28.9.04

ET PLURIBUS UNUM

O vício já está a esmorecer?

Seja como for, haja o que houver, Trapp, tire o João Pereira.

Por favor.


Bv

O BLAIRISMO À TRANSMONTANA

"Aceitava os agradecimentos com uns ares de modéstia, última demão que faltava ao esplendor de tantas maravilhas"

Camilo (O judeu)


O "Minha Rica", nada de falsa modéstias, acertou em pleno no resultado deste combate (vd. "O Partido de Cristo Ressente-se"). É certo que todos os que deram alguns momentos de atenção ao assunto acertaram também, mas a chave das razões fundas onde os porquês se aconchegam e ordenam, demo-la logo em Agosto.

Assente a primeira poeira, vejamos por ora o produto:



80%

Com sainete

Com a cartilha de Alastair Campbel no bolso do casaco Armani , o animal feroz de Trás-os-Montes desceu das noites do Bairro Alto ao povoado socialista e arrebatou cubas e pipas.

Deixou os outros a côdeas.

É certo que, carimbando o passaporte, tinha falado com o Jorge Coelho, mas daí a triturar a concorrência vai a distância dos ideais (socialistas) ao apetite (pela governação da terra lusa).

Vamos almoçar ! foi o brado do eleitorado socialista.

Com o centro político do país feito campo aberto e a trajectória do Governo PSD/PP a lembrar a da corveta Saragoça, está a ficar tudo pronto não para uma nova versão do guterrismo, trémula gelatina, mas um blairismo à transmontana que, com sorte e retoma, porá a direita nacional à porta da adega por vários e frios Invernos.



16%

Com donaire

O resultado é frouxo, as odes doutros tempos, mas a rima e a entoação foram galhardas. Voltará aos robalos e perdizes ungido como o último moicano de uma certa ideia de esquerda, rebuçado no manto de uma cantiga, por vezes generosa, que já perdeu o embalo pelos finais do século passado.

Fica à ilharga do novo poder um tinir de esporas, o alegrismo, que poderá, talvez, levar um tremolo à orquestra em tardes de romaria.



4%

Sem vestígios

4% (!) dos votos não é um resultado. É uma corrida a varapau.

Aturdido como uma coruja na luz, borralheiro, mas com o fino faro político que "os portugueses fazem o favor de reconhecer" que é o seu, Soares, que se mirrava por ser líder, não por gloriola, não por perrice, mas para "travar combates", tem agora por diante a tarefa de dar seguimento à sugestão de direitura que o agudo eleitorado socialista lhe receitou: o Pólo Norte.


Bruno ventana

A SUPRESSÃO DO MINISTÉRIO DA INSTRUÇÃO PÚBLICA


Rafael Bordao Pinheiro (1846-1905)
In O António Maria, Lisboa, 5 de Março de 1892, p. 400.

"Graças á vassoura do sr. presidente do conselho, a Instrução publica acaba de ser lançada ao lixo.
Passou d'um palacio para um barril. Por Deus! nã lhe bulam mais. Deixem-na agora estar que está bem."

Purprazer

24.9.04

EVASIVAS IRRISÓRIAS

“Vejo em baixo o jardim arrasado. Quando cheguei eu disse-me vou arranjá-lo de novo. Criar nos canteiros lilases e rosas. Armar uma grade para as trepadeiras. Criar árvores novas. Recompor a vida por sobre as ruínas. Mas nada ainda fiz.”

Vergílio Ferreira, “Cartas a Sandra”



Portugal padece de uma maleita de há muito, que é a falta de brio. São inúmeras as análises já feitas e as explicações aventadas. As soluções escorrem e os desalentos perduram. O mal português é, contudo, e somente um mal dos portugueses. Não se deve falar disto, para não se ser acusado de crime de lesa-pátria e apontado como velho do restelo, pelas sublevações em defesa de um sentimento de sebastianismo renovado.

É bom ser português. Comece-se antes assim.

E a isto junte-se que há perfeita noção da falácia das generalizações precipitadas. E, agora, sim, talvez se possa voltar a tentar iniciar o discurso da cauda da Europa. Portugal é um país que vive, de casa à escola, da arraia-miúda à graúda, num permanente estado de falta de brio.

Que é diferente de preguiça.

Que é diferente de corrupção.

Que é diferente de falta de auto-estima.

É o despotismo do funcionário medíocre quando tem uma nesga de poder.

