26.7.04

O DIABO A ESTIBORDO

Na segunda edição do tour de França (1904), o ciclista Maurice Garin foi desclassificado por ter feito parte do trajecto de carro.
(dos jornais)

O que não deixa de ser certo é que tudo isto é bastante melhor do que as eleições presidenciais de 1927 na Libéria, quando  Charles D.B. King venceu o seu único e aguerrido adversário, Thomas J.R. Faulkner, recolhendo 234 mil votos, ou seja 15,5 vezes mais do que o eleitorado do país.

Bruno V

23.7.04

DIÁLOGO A CORES OU O FANTASMA E O CASTELINHO

As lulas comunicam entre si polarizando de forma variável a luz que reflectem 

O fantasma de Marraquexe ( vd. Grande Loja do Queijo Limiano ) tornou-se mais apresentável à sombra do castelinho de Bruxelas.

Bruno V

22.7.04

SPIN – DOCTORING

“Explain to me just why I should waste my time with a load of fucking wankers like you when you`re not going to write anything I tell you anyway” 
 Alastair Campbell 

“ ….The word spin – doctor, which conveys the greater degree of menace, subterfuge and mystique in the modern PRO `s job, came later. It originated in the USA and is said to have derived from baseball. According to Dr Emma Lenz of the Oxford English Dictionary, the first recording use of the term was by Saul Bellow in his 1977 Jefferson Lectures. The Collins English Dictionary (1999 edition) defines spin – doctor as a person who provides a favourable slant to an item of news, potential unpopular policy, etc., especially on behalf of a political personality or party.

The word was not taken up in Britain until the early 1990`s, when it was indelibly associated with the rise to public prominence of Peter Mandelson and his school of New Labour media experts.” 

Peter Oborne and Simon Walters (“Alastair Campbell”)

Bruno V 

TOSSEGO A TERMINE (POISON WITH A DELAYED EFFECT)

“ The conspirators were now living on borrowed time, the Duke Valentino explained to Machiavelli ” 
 Maurizio Viroli 

Apontado  ao mar , a meio do sul de portugal, o terraço firma-se na noite de Julho.

Guardado por estrelas enigmáticas, um algarvio, seco como um algarvio,  navega, razante à espuma, o seu olhar de bicho predador .

É daqueles que domina naturalmente uma sala, mesmo quando não está a falar. Os americanos têm uma expressão para eles: Alpha Male.

À maneira do leopardo  fareja no escuro do horizonte, medindo a distância e o salto por cima das incertezas do tempo.

É que há um tempo para tudo. Há mesmo um tempo para os tempos voltarem a encontrar-se.

Bruno V

16.7.04

O LUGAR VAZIO DA TRAGÉDIA ANTIGA

“C`est lors des tragédies, des combats de taureaux et des cruxifications que l`homme s`est jusqu`ici senti le mieux sur terre; lorsqu`il s`inventa l`enfer, ce fut son paradis sur terre.“
F. Nietzsche (Assim falava Zaratustra)
 
“Na arena, o duende é o privilégio de uns poucos, toureiros de eleição, que, como os feiticeiros, são capazes de suspender o tempo e mergulhar o espectador numa dimensão diferente, a das emoções sublimadas. Saber se eles toureiam bem importa pouco: o que conta são as emoções que provocam para além dos gestos perceptíveis pelo comum dos mortais. Em matéria de tauromaquia, para tourear ou para escrever, tudo é uma questão de distância. Nem demais nem de menos, nem demasiado longe nem demasiado perto; o sítio  exacto, o ponto certo , em ligação directa com a realidade, mas com o recuo suficiente para deixar nascer o sonho.

...Que interessa o género se a magia está lá.”
 

André Viard c/ Bruno V

O NOVO GOVERNO...

