Minha Rica Casinha
31.3.06
A civilização que as alimenta
"a propter vitam, vivende perdere causas"
"(...) Minha tese é, portanto, a seguinte:
a própria perfeição com que o século XIX organizou certas esferas da vida é a origem do facto de que as massas beneficiárias não a considerem como organização, mas como natureza.
Assim se explica e se define o absurdo estado de ânimo que essas massas revelam:
não se preocupam com nada além de seu bem-estar e ao mesmo tempo não são solidárias com as causas desse bem-estar.
Como não vêem nas vantagens da civilização uma invenção e uma construção prodigiosas, que só podem ser mantidas com grandes esforços e cuidados, acham que seu papel se resume em exigi-las peremptoriamente, como se fossem direitos naturais.
Nas agitações provocadas pela escassez as massas populares costumam procurar pão, e o meio que empregam costuma ser o de destruir as padarias.
Isto pode servir como símbolo do comportamento que, em proporções mais vastas e subtis, têm as massas actuais para com a civilização que as alimenta."
José Ortega y Gasset
crisdovale
30.3.06
Da fisiologia das reformas em Portugal
"As reformas em Portugal são um adorno clássico do Ministério - como o correio, como os bordados da gola!
Não são uma organização do país - são um pretexto da pasta.
Todo o Ministro que entra - deita reforma e coupé. O Ministro cai - o coupé recolhe à cocheira e a reforma à gaveta.
(...)
Haveria um livro a fazer intitulado: Da fisiologia das reformas em Portugal. Há pelo menos uma definição a dar:
A reforma é uma formalidade que tem a preencher perante o país todo o Ministro - menos essencial que o coupé de aluguer e mais requerida que a farda de empréstimo!
Pedimos portanto:
Que o Ministério seja dispensado dessa formalidade.
Que ele tenha coupé de aluguer - bem: pede-o a civilização, a honra do país, a comodidade dos seus calos oficiais e os srs. correios que querem trotar!
Que ele tenha farda - pede-o a carta, a corte, a dignidade do toilette, e a necessidade de evitar que ss exas se apresentassem a el-rei de quinzena e gabão.
Mas para que se há-de exigir a um português - ainda que Ministro - que reforme? Quem lucra com isso? Ele não: que não pode alugar essa formalidade na companhia lisbonense de carruagens - nem pedi-la emprestada ao adelo da esquina.
O país também não - como sabem.
Para que se há-de exigir esse trabalho de inteligência, esse zelo de espírito, esse esforço de ciência a um pobre, a um débil, a um fortuito lusitano?
Não, não e não! Que os srs Ministros, em nome da dignidade pública sejam eximidos a essa formalidade ridícula, anacrónica, caturra - de reformar a pátria."
Ramalho Ortigão
(Farpas-1872)
bvtana
A República em estado de choque
«Marco António Costa indisponível para candidatura à liderança do partido.
O ex-líder da distrital do PSD/Porto Marco António Costa, declarou-se hoje indisponível para uma candidatura à presidência do pa rtido apesar dos "muitos incentivos" que afirma ter recebido para avançar. "
Só há menos de um mês deixei a presidência da distrital e tenho de dar algum tempo a mim próprio. Neste momento, não faz parte dos meus projectos", frisou.»
Lusa-30.3
Tomou balanço, correu prancha fora e, de pinote, lançou-se no espaço
crisdovale.
Foi um brado e peras
“ Homem, isso não é música, é um boi que saltou a trincheira do sol! Ora queira embolar-se, amigo Pratas, e fazer o favor de seguir o que lá está.”
Fialho de Almeida
O vulto recortou-se, imenso, de encontro à paisagem.
Desta massa sim! É dela que são feitos os guiadores de rebanhos e os cabos dos moços de forcado.
É uma trovoada sexy.
Foi um brado e peras : "...Tragam as espanholas! "
crisdovale
Paupérrimo grão
Declarações do MNE na Sic-Noticias à 01.03.
O olhar está pior, e não prenuncia nada de bom. Há ali muita coisa mal resolvida.
crisdovale
29.3.06
A linha do horizonte
Quando penso no mar, o mar regressa
A linha do horizonte é um fio de asas
E o corpo das águas é luar;
De puro esforço, as velas são memória
E o porto e as casas
Uma ruga de areia transitória.
Vitorino Nemésio
brvtana
Não actue logo à primeira
"É preciso dar crédito e autoridade à Razão para que o acaso se não constitua soberano."
Cavaleiro de Oliveira
"Isto do fácil não há sagrado a que se acolha; Nada defende o que não se defenda, nem pode ser conquistado de nenhum ânimo generoso o que não custa. As dificuldades apetecem por honra, as cousas por vício.
(...)
Nunca será perfeito galã o que servir por destino ou afeição, mas sim o que se prepare com o espírito. Vai muito o eleger pela luz do entendimento ou o seguir pelas trevas da locura. Sempre se há-de buscar a dama mais atilada que sabe buscar ocasiões para que a conheçam e tirá-las ao tolo para que a ignorem. Não actue logo à primeira. Estude devagar os erros e acertos..."
D.Francisco de Portugal
Arte de Galanteria
bventana
És tu mesma!
"Doce ironia! só tu és pura, casta e discreta; dás a graça à beleza e o requinte ao amor; inspiras a caridade pela tolerância; dissipas o erro homicida; ensinas a modéstia à mulher, a audácia ao guerreiro, a prudência ao estadista; apaziguas com o teu sorriso as dissenções e as guerras; pacificas os irmãos, curas o fanático e o sectário; és a mestra da verdade; serves de providência ao génio e à virtude, ó deusa, és tu mesma!"