É o deixa andar.

É a ausência de cultura cívica.

É o apresentar-se como “dr qualquer coisa”, os arreios desfazados da ocasião, os bués e fixes e outros linguajares de sintaxe duvidosa.

Em Portugal, há laivos de ecce homo que, como laivos que são, fazem notícia até à exaustão.

Quando se tenta fazer política, depara-se com esta resistência que é a falta de brio, esse misto de incompetência e falta de vergonha.

Essa doença que produz as iliteracias eruditas da chamada escrita light, que em português significa “livros para quem não gosta de ler”.

Produz, também, os pensadores de esquerda revolucionária, os cristãos-novos chocarreiros que afirmam como suas as causas da cultura, da ciência e do ambiente.
É, ainda, a responsável pela existência de ficções de pessoas com categoria, que se amontoam em páginas de revistas cor-de-rosa, versão paupérrima da Alegoria da Caverna.


Portugal, hoje, é o mesmo de Eça, “uma versão em calão do que se faz em Paris.”


Avalon

23.9.04

CANÇÕES DE EMBALAR

"You see things and ask ”Why?”; but I dream things and ask “Why not?”
George Bernard Shaw


É conhecida a afeição de João Soares pelo esotérico. Há uns anos, já ameaçava que sentia existir uma relação mágica entre a Câmara de Lisboa e a Presidência da República. Este ano, esmerou-se em demonstrar o dom que acredita ter, acusando os seus companheiros de partido daquilo que se foi lembrando, e agora fazendo comparações ininteligíveis entre declarações de IRS e quotas do partido, desejando que todos pudessem votar, todos os que se “identificam com o PS” (o que quer que isso seja).

Será que se convenceu que em criança caíu no caldeirão da poção mágica, qual Obelix?


Avalon

OS BEBEDORES DE AMERUTE

"...não comemos outra coisa senão os limos que achamos na babugem da agoa ."


Há dias, o interessante e civilizado « Professorices » rebateu um post da "Minha
Rica" e recebeu, a seguir, correio amigo de leitores, louvando sobretudo a
ausência de "autoritarismo" do seu autor.

Lá no meio do dito correio aparecia uma mensagem bem bonita, em que o autor,
todo limpinho e pudibundo, se insurgia contra o "levar a sério" blogues
anónimos.

E quem é este cavaleiro andante?

Parece tratar-se de um sr. António Granado.

Mas, será que é o mesmo que, na entrada dos anos 90, batalhava sem desfalecer
nas páginas do "Público", em prol do Mandarim, esse, o do pagode.

As suas opiniões, as suas críticas, os seus anseios, as suas lutas e os seus
parágrafos tinham sempre uma característica: eram tal e qual as do Mandarim.

Sempre.

Fez, pois, jus ao título de mandarete.

Na peugada dos maninhos mais crescidos, que pululavam no "Público" e no
"Expresso", saídos da meiga incubadora fabricada pelo Mandarim na velha JNICT,
com o aperaltado nome de "Núcleo de divulgação científica" e com o dinheiro do
contribuinte (a propósito, que será feito do espólio da Filmoteca de CT ?)

Eram eles, entre outros, o inefável Malheiros, conhecido como "porta-voz", o Rui
Cardoso, o Rui Trindade e a Filomena Naves. Mandaretes de primeira linha. O bom
do Granado, se bem que de segunda linha, não desmereceu na continuada labuta.

Jornalistas de política científica e tecnológica. Bem bonito.

Todavia não tinham isenção, eram acríticos em relação ao padrinho, e vesgos de
raiva contra quem com ele não pactuava, que, para seu azar, era (e é)o melhor da
comunidade científica.

Não foram aprumados como jornalistas.

Eram, verdadeiramente, uns gambozinos políticos.

Ora o sr Granado continua o mesmo. Acrítico e rastejante, ainda se eriça.

E está agora preocupado com anonimatos?

Não esteja, que eu vou-lhe contar uma coisa:

Sou o gajo que abonou decisivamente o seu pedido de uma bolsa nos Estados Unidos
junto da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.

E sabe porquê?

Achei que o António Granado escrevia bem e que, apesar de tudo, valia mais que
os outros.

Enganei-me.

Paciência (e tecnologia)


Cristovao do vale

BILHETE DE VALE DE LOBOS

"Um dos círculos menos disputados era, nessa ocasião, o de Freixo de Espada à
Cinta.