BOLSA DOS MINISTERIÁVEIS COM PASTAS
 
Ministério da Administração Interna
Telmo Correia
Daniel Sanches
Morais Sarmento
 
Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas
Pedro Lynce
Salter Cid
Arlindo Cunha
 
Ministério da Ciência e Ensino Superior
Graça Carvalho
Valadares tavares
Manuel Patrício
Pinto Paixão
 
Ministério da Cultura
Teresa Caeiro
Maria José Stock
Clara Ferreira Alves
Manuel Falcão
 
Ministério da Defesa Nacional
Paulo Portas
 
Ministério da Educação
David Justino
Manuel Patrício 
Bacelar Gouveia
Valadares Tavares
Joaquim Azevedo
Teresa Morais
 
Ministério da Justiça
Luís Nobre Guedes
Pires de Lima
Fernando Negrão
Paulo Teixeira Pinto
Marques Mendes
Aguiar Branco
Teresa Morais
 
Ministério da Saúde
Luís Filipe Pereira
Nascimento da Costa
Luís Filipe Meneses
Marques Mendes
 
Ministério da Segurança Social e do Trabalho (*)
Teresa Caeiro
Helena Lopes da Costa
(*) Esta pasta sofrerá uma alteração que consiste na transferência do trabalho para os "Assuntos Económicos"

Ministério das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente
Luís Nobre Guedes
Poças Martins
Isabel Mota
 
Ministro da Presidência
Paulo Teixeira Pinto
Henrique Chaves
 
Ministro dos Assuntos Parlamentares
Rui Gomes da Silva
Henrique Chaves
Luís Filipe Meneses
 
Ministro Adjunto do Primeiro-Ministro
Rui Gomes da Silva
Henrique Chaves
 
PASTAS JÁ FECHADAS
 
Ministério da Economia (agora "assuntos económicos")
Álvaro Barreto
 
Ministério das Finanças
Bagão Felix
 
Ministério das Obras Públicas, Transportes e Habitação (agora sem a habitação)
António Mexia
 
Ministério dos Negócios Estrangeiros
António Monteiro
 
MINISTERIÁVEIS SEM PASTA
 
José Eduardo Martins
Pedro Duarte 
 
ALTERAÇÕES ORGÂNICAS
 
Separação do Ambiente e Ordenamento do Território
Separação da Ciência do Ensino Superior
Reunião da Educação com Ensino Superior
Reunião da Ciência com a Inovação
Reunião da Habitação aos "Assuntos Sociais"
Criação da pasta da Juventude
Criação da pasta do Turismo 

"SÓCRATES ALÇADO NOS BICOS DOS BOTINS"

Todavia o fantasma de Marraquexe paira...
 
Aqui.
 

14.7.04

SESTEIRAS E SESTEIROS, SESTEM

“Preguicemos em tudo ,excepto no amar e no beber, excepto no preguiçar”
Lessing

“Um após incerto conjugado com um antes provável.

Um tempo para nada? Mas este nada é abençoado. E este tempo possui um valor mas nenhum preço, tal como a arte, segundo Duvignaud. A sesta é uma reapropriação por nós próprios do nosso próprio tempo, fora dos controlos relojoeiros. A sesta é emancipadora.”
Thierry Paquot

Bruno V

SOGNO E INVENZIONE

“…What seest thou else
In the dark backward and abysm of time?”
W. Shakespeare ( The Tempest I)

Bruno V

MAPA PARA NORTEAR O XVI GOVERNO CONSTITUCIONAL

É o que reza o Testamento Político de Armand Jean du Plessis, Cardeal Duque de Richelieu, no capítuloIII da Segunda Parte:

“Que mostra que os interesses públicos devem ser o único fim daqueles que governam os estados, ou que pelo menos devem ser preferidos aos particulares”

e no capítulo VI:

“Um tratar contínuo não contribui pouco ao bom sucesso dos negócios”

e no VII:

“Uma das maiores vantagens que se possam conseguir para um Estado é destinar cada um ao emprego para o qual é mais próprio”

e, ainda, no capítulo VIII:

“Do mal que os aduladores e intrigantes causam aos Estados, e quanto é importante afastá-los de junto dos reis, banindo-os da sua corte”

Bruno V

ANA GOMES E OUTROS REPREENDIDOS POR CARLOS CÉSAR PELA FALTA DE TINO

“Eram oito letrados ilustres, mais o filho de Yang Tche-Tchung, atrasado mental, o que fazia um total de nove “
Wou King-Tsen (Crónica indiscreta dos mandarins)

Bruno V

DECISÃO PRESIDENCIAL DE 9 DE JULHO

“As pessoas mais frágeis estão couraçadas por um esplendor fabuloso”
T. Capote

A decisão de 9 de Julho não foi outra coisa senão a aplicação do “Princípio de Le Chatelier “, segundo o qual, quando se perturba um sistema em equilíbrio, este reage no sentido de contrariar a perturbação a que foi sujeito.
Do resto, como gostava de dizer Cícero, encarrega-se o tempo.

