o artigo e a estrofe no melhor tipo que a Inglaterra funde, sobre o melhor papel que a Alemanha fabrica; e respeitosamente resvala na mão do autor um punhado de ouro!
Voilá! É como a mesa do Tavares ou Bragança – com a diferença do champagne extra-dry não ser servido em copos, mas em frases!”


BrunoVentana

Adiafa da Festa


Temos todos duas vidas: a verdadeira, que é a que sonhamos na infância; e a falsa, que é a que vivemos em convivência com os outros.

Fernando Pessoa


brunoventana

Por la misma rázon

Sustento en fin lo que escribi y conozco
Que aunque fuera mejor de otra manera,
No tuvieran el gusto que han tenido
Por que as veces lo que és contra el justo
Por la misma rázon deleita el gusto.

Lopo de Vega
Arte Nueva de Hacer Comedias


bvtana

O dia pede peixe

Depois de perús e cabritos, o dia pede peixe. Só com o sal que o mar nos dá,
sem molho e muito vivo


bventana

O escritor português (também) deste ano

É uma figura a sério.
Vale a pena ler sobre ele.
Não tem pinga do marxismo no seu intelecto.

bvtana

24.12.06

Com visco e azevinho

“Tout juste pour meubler le silence”
G. Simenon


Pelos fins de Dezembro, vem a pêlo dar uma palavrinha de Natal.

Ao canto do lume, ao rigor de uma moda antiga.
Navegando aos longes, para trás e para diante, à uma de memória, à outra de vislumbre.
Com a lembrança dos lugares que a gente amou da vez primeira, vamos então à canção do diabo:


“À barca, à barca, senhores.
Oh que maré tão de prata!
E valentes remadores.
“Vos me venirdes á la mano,
Á la mano me venirdes:
Y vos veredes,
Peixes nas redes…”

(Gil Vicente – auto da Barca do Inferno)

Peixes nas redes e aprumo.

São os votos/Natal/2006 da MinhaRicaCasinha



brunoventana

Fato profugus

“He was the kind of man who was ready for anything, who hoped for nothing…”
yves simon



«O deserto não é a ausência.
É o estado anterior à presença, antes da travessia dos nómadas, antes da paragem dos aventureiros...

Donde vem esta nostalgia que trazemos connosco, que dá por vezes o sentimento de termos perdido a parte de imensidão que é nossa....

Haverá um espaço perdido, que pode ressurgir ao sabor dos nossos confrontos com as imensidões que cruzamos, o céu, os oceanos, os desertos, a noite...

Trará o código genético, além dos testamentos, o vestígio de uma viagem sem limites através dos esconderijos do universo...

Há nestes impulsos misteriosos para espaços infinitos, a marca de um esforço para o reencontro com uma imensidão dantes conhecida e, depois, desaparecida...

A vida seria então a construção de um invólucro que desamarra do mundo uma parcela de infinito, para lhe dar um peso, um lugar, um princípio e um fim.»
*



«Os desertos da Líbia... as mais belas palavras que conheço. Líbia, uma palavra sensual, arrastada, uma nascente secreta... era uma das poucas palavras em que se ouvia a língua virar uma esquina... um homem será como rios de água na areia seca.

Vivi durante anos no deserto, e acabei por acreditar nestas coisas. É um lugar de recessos. O trompe l´oeil do tempo e da água. O chacal com um olho voltado para trás e outro posto no caminho que pensamos tomar. Traz nos dentes pedaços do passado que nos depõe aos pés e quando todo esse tempo se nos revela verificamos que já o conhecíamos.

No deserto, um homem pode agarrar a ausência na concha das mãos, sabendo que tem nela um alimento mais precioso que a água.

Estes homens de todas as nações viajam ao cair da tarde, pelas seis horas, quando reina a luz dos solitários.»
**

*Yves Simon (the wondrous voyager)
** Michael Ondaatje (the english patient)



guidosarraza

Distância interior

As alianças na terra são sérias. Vamos então até à terra, minha aliada.


guido sarraza

Breve sumário

Breve sumário da história de Deus

Adorai, montanhas,
O Deus das alturas,
também das verduras.

adorai, desertos
e serras floridas,
o Deus dos secretos,
o Senhor das vidas.
Ribeiras crescidas,
louvai nas alturas
Deus das criaturas.