Proudhon
bvtana
Sem pôr a mira no eterno
Não é de agora.
Trata-se - A Arte de Furtar - de uma obra publicada, sob anonimato, em 1652, com o mais assombroso subtítulo de todos os tempos:
Espelho de Enganos, Teatro de Verdades, Mostrador de horas minguadas, Gazua geral dos Reinos de Portugal.
Apesar de atribuída a sua autoria ao padre António Vieira, pode a mesma ser pertença de António de Sousa Macedo ou de Manuel da Costa (vd. Roger Bismut – INCM – 1991).
A Arte de Furtar põe a “Senhora Dona Política” filha da “Senhora Razão de Estado” e do “Senhor Amor-próprio”.
“Dotaram-na de sagacidade hereditária e de modéstia postiça. Criou-se nas Cortes dos grandes Príncipes, embrulhou-os a todos, teve por aios a Maquiavel, Pelágio, Calvino, Lutero e outros doutores dessa qualidade, com cuja doutrina se fez tão viciosa que dela nasceram todas as seitas e heresias que hoje abrasam o mundo”
Além do mais, “todos falam de política, muitos compõem livros dela e no cabo nenhum a viu, nem sabe de que cor é.”
E desdobra a máxima:
“A primeira máxima de toda a política do mundo que todos os seus preceitos encerram em dois, como temos dito, o bom para mim e o mau para vós.”
Ao aceitar a regra de “Viva quem vence... E vence quem mais pode, e quem mais pode tenha tudo por seu, porque tudo se lhe rende”, aqui “errou o norte totalmente, porque tratou só do temporal sem pôr a mira no eterno.”
(Quanta distância, a palmilhada desde 1652…)
brVtana
28.3.06
Do licoroso melão
Fialho de Almeida e Chateaubriand, fazem-me "raivar tremulamente, quieto de um prazer inatingível"
Bernardo Soares
"Não está um caso bonito?
O pobre diabo sarabandeando os neuronios, listrando d´amarello e vermelho as calças dos periodos, aparando os callos dos trópos, pondo barretininhas de chifre na cabeça marcial dos adjectivos, enfileirando paginas, coitado, um anno preso á banca do supplicio, a recoser-se, a derreter pra´li os torresmos da psychologia e da syntaxe - sujeito aos juizos deprimentes da turba, á popularidade insultante da rua, ás insolencias invejosas da critica - e tudo isto para afinal do licoroso melão comer apenas as cascas, e toda a pitança da polpa cantar no buxo do agiota ironico que o edita!"
fialho de almeida
bventana
Ffffffhiiuuu....
"O Movimento Intervenção e Cidadania (MIC), criado por apoiantes da candidatura presidencial de Manuel Alegre, anunciou hoje que vai apresentar uma petição ao Parlamento para aumentar o período de licença por paternidade de cinco para dez dias."
(diario digital-28.3)
crisdovale
Cabeça em água
Diante da possibilidade de Luis Felipe Meneses tentar remover Marques Mendes é interessante perceber como seria feita pelo hipotético líder a oposição ao governo.
A receita é do próprio e tem um ano.
crisdovale
27.3.06
Situação estratégica complexa
" Há quatro coisas maiores que todas as outras: mulheres e cavalos, poder e guerra."
R. Kipling
“O poder está em toda a parte; não que englobe tudo mas porque vem de toda a parte.
E o poder no que tem de permanente, de repetitivo, de inerente, de auto-reprodutor, não passa do efeito de conjunto que se desenha a partir de todas as mobilidades; do encadeamento que se apoia em cada uma delas e procura, em troca, fixa-las.
Não há dúvida que tem de ser minimalista; o poder não é uma instituição e não é uma estrutura, não é um certo poder de que alguns saiam dotados – é um nome que se atribui a uma situação estratégica complexa numa dada sociedade."
M. Foucault
bVtana
O poder da inteligência
"Eu não sou do Benfica, sou do Nené"
jose cardoso pires
Antonio Lobo Antunes em "Desculpem, mas vou falar de futebol" (Visão-9.6-05).
" (...) Coluna foi uma equipa inteira: não jogava futebol, criava futebol, introduziu nele o poder da inteligência e descobriu o que não existe: perfeição.
Conta-se que um treinador (ainda não lhes chamavam técnicos) dizia, antes da equipa entrar, tu fazes isto, tu fazes aquilo, tu fazes aqueloutro, e depois, para Coluna:
-Tu fazes o que quiseres (...) "
bvtana
A better idea
"Democracy promotion should remain an integral part of American foreign policy, but it should not be seen as a principal means of fighting terrorism. We should stigmatize and fight radical Islamism as if the social and political dysfunction of the Arab world did not exist, and we should shrewdly, quietly, patiently and with as many allies as possible promote the amelioration of that dysfunction as if the terrorist problem did not exist. It is when we mix these two issues together that we muddle our understanding of both, with the result that we neither defeat terrorism nor promote democracy but rather the reverse."
(Fukuyama e Garfinkle)
crisdovale
Desde a arcada até ao paraíso
A vida é um desempate permanente, e o que é preciso é jogar com limpeza e formosura em cada número da caprichosa roleta...”
Miguel Torga
"Eu nunca acreditei no Diabo - como nunca acreditei em Deus.