Bruno v

13.7.04

AS LIDERANÇAS DO PS OU AS SUPERFÍCIES BRILHANTES E COLORIDAS DAS LANTEJOULAS

“Outra mudança
Faz de mor espanto
Que não se muda
Já como soía”
L Vaz de Camões

Bruno v

CRISTO PUXA SANTOS PARA RIBA

“Tu não te deites a afogar de uma ponte tão baixinha.”

Ultimamente Almeida Santos tem conversado com Cristo.

Deve ter causado uma impressão excelente, pois num ápice viu-se guindado ao leme do PS, onde, segundo deixou cair, ambos militam, ficando apenas por esclarecer uma pequena questão de datas.

Assim, a inspiração que assolou Ferro, pela noite de sexta-feira, não tem a ver com a tentativa de provar que Mencke tinha razão quando dizia que a Democracia é a arte de administrar o circo a partir da jaula dos macacos.

Ferro mandou-se à peixe janela fora (mais aparatoso que o antecessor que se limitou a rastejar) porque ouviu a voz sussurrada e superior do camarada Cristo dizendo “ saia daí seu malandro que agora é o Almeida Santos, que com esse é que eu me entendo! “

Bruno V

LUA EM ESCORPIÃO

“O eu foge-me sempre e é ele, no entanto, que, ao fugir da minha pessoa, a desenha e a imprime”
P. Valéry

“O que é o amor?
O amor é assim:
Hoje beija-se, amanhã não se beija,
Depois de amanhã é domingo
e segunda-feira
ninguém sabe o que será…”
C Drummond de Andrade

Bruno V

LÍDER DO PS ESTÁ POR POUCO

“Ah, todo o cais é uma saudade de pedra”
F. Pessoa

“ Meu caro dr Watson – exclamou Sherlock Holmes – se as minhas deduções seguiram o encadeamento lógico a que aspira todo o perito em criminologia, eis-nos muito perto de deitar a mão ao homem em questão”
A Connan Doyle

Bruno V

RAPAVA-SE TUDO À TIJELADA

“Quem quiser ser líder do PS tem que falar comigo”
J. Coelho

Avança o Vitorino. O Sócrates avança. E o Lamego. Mas, temos mais: Seguro e Soares, moços, também avançam.

Nem um deles se despediu de Ferro, deixando-o só, a tratar com todo o seu grupo (Vieira da Silva, Gastão e Ana Gomes) de uma candidatura a Presidente da Republica.

A correria, a ver quem fala primeiro com Coelho, mostra bem a teia rija e coesa a que o partido de Cristo e Fernando Valle tinha chegado.

E razão tinha o putativo interlocutor da rapaziada da Al Qaeda, quando, vivo, entre cerejas, disse ao Expresso em 10 de Julho:

“Nunca houve tantas condições para o PS chegar à maioria absoluta como agora “ .

A dívida do PS para com Sampaio é de facto maior do que se supõe.

Bruno V

9.7.04

O PANORAMA DESANUVIA-SE

Confirma-se que integra o Governo da Frente de Esquerda Popular, em nome da estabilidade, o conhecido Buíça.

O RETINTIM DA CIÊNCIA, A PONTA DO VÉU

“….Vestia luva gema de ovo todos os dias e aos domingos alugava cavalo”
CCBRANCO

Vítor Malheiros, doravante Vítor: Porque sois vós o “ Ciência em Portugal”?

O Mandarim: Porque sou luminoso e tenho a esquerda, a alta e a baixa, os intelectuais, a maçonaria, o Dr Soares, os metalúrgicos, os sindicatos, os bolseiros, o Dr Sampaio, quase todas as Associações Privadas Sem Fins Lucrativos, as Com Fins, o Público, o Expresso, boa parte do DN, a RTP 2, quase toda a RTP 1, a TSF, a maior parte dos jornalistas da SIC, o João Salgueiro, o Instituto Superior Técnico, algumas Fundações, o Benfica, uma fatia do Sporting, a FCCN, os forcados do Aposento do Barrete Verde da Moita, amigos na SONAE, os jovens e as mulheres, o Bloco de Esquerda, o PCP e o PS, parte da JSD, os faroleiros, a Brandoa, a Marinha e tenho, tenho sobretudo a Mestre Rosália, essa, a Promotora Oficial da Divulgação Científica em Portugal,

Ah, já me ia esquecendo, e tenho o CLA!