Propunha-se como deputado da oposição um obscuro Gervásio Maldonado,
proprietário local, com uma parentela larga na terra, interesses de lavoura,
etc., e o Governo Cardoso Torres combatia-o, apresentando na lista
governamental, como candidato por Freixo de Espada à Cinta, o moço bacharel
Artur Gavião, filho do Presidente do Banco Nacional, que o pai, cansado da sua
dissipação, queria forçar, pelos deveres que lhe imporia S. Bento - isto é o
Parlamento - a uma vida disciplinada, sóbria e útil.

Conta-se que o sr. Alexandre Herculano, a este respeito, dissera, com aquele
espírito misantropo que a sua voz ríspida acentuava de um relevo amargo:

Se o Gavião queria morigerar o rapaz, devia-o conservar no bordel, e não o
mandar para o Parlamento !"

Eça de Queirós


Bruno ventana

20.9.04

ET PLURIBUS UNUM

Voltámos a um vício saboroso e antigo, o vício de ganhar.

FASCINANTE ENIGMA


Em mentideros e tertúlias, a pergunta do momento é : mas, afinal, quem é Avalon?

Como não sou de alvoroços, vou contar: é um encanto.


Cristóvão do vale

RELANCE É COM EÇA

" Tinha muita lição de livro mau donde sacava virtuosas parvoiçadas, mas habitava nele um gosto depravado pelo fadinho e um justo amor pelo bacalhau de cebolada"

" E agora volvamos os olhos para Portugal. Em Portugal nessa época, não vejo que se passe coisa alguma, a não ser que o Ministério Cardoso Torres acaba de declarar que o seu programa será: Ordem, Moralidade e Economia.

É pois nesta serena e calma unidade nacional que Alípio Abranhos aparece e entra a passos largos nos umbrais da História.

A maneira como Alípio Abranhos foi eleito deputado parece inteiramente providencial. O Ministério Cardoso Torres tinha, como é sabido dos que conhecem a história política dessa época, dissolvido as Câmaras. O Ministério antecedente, denominado Ministério Bexigoso ( de cinco ministros, coincidência singular, três eram picados das bexigas ) não caíra segundo os métodos parlamentares: aluíra, sumira-se.

Em plena maioria, sem razão, sem discussão, de repente, desaparecera - caso singular, depois muitas vezes repetido, e comparável à conhecida catástrofe da corveta Saragoça. A Saragoça, num dia delicioso de Junho, num mar tão calmo como uma larga taça de leite, sem borrasca, sem vento, caiu no fundo do mar. O casco, parece, estava tão podre que se dissolveu como açúcar numa xícara de chá. Um indivíduo que estava na esplanada vendo-a dar uma curva magnífica sob um sol resplandecente, abaixou-se para atar um atilho do sapato, e, ao erguer-se, não viu mais a corveta: sondou ansiosamente com o óculo o horizonte azul - ferrete; olhou aflito em redor, pela praia; mesmo num gesto grotesco mas muito naturalmente instintivo, apalpou sofregamente as algibeiras: - nada! O mar brilhava sereno, azul, imóvel, coberto de sol.

O Ministério Bexigoso acabou como a corveta Saragoça. O novo Ministério foi portanto tirado do mesmo grupo da maioria - e, consequentemente, dissolveu as Câmaras, precaução exagerada, porque os chefes da maioria afirmavam ao ilustre Dr. Cardoso que dariam ao novo Governo - se ele, como o Governo anterior fosse pela Ordem, pela Moralidade e pela Economia - um apoio eficaz e homogéneo.

Razões facilmente compreensíveis determinaram o Dr. Cardoso Torres a persistir na dissolução - tanto mais que no primeiro Conselho de Ministros, o Dr. Cardoso e os seus colegas, conferindo a lista de parentes, amigos e notabilidades que desejavam fazer entrar na Câmara, reconheceram que necessitavam de vinte e três círculos, e que havia apenas, presentemente, quatro vagaturas. E como, além disso, esses vinte e três indivíduos eram geralmente homens de ilustração, de respeitabilidade, de boas letras e de fortuna, a dissolução era justa.

S. M. concedeu - a - o que produziu aquele artigo célebre do Estandarte, jornal do Governo dos Bexigosos, que ameaçava S. M. com a sorte de Luís XVI ou de Carlos I - exactamente oito dias depois do artigo em que o mesmo jornal comparava S. M. , pelas virtudes, a Tito, pela justiça, a S.Luís, e pelo respeito da Constituição, à Rainha Vitória!