Jamais o disse alto, ou o escrevi nas gazetas, para não descontentar os poderes públicos, encarregados de manter o respeito por tais entidades:
mas que existam estes dois personagens, velhos como a Substância, rivais bonacheirões, fazendo-se mutuamente pirraças amáveis, - um de barbas nevadas e túnica azul, na toilette do antigo Jove, habitando os altos luminosos, entre uma corte mais complicada que a de Luís XIV; e o outro enfarruscado e manhoso, ornado de cornos, vivendo nas chamas inferiores, numa imitação burguesa do pitoresco Plutão - não acredito.
Não, não acredito! Céu e Inferno são concepções sociais para uso da plebe - e eu pertenço à classe média.
Rezo, é verdade, a Nossa Senhora das Dores:
porque, assim como pedi o favor do senhor doutor para passar no meu acto; assim como, para obter os meus vinte mil réis, implorei a benevolência do senhor deputado; igualmente para me subtrair à tísica, à angina, à navalha de ponta, à febre que vem da sarjeta, à casca da laranja escorregadia onde se quebra a perna, a outros males públicos, necessito ter uma protecção extra-humana.
Ou pelo rapapé ou pelo incensador, o homem prudente deve ir fazendo assim uma série de sábias adulações, desde a Arcada até ao Paraíso.
Com um compadre no bairro, e uma comadre mística nas alturas - o destino do bacharel está seguro."
eça de queirós
bvtana
26.3.06
Innuendo
“Sois charmant et tais toi”
Baudelaire
“Personne ne m´a jamais paru avoir dans la conversation un charme comparable au sien…
Elle ne parlait que par nuances; jamais elle n`a dit un bon mot; c´était quelque chose de trop exprimé.
Les bons mots se retiennent, et elle ne voulait que perdre ce qu´elle disait.
Les bons mots se retiennent!”
Charles Maurice Talleyrand-Périgord
bvtana
O modelo meridional
"Partindo praticamente do nada consegui chegar aos píncaros da miséria"
groucho marx
"Manuel Castells, o catalão que se transformou em guru dos modelos de desenvolvimento assentes em inovação e novas tecnologias, costuma apresentar os Estados Unidos, a Finlândia e alguns países asiáticos como casos de sucesso nos quais a Europa deveria inspirar-se para sair do buraco em que caiu. Numa das últimas vezes em que esteve em Portugal, questionado acerca da eventual existência de um modelo meridional (Espanha, Itália, França, Portugal...), foi claro "Se existe, não o encontrámos, a não ser que se queira transformar a incapacidade em modelo."
(jmfernandes-dn-27.6)
bvtana
25.3.06
Verticalmente
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos
frente ao precipício
e cair verticalmente no vício.
guido sarrasa
24.3.06
O bom e natural acerto
Viseu, 24 Mar (Lusa) - O ministro do Ambiente, Francisco Nunes Correia, recomendou hoje cautela no processo de regionalização política, discordando da sua concretização a curto prazo, e defendeu que Portugal não tem um défice de re presentantes políticos.
Nunes Correia iniciou a sua intervenção nas jornadas parlamentares do P S, em Viseu, dedicadas à "modernização da Administração Pública", declarando que "existem mais dúvidas do que certezas quanto à arquitectura territorial do Esta do".
"Isso deve fazer-nos dar passos prudentes, cautelosos", disse, salienta ndo várias vezes que o próximo ciclo de fundos comunitários, para o período 2007 -2013 e os seus critérios de distribuição têm de ser tidos em conta na definição da estratégia de organização do território nacional.
O ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimen to Regional considerou que a adopção da regionalização política, "ou seja, a eme rgência de um mandato de governação à escala regional", poderia trazer "mais obs táculos do que vantagens à boa articulação das políticas públicas".
cristovao do vale
Soltas de Kubanacam
"O 'Circo' vale a pena?
Os primeiros três resumos diários, às 21.20, ficaram ao acima do share diário da TVI, mas abaixo do que as suas propostas costumam fazer em horário nobre. Basta fazer as contas: qualquer novela, Batanetes ou Prédio do Vasco faziam mais do que os 14% de rating que o Circo (para já) está a fazer."
Dn-24.3
"Dois países da antiga Europa de Leste à nossa frente em riqueza por Habitante. Desde 1999, caímos de 14º para 18º lugar na Europa a 25."
Público-24.3
"... o cabelo comprido acima do tamalho regulamentar democrata-cristão exibido por Paulo Portas no Estado da Arte é igual ao de Condoleezza Rice. Principalmente nas patilhas à guarda-freios da Carris, confirmou Narana Coissoró ao IP..."
Inimogo Público-24.3
"'Sexy' é António Pires de Lima"
A. Sá Lopes - Dn-24.3
crisdovale
23.3.06
O mais secreto bailar
Mar sonoro, mar sem fundo mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós.
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.
Sophia Mello Breyner
Mar Sonoro
guido sarrasa
Uma habilidade
"Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações.
A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse.
A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio.
A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva.
À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espectáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade."
Eça de Queiroz
Distrito de Évora (1867)
cristovaodovale
O curioso porém
Dizia uma vez Aquilino...
Dizia uma vez Aquilino que em Portugal
os filósofos se exilavam ainda em seu país
(v.g. Spinoza). O curioso porém
é que também ninguém foi santo lá:
os nascidos em Portugal foram todos sê-lo noutra parte
(St. António, S. João de Deus, etc.)
e outros santos portugueses, se o foram,
terá sido, porque, estrangeiros que eram e em Portugal
vivendo, não tiveram outro remédio
(v.g. Rainha Santa) senão ser santos,
à falta de melhor. Oh país danado.