Vítor: Mete respeito!!

O Mandarim: E tenho gente colocada alto lá em Bruxelas, na Comissão, malta como o Busquin, e também tenho na NATO. E tenho amigos na Suiça e alguns Professores na América.

Vítor: E, de um modo geral, como é que se chega a esse ponto?

O Mandarim: Sobretudo porque sou luminoso e depois tive o Guterres.

Vítor: Foi importante o Guterres?

O Mandarim: Foi.

Vítor: Mas de que forma?

O Mandarim: Em forma de Fundos e de OE, aquilo a que nós, os cientistas topo, chamamos o faval. Ele, aí, não foi miudinho.

Vítor: E tirando o faval, há assim algum episódio da governação que pelo seu picaresco queira recordar para os nossos leitores?

O Mandarim: Olhe, há um: o assalto ao Taguspark. Aquilo até era uma empresa privada, mas como era sucesso muito grande e ainda por cima construído por uns tipos que eu detestava mesmo a sério, género malta que passava a vida a fazer mal à Ciência e aos portugueses e que me tratava mal, o que afinal é a mesma coisa, fui-me a eles.

Vítor: Ena! E conseguiu?

O Mandarim: Ao princípio não. Mas chamei o Coelho, o Vitorino e quase todos os outros, enfim o Governo quase em peso e, depois com a ajuda dos gajos das empresas públicas que eram accionistas do Taguspark lá levamos a nossa avante. Mas foi duro, que os outros eram ruins.

Vítor: E desses bravos gestores públicos houve alguém que se destacasse nessa luta tão bonita?

O Mandarim: O Salgueiro. O João Salgueiro, o da Caixa, foi catita, supimpa mesmo!

Mas agora espere aí. Estão a chamar-me do Rato. É capaz de se a solução Pintasilgo a brotar e eu, antes de voltar a picar sobre o faval, ainda tenho que passar pelo Pagode.

(Continua.)

AZOADA E TOLHIDA A DECISÃO BROTA À BORDA TEJO

“Tinha muita lição de livro mau donde sacava virtuosas parvoiçadas, mas habitava nele um gosto depravado pelo fadinho e um justo amor pelo bacalhau de cebolada”
E de QUEIRÒS

O Morgado de Agra embicou logo na forma do juramento e disse que não jurava sem aspar as palavras…

8.7.04

LOUÇÃ , o “desejado”

BE garante estabilidade se PS ganhar...desmente garantias a Sampaio...e não discute hipotéticos cenários, depois de hipotéticas eleições...

O que se compreende. O BE não busca pastas. Persegue ideais. Assume e não retrocede no seu compromisso com os eleitores. Só viabiliza o que estiver de acordo com os seus valores.

Herculano, no seu “Eurico”, antecipou também a reacção do eleitorado a tanta garra.

Suspirou ele, e agora compreendemos:

“Meu Deus, meu Deus! Bendito seja o teu nome, porque nos deste o chorar!”

CRISE NO SAPATINHO

“Simulando deixar-se conduzir, nunca ía além do limite onde queria ser levado. Quanto mais observava mais ía duvidando.”
Honoré de Balzac

O regresso de Vitorino irá assegurar, certamente, o troar dos canhões no PS. A acompanhar, no semestre decisivo de Ferro, prometendo crise no sapatinho…

O MANDARIM À ESPREITA OU PORQUE DEVEMOS LER HERÓDOTO A BEM DA CIÊNCIA

No túmulo da Rainha Nitocris, conhecida pelo seu sarcasmo, jazia a seguinte inscrição:
“Se algum rei da Babilónia vier a ficar sem dinheiro, deixai-o abrir este túmulo e tirar quanto desejar. Mas apenas em caso de necessidade. Quem abrir este túmulo em qualquer outra circunstância não receberá nada.”

O túmulo permaneceu intocado até ao reinado de Darius, que se sentiu enfurecido por não poder utilizar a entrada da cidade em que aquele se encontrava. Além disso, considerava absurdo existir um tesouro tão perto sem se apoderar dele.