Louvai, arvoredos
de fruto prezado,
digam os penedos:
Deus seja louvado!
E louve meu gado,
nestas verduras
o Deus das alturas.

Gil Vicente



brunoventana

É um povo de cais e fado


«Corvos santificados, mártires à maré e doutores heréticos a receitarem milagres, espécies destas só em Lisboa. É um povo de cais e fado a cavalo dum diabo complacente, a gente que aqui se faz. Por isso, o à-vontade com que se junta na mesma cama o pecado com a virtude e o engenho com que sabe por uma vírgula burlesca numa estória de má sina. Por pudor é capaz de dizer amizade em insulto enternecido, por desdém agride à maneira de elogio: "Chico esperto, mãozinha bruxa", chama ele ao traficante desalmado. No entre-suspeito ouve de manso, pois sim, está bem abelha, e fala pianinho para prevenir e aclarar. Mas se o caso não entra nos acertos é capaz de perder a paciência e então, "gatos ao mar", arranca em discurso de finalmente.(...)»

José Cardoso Pires


crisdovale

23.12.06

Este algarvio






« (...) Goste-se ou não do seu estilo formal e rígido, em Cavaco Silva sempre conviveram a inteireza de carácter e a clareza de princípios, a determinação e o rigor. Esperar uma transfiguração na chefia do Estado releva da mais pura cegueira política que nove meses de mandato provaram, em alguns casos, ser terminal.
Os erros de avaliação sobre Cavaco Silva não têm sido um exclusivo da direita ou da esquerda festiva, aquela que clamava no rescaldo eleitoral "vem aí o fascismo". Também no PS, acalmados os receios de uma coabitação tempestuosa, há quem tenha embarcado na tese de que a cooperação estratégica do Presidente era afinal uma cumplicidade interesseira com o primeiro-ministro para um apoio socialista à recandidatura em 2011.
A entrevista televisiva de Novembro constituiu para os analistas da moda, mais uma vez, puro engano. Assim como Cavaco desiludiu os "cobradores" da factura eleitoral, é bem possível que venha igualmente a defraudar as expectativas dos que agora vêem nele um subscritor do programa do Governo.
Este algarvio de 67 anos tem um programa próprio que o passado e o presente já demonstraram não estar em hasta pública. (...) »

Fernando Diogo
Expresso-revista-23.12


crisdovale

From whence we came



All of us have in our veins the exact same percentage of salt in our blood that exists in the ocean, and, therefore, we have salt in our blood, in our sweat, in our tears. We are tied to the ocean. And when we go back to the sea - whether it is to sail or to watch it - we are going back from whence we came.
John F. Kennedy,
Speech given at Newport at the dinner before the America's Cup Races, September 1962

crisdovale

Natal à beira-rio



É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?


David Mourão-Ferreira


guidosarraza

Os intemporais


O grande mistério não é termos sido lançados aqui ao acaso, entre a profusão da matéria e das estrelas; é que, da nossa própria prisão, conseguimos extrair, de dentro de nós mesmos, imagens suficientemente poderosas para negar a nossa insignificância.
André Malraux

brunoventana

22.12.06

Too readily

Barroso accused of favouritism
José Manuel Barroso, the European Commission president, is facing criticism from some commissioners over what they see as a tendency to cave in too readily to pressure from big member states, in particular France and Germany
(Financial Times)


crisdovale

O campo do possível

"Há coisas conhecidas e coisas desconhecidas; entre elas, ficam as portas"
William Blake


«...eu achei a minha ilha do tesouro. Achei-a no meu mundo interior, nos meus encontros, no meu trabalho. Passar a minha vida com um mundo imaginário foi a minha ilha do tesouro. Claro, é verdade que os mundos que eu visito ao sabor das minhas buscas podem por vezes ser julgados pueris ou inúteis, tão distantes se acham das preocupações quotidianas, mas quando hoje penso naqueles que me acusavam de ser inútil, e no que eles julgavam ser útil, então perante eles, não tenho apenas o prazer de ser inútil, mas também o desejo de ser inútil.»