Porque os heróis também nunca tiveram melhor sorte
(Albuquerque e outros que o digam) a menos que
tivessem participado de revoluções feitas
"em vez de" (v.g. o Condestável que fez
fortuna e a casa de Bragança e acabou só Santo quase).
Jorge de Sena
bvtana
Esperteza saloia
O Valor da Ingenuidade
"O maior perigo que corre o ingénuo: o de querer ser esperto.
Tão ingénuo que cuida, coitado, de que alguma vez no mundo o conhecimento valeu mais do que a ingenuidade de cada um. A ingenuidade é o legítimo segredo de cada qual, é a sua verdadeira idade, é o seu próprio sentimento livre, é a alma do nosso corpo, é a própria luz de toda a nossa resistência moral.
Mas os ingénuos são os primeiros que ignoram a força criadora da ingenuidade, e na ânsia de crescer compram vantagens imediatas ao preço da sua própria ingenuidade.
Raríssimos foram e são os ingénuos que se comprometeram um dia para consigo próprios a não competir neste mundo senão consigo mesmos. A grande maioria dos ingénuos desanima logo de entrada e prefere tricher no jogo de honra, do mérito e do valor. São eles as próprias vítimas de si mesmos, os suicidas dos seus legítimos poetas, os grotescos espantalhos da sua própria esperteza saloia.
Bem haja o povo que encontrou para o seu idioma esta denunciante expressão da pessoa que é vítima de si mesma: a esperteza saloia.
A esperteza saloia representa bem a lição que sofre aquele que não confiou afinal em si mesmo, que desconfiou de si próprio, que se permitiu servir de malícia, a qual como toda a espécie de malícia não perdoa exactamente ao próprio que a foi buscar.
Em português a malícia diz-se exactamente por estas palavras: esperteza saloia.
Parecendo tão insignificante, a malícia contudo fere a individualidade humana no mais profundo da integridade do próprio que a usa, porque o distrai da dignidade e da atenção que ele se deve a si mesmo, distrai-o do seu próprio caso pessoal, da sua simpatia ou repulsa, da sua bondade ou da sua maldade, legítimas ambas no seu segredo emocional.
Porque na ingenuidade tudo é de ordem emocional. Tudo. O que não acontece com as outras espécies de conhecimento onde tudo é de ordem intelectual. Na ordem intelectual é possível reatar um caminho que se rompeu. Na ordem emocional, uma vez roto o caminho, já nunca mais se encontrará sequer aquela ponta por onde se rompeu.
O conhecimento é exclusivamente de ordem emocional, embora também lhe sirvam todas as pontas da meada intelectual. "
Almada Negreiros
(Ensaios)
brventana
O torrão e o quintal
"- Na Agricultura, há coisas que estão a ser geridas com os pés e com arrogância...
(Pacheco Pereira)
- Talvez haja, não estou bem dentro dessas coisas...
(Jorge Coelho) "
sic-noticias-23.3
cristovão do vale
22.3.06
Abordagens
"Mas, meus senhores, antes de tudo não temos marinha. Singular coisa! Nós só temos marinha pelo motivo de termos colónias, mas justamente as nossas colónias não prosperam porque não temos marinha! A nossa marinha, ausente dos mares, sulca profundamente o Orçamento.
Gasta 1.159.000$00!
(...)
A Pedro Nunes está em tal estado que, vendida dá uma soma que o pudor nos impede de escrever. O Estado pode comprar um chapéu no Roxo com a Pedro Nunes mas não pode pedir troco.
O Mindelo tem um jeito: é andar de lado; e uma teima: deitar-se. No mar alto, todas as suas tendências, todos os seus esforços são para se deitar. Os oficiais de marinha que embarcam neste vaso fazem disposições finais. O Mindelo é um esquife- a hélice.
A Napier saiu um dia para uma possessão: chega, e não pode voltar. Pediu-se-lhe, lembrou-se-lhe a honra nacional, citou-se-lhe Camões, o sr Melício, todas as nossa glórias. A Napier insensível não se mexeu.
(...)
O arsenal,humilhado no género navio, começou a tentar o género lancha. Fez uma a vapor. Lança-se ao Tejo, alegria nacional, foguetes, bandeirolas, e a lancha não anda! Dá-se-lhe toda a força, geme a máquina, range o costado, e a lancha imóvel! Mas de repente move-se: a alegria inesperada e desilusão imediata! A lancha recuava: tinha-se erguido uma brisa que a repelia. Em todas as experiências a lancha recuava com extrema condescendência: brisa ou corrente tudo a levava para trás. Para diante não ia. Pegava-se. O arsenal tinha feito uma lancha a vapor que só podia avançar...puxada por bois. O país riu durante um mês.
O arsenal roeu a humilhação, e encetou a espécie caique. Ainda o havemos de ver, no género construção em madeira, cultivar o...palito!"
Eça de Queirós
cristovaodovale
Ernesto y Antonio
HEMINGWAY AND BULLFIGHTING
[Excerpts from José Luis Castillo-Puche's Hemingway in Spain:A Personal Reminiscence of Hemingway's Years in Spain.]
Since in the bullring Ernesto hoped to find not only the grace note of aft that embellishes life, but also the breath of immortality that would enable him to tolerate the nothingness of existence, the bullring came to be the one path of escape he attempted to follow.
...he had hung out above all in the callejon-the passageway for the matadors behind the wooden fence-seeking to learn the secret of Spanish stoicism.
The matador is like the celebrant of a sort of sacred rite, to use Hemingway's definition, or the depository of a sacred treasure, to use an irreverent but similar figure of speech.