Ordenou, então, a abertura do túmulo. Encontrou-o, todavia, sem um tostão – apenas o corpo da Rainha, e a seguinte inscrição:

“Se não houvesses sido tão insaciavelmente ganancioso, ao ponto de obter dinheiro da maneira mais vil, nunca violarias o repouso de um morto.”

A POLÍTICA COMO ARTE DA SEDUÇÃO

Je sais que tu vas dire
“Tous ces mots je m’en souviens”,
Là, j’entends que ton sourire
Dit “Viens m’embrasser”, je viens”

DE MÁ ARGILA

“Os jornalistas esporeavam a imaginação para achar adjectivos dignos da minha grandeza; fui o sublime Sr. Teodoro, cheguei a ser o celeste Teodoro; então, desvairada, a “ Gazeta das Locais “ chamou-me o extraceleste Sr Teodoro”
E. de Queirós

Com torturamento visível, procura perfurar a crosta em que se encerra na ânsia de luz e calor. Desde os tempos em que, ruim e papudo, traiu o grupo em que, misérrimo, pastava a ambição desencabrestada, tem dado voltas. Tem andado às voltas. Puxando para a “esquerda” e para baixo, sempre papudo, sempre ruim. Para baixo, sobretudo, em passada certa.
Alia, em casamento fácil, uma clara e geométrica visão do Direito Administrativo, em que é Mestre notável, com um carácter de paupérrimo grão.
É uma criatura sem aprumo.
A sua sacudida gulodice por uma qualquer tábua na política incomoda as pessoas.
É um potro aos galões.

7.7.04

VOANDO SOBRE UM NINHO DE CUCOS

Almeida Santos, o homem da vírgula, convocou Jesus Cristo.
Os tempos na verdade não estão para menos.
O vulto socialista fez, num curto trecho, “um paralelismo genérico entre a vida do fundador do PS Fernando Valle e a de Cristo” ( in DN ).
Em relação à ideia de que "Cristo teria sido Maçon, do Ps e pela Dissolução", é uma colossal esmeralda do pensamento e um sossego à dor terrena, partindo do princípio que a falada dissolução seria a da girândola de disparates do bom do Almeida Santos.


bventana

TODO ALÇADO NO BICO DOS BOTINS

“ Nesse momento estalavam foguetes ao longe. Lembrei-me que era domingo, dia de touros: de repente uma visão rebrilhou, flamejou, atraindo-me deliciosamente: - era a tourada vista de um camarote; depois um jantar com champagne; à noite, a orgia, como uma iniciação! Corri à mesa. Atulhei as algibeiras de letras sobre Londres. Desci à rua com um furor de abutre fendendo o ar contra a presa. Uma caleche passava, vazia. Detive-a, berrei:

-Aos touros! “

E. de Queirós

AS CAUSAS PRIMÁRIAS ESTIRADAS DE TRAVÉS

“Daí a pouco Madame Marques abria a porta, toda vistosa nas suas sedas pretas.
-Está-se à sua espera para jantar, enguiço!
Emergi da minha amargura para lhe responder secamente:

-não janto!

-Mais fica!”

E. de Queirós

ÀS ARRECUAS, DE DORSO VERGADO E FRONTE VOLTADA AO CHÃO

“- Vamos, Teodoro, meu amigo, estenda a mão, toque a campainha, seja um forte!”

E. de Queirós

AS ROLAS ARRULHAM NOS BEIRAIS

“-Quem é que saiu agora, ó D. Augusta

- Foi o Cabritinha que vai um bocadinho à batota”

E. de Queirós

BRECHA DAS ALMAS

“Primeiro Amigo (bebendo conhaque e soda, debaixo das árvores, num terraço, à beira-d`água):
Camarada, por estes calores do Estio que embotam a ponta da sagacidade, repousemos do áspero estudo da Realidade humana…. Partamos para os campos do Sonho, vaguear por essas azuladas colinas românticas onde se ergue a torre abandonada do Sobrenatural, e musgos frescos recobrem as ruínas do Idealismo….
Façamos fantasia!