Hugo Pratt


«Para epígrafe do poema Le Cimitière Marin, Paul Valéry recorrera a estes versos do poeta grego Píndaro:
"Oh minha alma, não aspires à vida imortal, mas esgota o campo do possível."
Assim viveu Hugo Pratt.»
Dominique Petitfaux


guido sarrasa

Teatro português

"(...) Não está permanentemente aberto (o teatro) pela simples razão de que as receitas são mais que medíocres. Os artistas e os directores encontram-se frequentemente uns para com os outros na mesma situação em que o sr. de Talleyrand se achava para com um credor importuno:
- Desejava saber, disse este, quando Vossa Excelência me pagava.
- O senhor é muito curioso, respondeu o Principe. "

Maria Rattazzi
(Portugal de relance)



guido sarrasa

En su pesebre


Atrás el cielo,
atrás la luz y su navaja,
atrás los muros de salitre,
atrás las calles que dan siempre a otras calles.

Atrás mi piel de vidrios erizados,
atrás mis uñas y mis dientes
caídos en el pozo del espejo.
Atrás la puerta que se cierra,
el cuerpo que se abre.
Atrás, amor encarnizado,
pureza que destruye,
garras de seda, labios de ceniza.

Atrás, tierra o cielo.

Sentados a las mesas
donde beben la sangre de los pobres:
la mesa del dinero,
la mesa de la gloria y la de la justicia,
la mesa del poder y la mesa de Dios
—la Sagrada Familia en su Pesebre,
la Fuente de la Vida,
el espejo quebrado en que Narciso
a sí mismo se bebe y no se sacia
y el hígado, alimento de profetas y buitres…

Atrás, tierra o cielo.

Las sábanas conyugales

insomnes,
cubren cuerpos entrelazados,
piedras entre cenizas
cuando la luz los toca.
Cada uno en su cárcel de palabras,
y todos atareados construyendo
la Torre de Babel en comandita.
Y el cielo que bosteza
y el infierno mordiéndose la cola
y la resurrección
y el día de la vida perdurable,
el día sin crepúsculo,
el paraíso visceral del feto.

Creía en todo esto.
Hoy duermo a la orilla del llanto.
También el llanto sirve de almohada.

Octavio Paz


guidosarraza

Elenco

Já temos Gordon Brown


crisdovale

21.12.06

Nova catedral, 20.30






In bocca al lupo...
Crepi il lupo !


bruno ventana

A história e o tempo


















Cavaco Silva



crisdovale

20.12.06

Do meu Doiro transmontano


«Em pintura moderna admiro Picasso, Siqueiros, Orozco e Portinari. Tiro o chapéu a Euclides da Cunha e a Machado de Assis. Gosto de música, particularmente de Bach. Mas do que gosto a valer, é de calcorrear os montes do meu Doiro transmontano e os pauis do Mondego para a caça de perdizes e narcejas.»
Miguel Torga


crisdovale

Escrevo pensamentos



«Numa noite já de despedida do Rio conheci na Avenida de Copacabana uma mulher nova que vendia rendas do Ceará e outras coisas bonitas. Eu estava acompanhada por alguém que, meio a brincar, me apresentou como escritora. E ela disse, logo expansiva e divertida:

“Eu também sou escritora. Escrevo pensamentos, coisas que tenho na idéia sobre José do Egito e a princesa Elisa. Havemos de voltar a falar”.

– Vou-me embora amanhã – disse eu.