The torero is death's intermediary: he has the power to both give and receive it. And on approaching the mystery of death, it is not only his own death but a death that belongs to all those in the plaza de toros who are willing and able to receive it.
The bullfight involves a kind of liturgical emotion; it is a moving sacrifice that is almost religious in character.
"Nobody ever lives their life all the way up except bullfighters." (The Sun Also Rises)
Hemingway's first meeting with Antonio Ordóñez
Son of the bullfighter Niño de la Palma,who was the model
for the young matador and hero of The Sun Also Rises.
Bullfighting was a miraculous solution for him...he began to see life as the great corrida because it is so unpredictable. The corrida might be a few trancelike moments of great valor, an instant of serenity...it may also be helplessness, a ridiculous lack of guts, craven cowardice in the face of the brave bull.
You can't read For Whom the Bell Tolls without Ernesto or Robert Jordan or the guerrillas mentioning something to have to do with the bullring. Event the Spanish Civil War was only an extended metaphor to Ernesto: one long, tragic bullfight.
"Tell me, do you believe in God?"
And Ernesto replied in that half-joking, half-serious way of his, "Well, God to me is like the greatest killer of bulls ever."
"Life is one big bullring and there isn't anyway out of the ring for anyone."
crisdovale
Em pedra não
"Mas quem pode livrar-se por ventura
Dos laços que Amor arma brandamente
Entre as rosas e a neve humana pura,
O ouro e o alabastro transparente?
Quem de uma peregrina formosura,
De um vulto de Medusa propriamente,
Que o coração converte, que tem preso,
Em pedra não, mas em desejo aceso?"
luis de camões
bventana
Spin-doctoring
“Explain to me just why I should waste my time with a load of fucking wankers like you when you`re not going to write anything I tell you anyway”
Alastair Campbell
"…The word spin – doctor, which conveys the greater degree of menace, subterfuge and mystique in the modern PRO `s job, came later.
It originated in the USA and is said to have derived from baseball.
According to Dr Emma Lenz of the Oxford English Dictionary, the first recording use of the term was by Saul Bellow in his 1977 Jefferson Lectures.
The Collins English Dictionary (1999 edition) defines spin – doctor as a person who provides a favourable slant to an item of news, potential unpopular policy, etc., especially on behalf of a political personality or party.
The word was not taken up in Britain until the early 1990`s, when it was indelibly associated with the rise to public prominence of Peter Mandelson and his school of New Labour media experts."
Peter Oborne and Simon Walters
(“Alastair Campbell”)
Bruno Ventana
21.3.06
Qual a lei, tal a grei
"O Supremo Tribunal de Justiça remeteu novamente o processo relativo ao caso de corrupção de Macau para o Tribunal da Boa Hora, onde há 12 anos foi julgado pela primeira vez.
O caso envolve já dez decisões dos Tribunais da Boa Hora, do Supremo e do Constitucional que não se entendem sobre as penas a aplicar a quatro arguidos, condenados em 1994 pelo crime de corrupção activa. Ficou provado que António Strecht Monteiro, Rui Mateus, José Menano do Amaral e Tito de Morais, que entretanto já faleceu, tentaram subornar Carlos Melancia para ganhar concursos na construção do aeroporto de Macau, já depois de num outro julgamento o antigo governador ter sido absolvido de receber o dinheiro."
(Sic on line-21.3)
Ainda não há muito, Joaquim Vieira recordou esta novela.
crisdovale
As coisas nos conjuram
As coisas não se submetem
à nossa vestidura;
na máscara que somos
as coisas nos conjuram.
Por que não escutá-las,
tão sáfaras e puras,
como flores ou larvas,
estranhas criaturas?
Por que desprezá-las
no sopro que as transmuda
com os olhos de favas,
fechados na espessura?
Por que não escutá-las
na linguagem mais dura,
comprimidas as asas
na testa que as vincula?
Despimos a armadura
e a viseira diurna;
a linguagem resvala
onde as coisas se apuram.
Recônditas e escravas
na cava da palavra,
são fiandeiras escuras
ou áspides sequiosas.
As coisas não se submetem
à nossa vestidura.
Carlos Nejar
guido sarrasa
20.3.06
A nação conta com eles
O CDS-PP, à falta de outros entreténs, gosta de juntar-se. Por exemplo, em congresso.
(na fotografia, Ribeiro e Castro aparece recuado e de branco; ao centro, o azougado Portas, via cachorrinho, não larga o osso. Maria José prepara-se para soltar uma ária e Pires de Lima, amarujado, está sexy)
crisdovale
Directas por seis euros...
Num congresso do PSD sem surpresas, com uma unidade apenas sustentada na sobrevivência (hoje de uns, amanhã de outros), foi a JSD que determinou o rumo do congresso.
Já a tarde ia longa, já Marques Mendes tinha cedido tudo a Menezes e a Gomes da Silva (Mendes queria que toda a direcção fosse às directas e os outros queriam que apenas fosse o líder), faltava conseguir o mais difícil - converter a JSD (que entrou no congresso contra as directas).
Mas parece que a conversão dos jovens foi relativamente fácil... Foram apenas seis euros! A JSD vendeu-se por seis euros! A JSD trocou de posição quando Marques Mendes isentou os militantes da JSD de pagar os seis euros de quota anual...
Vale pouco, a JSD...