Segundo Amigo:
Mas sobriamente, camarada, parcamente! E como nas sábias e amáveis alegorias da Renascença, misturando-lhe sempre uma Moralidade discreta”

Eça de Queirós

6.7.04

VÊM AS SEMENTEIRAS, VAI À TULHA E LEVA DE TUDO

“Já não estremo a rosa do cardo. Pigmeus e gigantes, diante de mim,
estão na mesma profundidade do atoleiro”
Camilo Castelo Branco

A aplicação simples e natural das regras do jogo leva a um resultado.
O resultado não agrada.
Que fazer? Cumprir as regras do jogo ou mandar as regras do jogo ás malvas?
E, mandando-as ás malvas, as regras, como ficará o jogo daqui por diante?
Os que, arautos das regras, não aceitam o resultado e ensaiam um jogo de geometria variável têm pela frente um problema deveras bicudo.

Mais a mais, haverá, certamente, por entre essa bela seara de feno ruim algumas pernadas de trigo bom...

A VERDADEIRA CABALA

“A maior crise desde o 25 de Abril…”, Pintassilgo dixit…

É que, se assim não fosse, de que se lamentaria o pobre lusitano? O Euro acabou, a Casa Pia está fora de moda, o Benfica já tem treinador, o recorrente suspiro do défice democrático não parece colher no povo abstencionista…

Era preciso uma crise. Mas uma crise grave, de contornos tenebrosos, aqui e acolá com laivos de Kumba, retocado por pinceladas de Jeffrey Archer, mas sobretudo o ingrediente clássico – sem esperança de beneficiar senão alguns protagonistas.

Esta, sim, a verdadeira cabala. O segredo estava na bandeira. O aparentemente inocente pano vermelho e verde foi desvelado quando começaram a surgir os pagodes, reais símbolos da primitiva versão.

E se não houvesse crise alguma? O sol continuava a nascer todos os dias, os autocarros a encher, as lojas a vender. Mas haveria um desalento submerso, de ausência de alvo a combater. Por isso, desde o Extremo Oriente à ocidental praia lusitana, gerou-se este movimento conspirativo de abalo à paróquia. Não tinha graça se tudo fosse pacífico e seguisse o seu curso normal.

Vendo bem, até Henrique VIII antecipou, no seu leito de morte, o presente cenário luso, quando suspirou, agonizante “all is lost…”

Dê-se crise, pois. Para o lusitano serenar.

NIMBOS POÉTICOS…

“Le jour où tu me dirais “je t’aime moins”, ce serait le dernier de mon amour ou le dernier de ma vie”

Napoléon Bonaparte, lettre à Joséphine

A frase, ao contrário do que parece, não é de amor, mas de pura ciência política. Nem o seu autor poderia permitir interpretação diferente.

DÁ QUE PENSAR…

“Panic broke out in London when, in 1745, word came of the Jacobite rebellion and the advance of a Scottish army towards the city. George II packed his bags in readiness to flee to Hanover, but Lady Stafford, one of London’s most sought-after hostesses, wrote letters inviting the wives of the Scottish leaders to a soirée.”

Geoffrey Abbott, “A Macabre Miscelany”

5.7.04

BRÉVIAIRE DES POLITICIENS

“Senhor de San Patrizio – disse Mazarino, aproximando um prato de lavagantes vivos que pareciam cozidos de um de lavagantes cozidos que pareciam vivos…”
U.Eco


Parafraseando o Cardeal Mazarino, cujo motto era “ Le temps et moi”, eu finjo, eu acomodo-me, dissimulo. Mas quando o momento chegar, vereis do que sou capaz.

SOBRE A NATUREZA E O LUGAR DOS MUNDOS SUBTERRÂNEOS OU PORTUGAL JULHO/2004

Quando o Duque de Guermantes desce as escadas do seu “ hôtel particulier” para ir a um grandioso baile de máscaras a que faz muita questão de ir, uma das tias grita-lhe do andar de cima: “ Basin, le pauvre Amanian vient de mourir il y a une heure!”. O nosso personagem horrorizado com a perspectiva de substituir um baile por um velório, responde: “ Il est mort! Mais non, on exagère, on exagère ! “
M. Proust

GRANDE ARTE DA LUZ E DA SOMBRA

“ Na vida, os factos são o limão na ostra”
C. Lispector


Le secret de plaire en société est de se laisser apprendre des choses que l ´on sait par des gens qui les ignorent ( Charles Maurice, Prince de Talleyrand-Périgord)

A CONSOLAÇÃO DOS NAVEGANTES

“…Depois será diferente, mas pior. Nós fomos os leopardos, os leões; os que hão-de substituir-nos, os chacais, as hienas; e todos nós, leopardos, chacais e ovelhas continuaremos a considerar-nos o sal da terra.”
Tomasi di Lampedusa


Pombal, Linhares, Fernandes Tomás, D.Pedro, Saldanha, Costa Cabral, Rodrigo, Fontes Pereira de Melo, João Franco, Afonso Costa, Sidónio Paes, Cunhal, Sá Carneiro e Cavaco Silva!