– Isso que tem? Nem a viagem ao céu é só de ida »


Agustina Bessa-Luís


guidosarraza

19.12.06

Os intemporais

There are basically two types of people.People who accomplish things, and people who claim to have accomplished things. The first group is less crowded.
Mark Twain

brunoventana

Aprofunda

«O antigo homem de confiança de Mario Soares (Rui Mateus) vai publicar um livro em que aprofunda alguns dos temas tratados nos Contos proibidos-Memórias de um PS desconhecido, de 1996, que apontava alegadas ligações empresariais e financeiras do PS e do seu fundador. O livro deverá abordar, entre outros temas, o facto de o Ministério Público, então dirigido por Cunha Rodrigues, não ter investigado os negócios do ex-PR e do financiamento partidário, na sequência do escândalo do fax de Macau, que envolveu Carlos Melancia.»
(Visão-14.12)



Ainda circulam os aperitivos e eis que se anuncia o plat de resistance.


crisdovale

A direito

Questionado sobre a petição entregue hoje pela Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP/PSP) que pede o direito à greve para os polícias, António Costa foi peremptório.
"Sobre essa matéria, três ideias muito claras: nunca, jamais e em tempo algum", garantiu o ministro da Administração Interna, em declarações aos jornalistas no Parlamento, no final do debate da proposta de lei do Governo sobre imigração

(Lusa-19.12)


Um belissimo exemplo de um entendimento bem explicado.

crisdovale

18.12.06

With his eyes open


He's dreaming with his eyes open, and those that dream with their eyes open are dangerous, for they do not know when their dreams come to an end.
Hugo Pratt


guidosarraza

Buenos aires

«HABRE MIRADO UNOS 2000 BLOGS... ESTE ES LO MEJOR QUE HA VISTO, INDUDABLEMENTE.-EXELENTE.-DA RAZONES A LA VIDA, A TRAVES DE LA POESIA, DEL USO INTELIGENTE DE LOS SENTIDOS, DE LAS OPCIONES DE LA ELECCION...bAH: ES MUY BUENO.-#
posted by soldejusticia»


guidosarraza

Sem chegar



Alentejo

A luz que te ilumina,
Terra da cor dos olhos de quem olha!
A paz que se adivinha
Na tua solidão
Que nenhuma mesquinha
Condição
Pode compreender e povoar!
O mistério da tua imensidão
Onde o tempo caminha
Sem chegar!...



Miguel Torga


guidosarraza

Conselho discreto

Jogos de sorte, jogos de azar...


crisdovale

E não é só...

«O insuportável machismo de muita da nossa comunicação social tem tido dois momentos altos nas últimas semanas: Ségolène Royal e Carolina Salgado. E não é só machismo, é também arrogância social, pedantice, clubismo disfarçado de crítica. A ler Uma mulher do Mal: Carolina Salgado na Natureza do Mal

Via Abrupto


crisdovale

17.12.06

Os intemporais


Democracy is the theory that the common people know what they want and deserve to get it good and hard.
H. L. Mencken


crisdovale

Yes, You

Person of the Year: You

Yes, you. You control the Information Age. Welcome to your world.
From the (Time) Editor: Now It's Your Turn

crisdovale

Muy trefo

«o Portugalete apareceu-me (...) com huma cara de vilãozinho, encarquilhada, muy trefo, tudo penedos escabrozos e montes, sem nenhuma lhanesa, muyta silveiyra e a terra partida aos palmos com suas paredinhas, como quem diz. Isto he meu, não he teu, não me furtes as minhas uvas (...) »


"Fastigimia"de Thomé Pinheiro da Veiga
(in cristovao-de-moura)


bvtana

Para adivinhar o enigma


«(...) Mas para adivinhar o enigma e ouvir a voz da inacessível solidão tem de se ter bem presente que “em ribeiro grande saltar de trás.”»


guido sarraza

Foi assim

"O tempo é a única prova segura de tudo. Não só é o crítico mais severo; é o crítico recto e preciso. Ninguém pode julgar do valor disto ou daquilo num momento, porque só o tempo o pode fazer. O tempo dar-lhe-á o valor que merece (...) "
Alfred Montapert




«Quando preparava a constituição do seu último governo, Sá Carneiro revela a Natália Correia, que o invectivava a não ceder, nunca, ao "canto de sereia" dos tecnocratas:
"Pois acabo de arranjar um para a pasta das Finanças, é jovem e competente, especializado em Londres... se ganhar gosto pela política, do que eu duvido, pode ser um bom líder ".
E, ante o olhar desdenhoso da escritora, acrescenta:
"Chama-se Cavaco Silva, conhece?"»