B. Pinheiro
17.3.06
La grandeza de Gatsby
"La grandeza de Gatsby no es aquella que le atribuye el generoso Nick Carraway - ser mejor que todos los ricos de viejos apellidos que lo desprecian- sino estar dotado de algo de lo que éstos carecen: la aptitud para confundir sus deseos con la realidad, la vida soñada con la vida vivida, algo que lo incorpora a un ilustre linaje literario y lo convierte en suma y cifra de lo que es la ficción. Por su manera de encarar la realidad, huyendo de ella hacia una realidad aparte, hecha de fantasía, y tratando luego de sustituir la auténtica vida por este hechizo privado, Jay Gatsby no es un hombre de carne y hueso, sino literatura pura"
Mario Vargas Llosa
"La verdad de las mentiras"
brunoventana
Protagonistas
O PSD joga no próximo fim-de-semana a sua estabilidade. Ao contrário do que se possa pensar, a manutenção da estabilidade poderá comprometer a ascensão ao poder. Mas a criação de instabilidade poderá significar uma solução que afaste ainda mais que no presente a recuperação da confiança dos portugueses.
Se com Marques Mendes o acesso ao poder poderá não ser fácil, a mudança de liderança induzida pelo resultado deste congresso, caso opte pelo populismo de Menezes, poderá significar o descrédito do PSD junto dos portugueses...
Aqui fica um palpite sobre quais poderão ser os protagonistas do congresso de revisão estatutária do PSD:
Marques Mendes: líder do partido que joga a sua sobrevivência com a aprovação das suas propostas;
Luís Filipe Menezes: O único concorrente anunciado à liderança do PSD. Apresenta uma proposta própria de revisão estatutária que deverá ser bem acolhida no congresso pelo seu conteúdo basista e populista;
Manuela Ferreira Leite: Presidente da Mesa do Congresso. Dela dependerá, em grande medida a forma como decorrerá o congresso. É a única legítima representante de Cavaco Silva, com tudo o que isso pode significar. É tida como reserva do partido e possível congregadora de facções.
Nuno Morais Sarmento: Um dos poucos adversários das "directas". Resta saber se terá grande empenho na defesa da sua posição. É o representante do "Barrosismo". É tido como eventual candidato a voltar as ter poder no partido sem necessariamente ser líder (o que já sucedeu com Barroso e Santana Lopes).
Rui Rio: O outro adversário das directas. Tem o prestígio de ganhar eleições no Porto sem o populismo de Menezes. É tido até como o único resistente nortenho a Menezes. Tem a simpatia de Cavaco e o respeito do partido. É tido como possível candidato à liderança do PSD.
Rui Gomes da Silva: O que resta de Santana Lopes. Apresenta uma proposta de alteração aos estatutos. É um resistente. Sem Santana sente-se órfão...
António Borges: Chegou a ser referido como candidato à liderança. Terá sido sobretudo instrumento de Marcelo Rebelo de Sousa. Hoje parece estar em decadência por não saber lidar com o aparelho do PSD. Ou encontra uma base de apoio que faça aquilo que ele não tem paciência para fazer ou a decadência é inevitável.
Marcelo Rebelo de Sousa: Parece ter voltado a manifestar interesse pela liderança. Estará à espera do momento... Continuará a manobrar na comunicação social e a colocar uns contra os outros com a mestria que se lhe reconhece.
Alexandre Relvas: Não sabemos sequer se estará no congresso (pelo menos neste...). Para quem foi apelidado por Cavaco Silva por"o meu Mourinho". É provável que mais tarde ou mais cedo...
Manuel S. Carneiro
Um bom exemplo...
"António Preto, líder distrital de Lisboa, foi eleito delegado sem ter as quotas em dia"
in "O Independente"
E agora?
António Preto tem sido o homem dos trabalhos sujos dos últimos líderes do PSD (Durão Barroso, Santana Lopes e Marques Mendes).
Malas de dinheiro, financiamento ao partido, tráfico de influências, camionetas de votos... Terrorismo partidário!
Até quando Marques Mendes vai ter que pagar os serviços prestados? Desta vez também o vai proteger?
B. Pinheiro
16.3.06
Play it again Sam
"Amena cavaqueira em Belém
(...)
A conversa foi longa. O primeiro encontro entre o novo Presidente da República e o primeiro-ministro durou duas horas e meia. Foi dado o primeiro passo da «cooperação estratégica», mas os assuntos discutidos na primeira reunião semanal entre Belém e S. Bento estão no segredo dos deuses."
(PortugalDiário-16.3)
... uma noite enevoada na pista do aeródromo de Casablanca. Rick(Bogart) e o capitão Louis Renault (Claude Rans) caminham de costas para o espectador, quando o protagonista profere, em jeito de desabafo: "Louie, acho que este é o começo de uma bela amizade."
bventana
Mago da doblez
"Só conheci um traidor verdadeiro, perfeito : Fouché"
Napoleão Bonaparte
Em 16 de Janeiro de 1793, Joseph Fouché votou a favor da decapitação, na guilhotina, de Luis XIV e de Maria Antonieta.
Em 1815, no dia 1 de Agosto, ao casar-se com a jovem condessa de Castellane, o regicida teve como sua principal testemunha... Luis XVIII, irmão do guilhotinado.
Perante a escandalosa cena do rei amparando-se para caminhar no braço do ministro, Chateaubriand terá exclamado: "O vício apoiado na traição!"
Durante mais de vinte anos, numa das épocas mais complexas e determinantes da História, Fouché, manejando os fios por detrás dos cenários, foi um dos homens mais poderosos de França.
Sobreviveu à Convenção, ao Directório, ao Consulado, ao Império, à breve Restauração, aos "Cem dias" e ao segundo Directório, deixando pelo caminho Danton, Barras, Robespierre, Carnot e Napoleão.