Sampaio, Lopes, Ferro, Carvalhas……

QUARTA FEIRA DE MANHÃ EM BELÉM

“Está finalmente na posse de todos os seus defeitos”
A Malraux


Trazem-me um político linha Argentina subúrbio?
Que ferro que isto me faz!
Pois dissolvo. Linha Paraguai urbano.

FALTA OUVIR O MAESTRO DO ORFEÃO DA ASSOCIAÇÃO RECREATIVA OS BARDOS DA BEMPOSTA DE BAIXO

“ O enigma final da História não é se o justo vencerá o corrupto, mas sim como ultrapassar o mal que há em todo o bem e a perversidade dos justos.”
Niebuhr


Os do Governo, mal ou bem convencidos da prevalência da estabilidade nos espíritos mais altos, estugaram o passo. Tanto o estugaram que o PR achou por bem refrear a corridinha: Mais a mais a bola é minha, vou parar isto e depois vou pensar. Pensar a valer. Dias a fio, umas duas semaninhas que é para acalmar.
Só que o tempo a passar tem das suas, e este, o das duas semaninhas, não dá acalmias, serve só para avivar a brasa, promovendo do mesmo passo uma e uma só das respostas à questão suscitada.
É essa, afinal, a resposta ambicionada? Então o mandarim poderá estar de volta.

SAMPAIO OUVE SALGUEIRO

“ Would you tell me, please, wich way i ought to go from here?
That depends a good deal on where you want to get to”, said the Cat.
“…So long as I get somewhere” Alice added, as an explanation.
“ Oh, you are sure to do that”, said the cat, “if you walk long enough”.
Lewis Carrol
Alice´s Adventures in Wonderland


Bastante conhecido pela firmeza e pelo esmalte das suas opiniões, o despojado Salgueiro foi ouvido. Ostentava na lapela uma fitinha supimpa a dizer :“homem dos Bancos”. No dia seguinte, os Bancos disseram outra coisa. Completamente diferente. O contrário até. O táxi que o levou a Belém ia pois vazio.

(Brevemente vamos contar a história de um assalto muito político a uma empresa privada em que esta criatura desassombrada tomou parte para agradar, imaginem, ao mandarim. Esse, o do pagode.
Foi há oito anos, em Porto Salvo.)

SAMPAIO PENSA DEVOLVÊ-LO?

“Nasci para mandarim de condição,
mas falta-me o sossego, o chá e a esteira”
A. de Campos


Uma das consequências indirectas do previsível golpe palaciano avalizado por Lurdes poderá ser, assim os deuses velem, a volta do mandarim. Esse, o do pagode. Sabia picar sobre o faval dos Fundos. Com ele os cientistas foram felizes.

2.7.04

Pois o mundo estará assim organizado?

“Tinha a dose de velhacaria que a natureza concede a cada tolo maior de marca”
C Castelo Branco


Era a coisa por uma tarde de Julho. Os jardins do palácio batidos por uma brisa vinda do Tejo doiravam sob um sol já descendente.

Lá dentro encontrava-se enfim, fechando o cortejo de audições sobre a crise, a delegação do PSD.

O Presidente Sampaio, com bonomia, “isto até se resolvia se não fosse você, oh Pedro. É excelente para o País o Dr. Durão Barroso à frente da Europa! Eu sou, você bem sabe, pelo cumprimento da legislatura, pela estabilidade democrática! Portugal tem que singrar, tem que assegurar o desenvolvimento, conquistar um rumo de consolidação da retoma económica. Mas o problema, e eu sinceramente não vejo como o resolver, é você . Pura e simplesmente você! “

O “Pedro”: “Eu? Mas como assim?

O Presidente: “Oh homem, você não tem perfil para isto! È imaturo, é instável, é inconsequente! Como é que eu posso aceitar a indicação por parte do PSD do seu nome para PM ?!