fernando dacosta
visão-30.11.05


crstovaodovale

Rijo e continuado sentimento


«Os amores no coração fazem mais rijo e continuado sentimento que outra benquerença, por estas razões:

Primeira, por a contrariedade do entender que os contradiz, mostrando de uma parte quanto mal por eles se faz, defendendo que se não faça, e doutra o desejo que muito com eles reina, requerendo com grande afincamento que persevere no que há começado, fazem uma porfia que continuadamente dá grã pena de espírito, afã e cuidado, do que mui amiúde os namorados se queixam, a qual se não pode passar sem rijos sentimentos.

Segunda, porque rijo, desordenado e continuado desejo, ciúmes e vanglória fazem no coração grande sentimento. E porquanto estes reinam mais com amores que com outra benquerença, porém fazem maior sentido.

Terceira, porque assim como dizem as cousas costumadas não fazerem tanto sentir, por esse fundamento aquelas que se abalam convém que o acrescentem.

E pois que os amores nunca dão repouso por fazerem contentar de mui pequeno bem, assim como de uma boa maneira de olhar, gracioso rir, ledo falar, amoroso e favorável jeito, e de tal contrário se assanham, tomam suspeita, caem em tristeza, filhando tão rijo cuidado por uma cousa de nada, como se tocasse a todo seu bom estado, que o não deixa enquanto dura pensar em al livremente, mas como aquele que tem véu posto ante os olhos vê as cousas, dessa guisa ele pensa em todas outras fora do seu fundamento por cima daquele cuidado que lhe faz parecer todas as folganças nada, não havendo aquela que mais deseja.

E se a cobrasse, que tristeza nunca sentiria, o que é tão errado pensamento como bem demonstram muitos exemplos, os quais não quer consentir que se creiam, posto que claramente de demonstrem, pensando que nunca semelhante como ele sentiu que o contrário pudesse sentir, o que adiante as mais das vezes se demonstra mui desvairado do que parece.

E por aqui se pode bem conhecer, posto que não caia em outro erro, quanto perigo é trazer um tal cuidado assim reinante em ele, que o não deixe pensar em cousa livremente sem haver dele lembramento, e como constrangido cuidar em qualquer outro feito por pesado que seja, para o coração no que tais amores lhe mandam quer embargar seu sentido, desamparando todos os outros por necessários que sejam.

E por estas razões convém que traga e faça maiores sentimentos que outra maneira de amar»

D. Duarte
Leal Conselheiro



guidosarraza

16.12.06

Nova Catedral, 19.00




In bocca al lupo...
Crepi il lupo !






bruno ventana

Em cima do mar



Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar

cecilia meireles



guidosarraza

Bom, se não tem, parece...

Em suma, um erro de palmatória.


crisdovale

Nova geração de empreendedores


«Foi com grande satisfação que tomei conhecimento da atribuição do Prémio Pessoa ao Prof. António Câmara.
A combinação da inovação tecnológica com o empreendedorismo é absolutamente essencial para Portugal vencer num mundo globalizado. Ora, para além de um distinto académico, o Prof. António Câmara distingue-se pelo seu espírito de iniciativa, pela sua vocação e ambição globais e pela capacidade de pensar em rede. A sua distinção realça a importância da valorização do conhecimento, da inovação e da criatividade, presentes ao longo da sua vida académica e empresarial.
Estou certo que a atribuição do Prémio Pessoa ao Prof. António Câmara, para além de justa e oportuna, ajudará a promover o espírito de iniciativa na sociedade portuguesa e funcionará como um catalizador para a nova geração de empreendedores que baseiam no conhecimento a sua vantagem competitiva. Significa o reconhecimento do papel de quem ousa “pensar global e agir global”, o papel dos empresários capazes de usar talento global para conceber produtos globais para os mercados globais. Significa, em suma, a aposta num País ambicioso, confiante em si próprio, capaz de se transformar o seu potencial científico e tecnológico em novas oportunidades geradoras de valor económico e social.
Envio ao Prof. António Câmara as minhas vivas felicitações.»