Amoral, demoníaco, maquiavélico, cruel, reptil, frio, cínico, sinistro, intrigante, feio, traidor e assassino, para Heinrich Heine foi "un homem que levou a falsidade ao ponto de publicar, depois de morto, umas memórias falsas."
Talleyrand - um outro sobrevivente que o superou em talentos e maneiras - explicou que Fouché "despreza tanto a humanidade porque se conhece demasiado bem a si mesmo."
Balzac e Stefan Zweig viram-no a uma luz mais favorável. O primeiro tinha-o por "um génio singular, a cabeça mais brilhante que conhecera. O seu biógrafo - "Fouché: um génio tenebroso" - termina o seu trabalho com as palavras " foi o mais excepcional dos homens políticos."
Porque este homem, além de mau, foi astuto, inteligente, ousado, meticuloso, prudente e um fenomenal analista político. Goste-se ou não, como ministro da polícia criou uma organização tão perfeita que, décadas passadas, vários ministérios do interior a tomavam como modelo.
Como animal politico era um predador com o objectivo da sua própria sobrevivência. Não era um psicopata, nem uma besta, nem um torturador, nem um mero assassino.
Este mago da doblez era talvez uma coisa pior: não era nada.
(tirado de um texto de
Nicolás Casariego)
crisdovale
É muito trabalhoso
A TV Como Instrumento Redutor
"Porque é que a TV foi essa «caixinha que revolucionou o mundo»? Faço a pergunta e as respostas vêm em turbilhão.
Fez de tudo um espectáculo, fez do longe o mais perto, promoveu o analfabetismo e o atraso mental. De um modo geral, desnaturou o homem. E sobretudo miniturizou-o, fazendo de tudo um pormenor, isturado ao quotidiano doméstico. Porque mesmo um filme ou peça de teatro ou até um espectáculo desportivo perdem a grandeza e metafísica de um largo espaço de uma comunidade humana.
Já um acto religioso é muito diferente ao ar livre ou no interior de uma catedral. Mas a TV é algo de minúsculo e trivial como o sofá donde a presenciamos. Diremos assim e em resumo que a TV é um instrumento redutor. Porque tudo o que passa por lá chega até nós diminuído e desvalorizado no que lhe é essencial. E a maior razão disso não está nas reduzidas dimensões do ecrã, mas no facto de a «caixa revolucionadora» ser um objecto entre os objectos de uma sala.
Mas por sobre todos os males que nos infligiu, ergue-se o da promoção do analfabetismo.
Ser é um acto difícil e olhar o boneco não dá trabalho nenhum. Ler exige a colaboração da memória, do entendimento e da imaginação. A TV dispensa tudo. Uma simples frase como «o homem subiu a escada» exige a decifração de cada palavra, a relação das anteriores até se ler a última e a figuração do seu sentido e imagem correspondente. Mas na TV dá-se tudo de uma vez sem nós termos de trabalhar.
Mas cada nossa faculdade, posta em desuso, chega ao desuso maior que é deixar de existir. Mas ser homem simplesmente é muito trabalhoso. E o mais cómodo é ser suíno... "
Vergílio Ferreira
"Escrever"
bruno ventana
...da navalha e da taberna
"Fomos outrora o povo do caldo da portaria, das procissões, da navalha e da taberna.
Compreendeu-se que esta situação era um aviltamento da dignidade humana: e fizemos muitas revoluções para sair dela.
Ficámos exactamente em condições idênticas.
O caldo da portaria não acabou.
Não é já como outrora uma multidão pitoresca de mendigos, beatos, ciganos, ladrões, caceteiros, que o vai buscar alegremente, ao meio-dia, cantando o Bendito: é uma classe inteira que vive dele, de chapéu alto e paletó."
Eça de Queirós
brunoventana
O prazo passou
«Santana Lopes diz que desistiu de comprar o Audi porque o presidente da Câmara de Lisboa, a quem escreveu manifestando a intenção de ficar com o carro, não respondeu à missiva. E agora, alega Santana, “o prazo de resposta passou”.»
(correio da manhã)
Está na posse de todas as qualidades. Pronto para novo embate com Torres Couto.
crsdovale
Terceira República
O blog "Quarta República" contribuiu com dois assessores para o recém eleito presidente da república. Susana Toscano e David Justino foram para Belém acompanhar, respectivamente as áreas da educação e assuntos sociais.
Resta saber quanto tempo falta para se retirarem da blogosfera. Isto porque Cavaco Silva não admitirá este tipo de heterodoxia aos seus colaboradores.
Fica um conselho: ou eles se retiram ou o novo presidente dará claras instruções nesse sentido...
Eusébio Furtado
15.3.06
Um autor da própria história
" Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço que a minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."
Fernando Pessoa
crisdovale
Um reformador impaciente
"Todo o português popular é um reformador impaciente. Não há atitude que não avalie, serviço que não comente, governança que não desconheça, ingratidão que não ouse, para maior desembaraço das suas aptidões. Estas podem não ser famosas, mas constituem a soma dum profundo sentido de perseverança e de sacrifício. Quando o mundo se super-humanizar, lá estará o português para achar natural o que acontece, e portanto necessitado de reforma, e por conseguinte de diálogo. O último homem sobre a terra terá de ser um português que duvida do que é natural e que se indisciplina perante a consumação dos séculos.