O “Pedro”: “ Mas Sr. Presidente, eu, eu por mim só quero o bem de Portugal. Foi o Dr. Sá Carneiro que mo ensinou. Não sou ambicioso, nem estou obcecado pelo poder nem pelo palco!

O que eu lhe venho aqui comunicar é que o PSD propõe a Vexa para PM de Portugal nesta conjuntura tão difícil o Eng. Álvaro Barreto.”

Muammar Kadhafi felicita Durão Barroso por nomeação


Tripoli, 02 Jul (Lusa) -O líder líbio, Muammar Kadhafi, felicitou hoje por telefone o primeiro-ministro português, Durão Barroso, pela sua nomeação para a presidência da Comissão Europeia, informou a agência noticiosa líbia Jana.

Os dois homens reafirmaram a sua vontade de reforçar as relações entre a Líbia e a União Europeia e entre a União Africana e a UE, indicou a Jana.


Ora bem, assim um gajo já se sente mais acompanhado...

Fontes não confirmadas garantem também as felicitações de Bin Laden.

O VERDADEIRO RESPONSÁVEL PELA INSTABILIDADE

"Líder da Cofina acusa Presidente da República de criar instabilidade"

Lisboa, 02 Jul (Lusa) -O presidente do grupo Cofina, Paulo Fernandes, acusou hoje o Presidente da República de criar instabilidade na economia portuguesa com o processo de sucessão do primeiro-ministro, após Durão Barroso ter aceite presidir a Comissão Europeia.

"Quando o Presidente da República afirma que, relativamente a este processo, a decisão que vier a tomar é a mais grave do seu mandato, Sampaio vem criar um clima de instabilidade extremamente pernicioso para a economia portuguesa e para os agentes económicos", refere o gestor, em comunicado.

Paulo Fernandes considera que o adiamento da decisão, com uma forte mediatização de opiniões dos mais diversos quadrantes profissionais da política, num processo em que "a continuidade natural parece ser óbvia (...)", potencia a instabilidade, que "em nada beneficia o país, nem os portugueses".

O gestor critica assim o modo como o processo político está a ser conduzido por parte de Jorge Sampaio, sobretudo numa altura em que há já sinais de recuperação económica.


O outro, bem vistas as coisas, até nem tem culpa nenhuma... Era só o que faltava!

1.7.04

Picando sobre o faval

( Popular )

Mariola o mandarim
Levanta o pelo do bigode
Chuva haja no jardim
Lesto vai ele e sacode

Dente em riste ao faval
Com saudade do festim
Desde a bicha do pragal
Vem cheirinho a jasmim

O quentinho da gamela
Já volta apetitoso
E do pagode à janela
Olha o mandarim guloso

Ferrinho não olvides
No regresso triunfal
A imperial e pevides
E o mandarim do faval

Em rijo mano a mano
Picaria sem ter fim
De bigode mariano
De pagode o mandarim

A RAPOSA CONHECE MUITAS COISAS MAS O PORCO - ESPINHO CONHECE SÓ UMA E MUITO IMPORTANTE


As balizas foram malhadas por rudes pescadores, de almas muito prendadas.
Com a sua fresca ternura que linda é a paisagem lusitana. O porte e a pose das suas gentes fagueiras, contra rezas e clamores, atende sempre aos olhares do grupo fundador.

Agora que vão voltar os devoristas, que entre eles venha o mandarim, com o dentinho roedor e de apetite remoçado.
Com ele os cientistas foram felizes.

Que história admirável a nossa.

“NENHUM NAVIO TE LEVARÁ ONDE NÃO PODES”

Cavafy

Eis como se bolina de encontro à vaga em mar largo:

“O poder está em toda a parte; não que englobe tudo mas porque vem de toda a parte. E o “poder”no que tem de permanente, de repetitivo, de inerente, de auto-reprodutor, não passa do efeito de conjunto que se desenha a partir de todas as mobilidades; do encadeamento que se apoia em cada uma delas e procura, em troca, fixa-las.
Não há dúvida que tem de ser minimalista; o poder não é uma instituição e não é uma estrutura, não é um certo poder de que alguns saiam dotados – é um nome que se atribui a uma situação estratégica complexa numa dada sociedade
( M. Foucault )