Anibal Cavaco Silva


crisdovale

15.12.06

Pessoa




António Câmara is a Professor at Universidade Nova de Lisboa and has been a Visiting Professor at both Cornell University (1988-89) and MIT (1998-99). He was a Senior Consultant to the Expo98 project and Senior Advisor to the National Geographical Information System. He has been YDreams CEO since the company was founded in June 2000.

Ao consagrar um (brilhante) investigador com dimensão económica, o Prémio Pessoa contribui de forma importante para reduzir à sua verdadeira dimensão os que foram imortalizados pelo general De Gaulle - "Des chercheurs qui cherchent, on en trouve. Des chercheurs qui trouvent, on en cherche." - e que fazem da manutenção da sua torre de marfim o objecto dos seus trabalhos e dos fundos públicos que os sustentam.


crisdovale

A intendência e as sobras

«(...) Para quem não saiba, "posicionar-se", em boa política, significa marcar antecipadamente um espaço (muitas vezes imaginário), reservando para si proprio um papel de relevo no futuro, enquanto o presente é assegurado por pessoal de segunda que se pode dar ao luxo de perder tempo e dinheiro com a intendência do partido e as sobras da oposição. (...)»

Constança Cunha e Sá
Publico-15.12


crisdovale

14.12.06

I think it´s a damned bore


«Wavering and doubtful, he spoke his thoughts aloud to Tom Young. "I think it´s a damned bore", he said. "I am in many minds as to what to do."
"Why, damn it all", answered Young, "such a position was never held by any Greek or Roman: and if it only last three months, it be worth while to have been Prime Minister of England".
There are moments when a air will turn the balance; " By God, that´s true", exclaimed Melbourne. "I´ll go!".


(William Lamb, Lord Melbourne, conversation with a friend after knowing King Wiiliam IV invitation to become Prime Minister, in "Lord M." by David Cecil)


brunoventana

Ler devagar

«O seu espírito persegue-me sem descanso: está sempre aqui, diante de mim»
Emanuel Schikaneder

In absentia


crisdovale

Mar e céu

















Já a vista, pouco e pouco, se desterra
Daqueles pátrios montes, que ficavam;
Ficava o caro Tejo e a fresca serra
De Sintra, e nela os olhos se alongavam;
Ficava-nos também na amada terra
O coração, que as mágoas lá deixavam;
E, já depois que toda se escondeu,
Não vimos mais, enfim, que mar e céu.

Luís de Camões


crisdovale

Entretanto...

... epá e daí talvez não....não vou lá maçar o doutor....... uma notícia destas e um gajo até fica na expectativa........calhando a coisa até podia ir prá frente e....

Piotr Kropotkine at 6:32 PM



crisdovale

13.12.06

Com o esquerdo não entrou

«(...) Não se sabe se entrou na História com o pé direito. Com o esquerdo não entrou, com certeza. Foi um rei sem sucessor. Seguramente que leu Aristóteles e é possível que seguisse o princípio: "Tirar o poder aos mais eminentes e desfazer-se dos mais hábeis". Não. Isto é ir muito longe. E ir muito longe é a melhor maneira de parecer mau na totalidade. Quando se erra, ao menos que não pareça que se erra em tudo. (...)»

Agustina Bessa-Luís


crisdovale

Dreamy quietude


... these are the times of dreamy quietude, when beholding the tranquil beauty and brilliancy of the ocean's skin, one forgets the tiger heart that pants beneath it...
Herman Melville


guidosarraza

Mais do "verosímil"

Depois de Miguel Sousa Tavares, Lobo Xavier, Vice-presidente do FC Porto admite demissão de Pinto da Costa.


crisdovale

Dark horse

Could this be the next US president
One could be excused for thinking that a 45-year-old African-American with barely two years' experience in the US Senate and a name that evokes America's two most hated enemies wouldn't have an ice cream's chance in hell of winning the presidency.