A resposta do Globo, jornal do Dr. Cardoso Torres, foi enérgica: dizia que só se podia responder com um chicote a um jornalista que ameaçava com o cadafalso S. M., que, pelas virtudes, estava muito acima de S. Luís e, pelo respeito à Constituição, era incomparavelmente superior a Sua Graciosa Majestade a Rainha Vitória - eloquente artigo e que apareceu exactamente quinze dias depois de outro, violento, em que, então na oposição, o redactor do Globo, inspirado pelo Dr. Cardoso, dava claramente a entender que o fim provável de S. M. seria a guilhotina de Luís XVI, ou pelo menos o cadafalso de Carlos I ! "

E. de Queirós


brunv

NOSTALGIA

"Smiling despair. No solution, but constantly exercising an authority over myself that I know is useless. The essential thing is not to loose oneself, and not to loose the part of oneself that lies sleeping in the world"
A. Camus


" .But there was more to Kennedy than matinee idol at the down of the age of mass political merchandising. Beyond his looks - the recently disciplined shock of chestnut hair, the smiling stand of teeth, the gray, calculating eyes - the matrix of the man was unusual. He had an open, inquiring mind, a passion for ideas that was largely undulled by the neurotic and atomized practice of politics, and an experiencing nature that bordered on Dionysian. Despite the chaos and exposure of the previous week, he had found the time and motivation to consort sexually with Judith Campbell, Marilyn Monroe and the former wife of a diplomat.

...

The title of the Esquire article," Superman comes to the Supermarket", suggested that Jack Kennedy could bridge cultural and political opposites and satisfy a deep yearning in the body politic. He could be Nietzsche`s superman, "a world historical individual" who could enter the undifferentiated commercial uniformity of the supermarket and impart heroic meaning to national and, even, individual life:


It was a hero America needed, a hero central to his time , a man whose personality might suggest contradictions and mysteries, which could reach into the alienated circuits of the underground, because only a hero can capture the secret imagination of a people, and so be good for the vitality of his nation; a hero embodied the fantasy and so allows each private mind the liberty to consider its fantasy and find a way to grow."*

R. D. Mahoney

Norman Mailer*


Bruno ventana

17.9.04

ENTREVISTA COM MINISTRA DA EDUCAÇÃO


Não, não fomos nós. O Anarca Constipado conseguiu... Vale a pena ler.

CIÊNCIA ALEGRE

Alegre defende reforço da Ciência

2%!!!
O poeta voga ,aparentemente tranquilo, no mar da irrealidade. Nem o Choque Tecnológico (ou, tendo em conta a morte do puritanismo processual - Cheque Tecnológico) da dupla Sócrates/Mandarim chega tão longe...

No Jornal de Notícias

BIBLIOTECA AUREA

“A mais encantadora das bibliotecas publicadas
em português

A preferida por todas as mulheres,
quer pela sua apresentação,
quer pelos trabalhos nela publicados

Estes volumezinhos vendem-se encadernados em lindos cretones de fantasia,
em percalina, em chagrin ou em camurça “


( Anúncio -1925 )

PÁTIO DAS CANTIGAS NA ALDEIA DA ROUPA BRANCA

(OU A VERDADE SEGUNDO MATEUS)

“Se a política do nosso país já é pequena como ele, se degenera em desavença de senhoras vizinhas, que fará nas terras pequenas deste país, em que muito acima dos princípios e dos partidos estão os mexericos e as vaidadezinhas que brotam como tortulhos à sombra das árvores do campanário? “
J. Dinis (Morgadinha dos canaviais)


Terça-feira à noite, falando para o seu atento valet de chambre, na SIC- Notícias, Mário Soares deambulou pela actualidade nacional e internacional sem dar azo a que se retivesse grande coisa, quando, de súbito, “agarrou” em José Maria Aznar e, sem mais aquelas, atirou-o pela janela fora.
E, arrumando o assunto, deixou cair de mansinho que até “vigarices” (do tempo do Zé Maria) têm, agora, “aparecido”.

Descontando a costumada elegância, o que se pergunta é onde foi buscar o antigo líder do PS aquela ideia. A que livro, jornal, rádio ou televisão? Como não adiantou nada sobre o assunto, será pois de presumir que pode ter sido a uma roda de amigalhaços, a uma mesa de café, a uma conversa na praia, ou mesmo a um telefonema do Zapatero.

