VISTA GROSSA
“E enorme, nesta massa irregular
De prédios sepulcrais, com dimensões de montes
A Dor humana busca os amplos horizontes
E tem marés de fel como um sinistro mar”
Cesário Verde
O maior espectáculo de folclore a seguir das cassetes roubadas chega por mar e dá pelo nome de Barco do Aborto. Liricamente apelidado “Women on Waves”, promete combater o autoritarismo do Governo português e, claro, libertar as oprimidas mulheres portuguesas, lutando para fazer cessar as violações aos seus direitos mais básicos.
No site da “Women on waves”, encontram-se pérolas como esta: “Abortion on our ship: You can make an appointment with us by telephone, email or by visiting the ship. We will inform you about when and where to board the ship.” E adiante: “The pregnancy termination will involve a trip with a ship. You will get a seasickness tablet before departure. If you use any prescribed medicines, pills or inhalers, use them normally and take them with you. Other things you should take along:
- Passport- Information about your Rhesus factor, if known- A change of underwear and sanitary towels.Wear comfortable clothes and shoes, no high heels. During the sea travel you will wait in the mess room of the ship, where you can talk with staff and other clients and have something to drink and eat. After about two hours we will arrive in international waters.”
Promete, assim, a casquinha de noz holandesa proporcionar um misto de Serviço de Urgência, James Bond e excursão turística da Freguesia de Lamelas. O turismo abortivo, já praticado com êxito em várias localidades da terra de nuestros hermanos, avança agora num modelo mais ousado – talvez para atrair o público jovem? – ao estilo Melga/Mike “deixa-me experimentar, deixa-me experimentar!”.
Não se esqueça a intrépida futura visitante do Borndiep de ler mesmo a informação so willingly provided pelas suas salvadoras holandesas nem de seguir seus sábios conselhos, em especial, lembre-se de “check-up to confirm that the abortion is complete” , como diligentemente explica o mesmo site.
Para o ano, organizações de defesa das mulheres (?), Pedro Nuno Santos e a sua gente de sangue na guelra preparam mais iniciativas lindas: se Manuel Alegre ganhar a corrida no PS, jovem Pedro confirma a vinda de uma associação de separatistas-abortistas tchetchenas, que abrilhantarão as IVG a realizar no Rato com serões literários; se a sorte bater à porta de João Soares, o activo Pedro Nuno fecha acordo com uma companhia aérea de tarifas baixas, para grandes razias aos monumentos nacionais e sorteio de um magnífico diamante; se a vez calhar a José Sócrates, a pândega também está assegurada: parapente, salto invertido, rappel e paint ball, entre muitas, muitas outras.
O aborto passou a ser assunto do mar e a oposição regozija-se com a oportunidade de daí extrair dividendos políticos. É extraordinário como o debate em torno de uma questão que merece uma abordagem serena e séria se metamorfoseia numa espécie de revivalismo Maio de 68, histeria latino americana e turismo a preços light.
Se a questão não fosse de facto séria, a angariação de cobaias em lanchas para visitar o defensor dos direitos das mulheres e a quase romântica tentativa de chegar ao Barco do Aborto, pavilhão da liberdade, pelos pequenotes socialistas como se fossem refugiados, mereciam figurar num filme de Leslie Nielsen.
Avalon