Há raças mais dinâmicas, outras mais brilhantes; mas nenhuma outra possui o segredo da importunidade que estimula, desassossega, altera, contradiz e, no entanto, não chega a ser violência. Dizei-lhe que a vida é um dom, que o trabalho é uma honra, que o homem é uma criação maravilhosa - e ele, ou vos acha hipócritas, ou ocos e delirantes. Os princípios «a piori» não lhe merecem respeito, e prefere analisar os seus pequenos problemas quotidianos, a obstinar-se na seriedade ou atrofiar-se na eloquência que é a mãe da burla. Ele sabe que a pior injúria é enobrecer a desgraça. Ele sabe que a pior opressão é dar rosto prazenteiro às realidades sinistras."
Agustina Bessa-Luís
'Alegria do Mundo'
(in citador)
cristovaodovale
14.3.06
Lua Cheia
Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
cecília meireles - lua adversa
bvtana
Mas quem seria a mulher vestida de negro?
"(...)
Eu postei-me no lugar no lugar reservado aos repórteres fotográficos, a observar as cavaquianas oscilações expressivas perante ministros, ex-ministros, deputados, ex-presidentes, convidaos ilustres, conhecidos ou desconhecidos.
A ideia era ver desenhar-se a hierarquia da nova ordem nacional no rosto do eleito. Uma brincadeira para entreter o tédio dos rituais protocolares. Na verdade, nunca esperei que algo verdadeiramente interessante pudesse acontecer.
E no entanto...Quem seria aquela mulher? Jovem e alta, vestida de negro, contrastava notoriamente com as outras silhuetas da fila. Quando chegou a sua vez, não se limitou a cumprimentar o Presidente. Aproximou-se estranhamente e falou com ele. Cavaco deixou de sorrir e começou a ouvir com atenção. Ela disse-lhe coisas durante muito tempo. Mais tempo do que Xanana Gusmão ou mesmo o Cardeal Patriarca. Jaime Gama, que estava ao lado, bem tentou revirar o pescoço, para escutar. Em vão. Ela quase falava ao ouvido de Cavaco.
Eu via-a apenas de costas mas, pela subtil veemência dos seus gestos, pareceu-me estar a fazer recomendações. Não sei. O certo é que Cavaco, que cumprimentou personalidades por mais uma hora, não voltou a sorrir.
Não pude deixar de pensar: será um homem como Cavaco susceptível à chantagem? À paixão? À hipnose, à locura? Ao capricho?
(...)
Se Cavaco e o governo aplicarem as políticas correctas talvez safem o país da catástrofe mas não da pobreza, do atraso, da incultura, da pequenez. Não nos salvarão da nossa condição. E é assim que deve ser. Foi para isso que os portugueses elegeram Cavaco. Por ser competente e de confiança. Por ser previsível. Não por ser um homem misterioso, insondável, capaz de fazer uma locura, um milagre.
Mas quem seria a mulher vestida de negro? "
Paulo Moura-Publico, 12 de Março
cristovao do vale
Coisas de flash
A plasticidade do sr Lopes é conhecida. Mas, os seus pulinhos já não estampam assuntos "de Republica".
São coisas de flash.
crisdovale
Negócio interessante
Parece que o carro que Santana Lopes utilizou enquanto presidente da Câmara de Lisboa pode ser comprado pelo próprio. O Audio A8, adquirido por 115 000 euros, vai a leilão pela segunda vez amanhã e a base de licitação baixou de 62 500 para 50 mil euros.
Santana Lopes terá escrito uma carta a Carmona Rodrigues, para dar conta da sua disponibilidade para adquirir a viatura, dizendo-lhe que "vai recorrer a um empréstimo bancário" para acabar com a "lamentável situação".
Consta que as propostas apresentadas até agora não vão além dos 40.000 euros pelo que se antevê um negócio "interessante"... Especialmente notado foi o facto de poder recorrer a um empréstimo bancário... É que quando foi para o governo, consta que tinha alguma dificuldade em obter estes empréstimos...
A carta ao presidente da câmara de Lisboa termina brilhantemente: "Venho assim tranquilizá-lo perante o grande incómodo que certamente tem sido a questão do "carro de Santana"".
B. Pinheiro
A mulher de negro
Um dos mais interessantes - e o mais intrigante - escritos sobre a tomada de posse do Presidente, surgido no Público com o título "A mulher de negro", passou entre os radares sem deixar rasto.
O que também é interessante. E intrigante.
crisdovale
13.3.06
Es lo que es (II)
"La verdad es lo que es
y sigue siendo verdad,
aunque se piense al revés"
Antonio Machado
Como foi recordado em artigo do Expresso de 11.3, "o moderno paradigma da politica cientifica e tecnológica e o da politica de inovação foram introduzidos em Portugal nos governos de Cavaco Silva."
Virá a talhe de foice precisar que esse decisivo salto qualitativo da história da politica de C&T em Portugal foi concretizado pela visão e trabalho persistente de, entre outros, Luis Valente de Oliveira, José Pedro Sucena Paiva, Manuel Fernandes Thomaz, Carlos Salema, Fernando Gonçalves, Henrique Diz, Jorge Alves, Félix Ribeiro, João Caraça, António Xavier e Manuel Carrondo.
No momento em que o actual Primeiro-Minstro pretende, com entusiasmo, promover um novo impulso nesta área crucial para o desenvolvimento do país, é saudável, ao olhar para a frente, conhecer os passos e as gentes que levaram a cabo os anteriores progressos.
crsdovale
12.3.06
É mas é pobre
"Dizem que o português é uma língua rica. É mas é pobre, tem palavras a mais."
Aquilino Ribeiro
" (...) Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal futuro"
bventana