crisdovale

A propósito de gorjeios

«Confesso que não percebo a polémica à volta dos anónimos. Se calhar, por andar nisto há pouco tempo, dou pouca importância as essas subtilezas da blogosfera. Na maior parte dos casos, não distingo um anónimo de um ser frontal (e desconhecido) que assina com as suas iniciais: tanto um como outro valem (ou não) pelo que escrevem e pela forma como o conseguem escrever. O resto, salvo algumas excepções, são pormenores com que não costumo perder muito tempo. De qualquer forma, já ando nisto há tempo suficiente, para perceber que há anónimos e anónimos: há anónimos respeitáveis que são recomendados; e há anónimos desprezíveis que pura e simplesmente são insultados. Pelo que me é dado a ver, a caracterização do anónimo não depende do anonimato: depende das opiniões que emite e dos círculos que frequenta. O que mostra que o anonimato é apenas uma ficção num pequeno mundo de pequeninas polémicas.»
ccs ( in O Espectro)
posted by ccs at 9:05 PM


crisdovale

L´exil de Johnny

L'exil de Johnny en Suisse
La dream team de Nicolas Sarkozy a du plomb dans l’aile. Après l’animateur de télévision Pascal Sevran, qui a rallié à l’automne, publiquement, le candidat de l’UMP à la présidentielle, mais dont les récents propos racistes (lire notre article) ont déclenché un tollé, voilà que deux autres stars figurant dans son cheptel vont faire parler d’elles.

Doc Gynéco, d’abord. Le chanteur de rap a été condamné, le 8 décembre, par la deuxième chambre civile de Paris, à 700 000 euros d’amendes, dans le cadre d’un redressement fiscal. Et voilà que Johnny Hallyday se met aussi de la partie. L’ancien supporter de Jacques Chirac, qui avait lui aussi apporté, de manière spectaculaire, son soutien à Nicolas Sarkozy, a décidé de quitter la France. Le chanteur, qui avait tenté d’obtenir, en vain, pour des raisons fiscales, la nationalité belge, va s’installer à Gstaad, en Suisse, à raison de six mois - plus un jour - par an, dès la fin décembre. L’annonce d’un exil qui risque de faire un peu désordre.
(in L´Express-13.12)


crisdovale

12.12.06

O mapa de Portugal

«(...) o meu partido é o mapa de Portugal. (...) fomos descobrir o mundo em caravelas e regressámos dele em traineiras.
A fanfarronice de uns, a incapacidade de outros e a irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim sem a grandeza de uma grande aventura. Metade de Portugal a ser o remorso da outra metade.»

Miguel Torga

crisdovale

Memória



«A vida é mais complicada do que se pensa e mais simples do que pode imaginar-se»
in Clea - Lawrence Durrel


crisdovale

O planeta ainda gira

O comunismo ainda vive, pelo menos nos museus e universidades


crisdovale

11.12.06

Manufacturamos realidades




«Damos comummente às nossas ideias do desconhecido a cor das nossas noções do conhecido: se chamamos à morte um sono é porque parece um sono por fora; se chamamos à morte uma nova vida é porque parece uma coisa diferente da vida.
Com pequenos mal-entendidos com a realidade construímos as crenças e as esperanças, e vivemos das côdeas a que chamamos bolos, como as crianças pobres que brincam a ser felizes.
Mas assim é toda a vida; assim, pelo menos, é aquele sistema de vida particular a que no geral se chama civilização.
A civilização consiste em dar a qualquer coisa um nome que lhe não compete, e depois sonhar sobre o resultado. E realmente o nome falso e o sonho verdadeiro criam uma nova realidade. O objecto torna-se realmente outro, porque o tornámos outro.
Manufacturamos realidades.
A matéria-prima continua a ser a mesma, mas a forma, que a arte lhe deu, afasta-a efectivamente de continuar sendo a mesma.
Uma mesa de pinho é pinho mas também é mesa. Sentamo-nos à mesa e não ao pinho. Um amor é um instinto sexual, porém não amamos com o instinto sexual, mas com a pressuposição de outro sentimento.
E essa pressuposição é, com efeito, já outro sentimento.»

Fernando Pessoa

crisdovale