Mas, ao validar-se esse género de informação, apregoando-a, como classificar, por exemplo, aqueles casos, em que alguém intimamente identificado com o assunto que descreve e aprofunda, passa para um livro de 374 páginas (83 páginas de documentos), sistematizado, com factos, datas, locais, contextos e sequências, um encadeamento de situações e atitudes que aponta concretamente enredos e labirintos indecorosos (Rui Mateus, Contos proibidos – Memórias de um PS desconhecido, D. Quixote).

Só pode, certamente, ter validação mais forte.

Escreveu, a propósito desse caso, José Amaro Dionísio no “Expresso” de 5 de Abril de 1996:

“Chamando as coisas pelo seu nome, do que Rui Mateus fala quando fala das memórias de um PS desconhecido é de tráfico de influências, financiamento oculto de partidos, indícios de desvios de fundos públicos, ligações dúbias de titulares de cargos do Estado ao mundo dos negócios, cheques fantasmas, fugas ao fisco, concorrência desleal, favorecimentos, abuso de poder e ingerência de países estrangeiros nos assuntos de Portugal.”

Os visados responderam que nada respondiam.

“Mas, apesar da impunidade terceiro-mundista dos visados, da conivência da classe política, do silêncio da justiça, e da ordem de marcha ao jornalismo de cortina, o que o livro de Mateus traz a público é um xeque ao regime com o qual cedo ou tarde o regime terá de confrontar-se sob pena de putrificar-se no seu branqueamento. Com a História à espreita – e como as tentativas falhadas do estalinismo mostraram, não há culto da personalidade que consiga reescrevê-la.”

“Vigarices” ? do Zé Maria !?!


Cristovao do vale

ESTAMOS EDIFICADOS

“Conta que ele foi typographo em Coimbra para pagar os estudos. Não havia de gastar muito se pagou o que sabe.”
Camilo C. Branco


“Ainda somos o que vamos deixar de ser e já somos o que seremos”
Paul Eugéne Charbonneau


“O grande mistério não é termos sido lançados aqui ao acaso, entre a profusão da matéria e das estrelas; é que, da nossa própria prisão, conseguimos extrair, de dentro de nós mesmos, imagens suficientemente poderosas para negar a nossa insignificância”
André Malraux


“…esses apenas produzem vegetalidades de folhagem amarellada, e alguns tortulhos bravos de espécie venenosa rajados pela peçonha das velhas inépcias.”
Camilo C. Branco


“ Os humanistas, à força de fechados no sricptorium, quando falavam uns com os outros não perdiam de vista a linha das suas sombras no chão. Sete palmos de terra os rasariam por fim.”
Vitorino Nemésio


“ As coisas são o que são e as suas consequências serão as que serão. Por isso, para quê tentarmos enganar-nos a nós próprios?
Bispo Butler


Brunov

AS “NARCISICES” DO “PROFESSORICES”

“Always forgive your enemies. Nothing annoys them so much.”
Oscar Wilde

Por entre o caudal lamacento que povoa a discussão pública digna desse nome, eis que se ergue uma voz inconformada, disposta a trazer luz aos problemas do mundo do ensino em Portugal. É JVC, no seu blog Professorices, a que de resto, o Minha Rica, desde a sua génese, faz publicidade.

O Professorices é um blog interessante, que combina o comentário com o diário do seu autor, numa tentativa de combinar o estilo académico reivindicativo com o traço fino de escritor de pluma. O leitor deleita-se, pois, com as divagações em torno do que é, poderia-devia ser um mundo ideal na Academia com os episódios da vida particular do mestre, a polvilhar a agrura da escrita séria com o saber de parábola.

O Professorices é um exercício de leitura interessante, porque é um retrato de um enraizado espírito que se não ousa assumir: o autoritarismo, sob a falsa capa de uma bonomia intelectual vanguardista.

Num dos seus mais recentes contributos, JVC discorre sobre a autonomia universitária num impressivo documento de uma centena de páginas, em que começa por denunciar “a descoordenada reforma legislativa iniciada pelo Prof. Pedro Lynce”, para acabar com propostas que importa de modelos estrangeiros e cuja radical diferença com as “tais da reforma descoordenada” ficam para o leitor descobrir. É defensor da colegialidade compatibilizada com unipessoalidade e não se assume como incondicional da participação exacerbada dos estudantes.

Para não ferir susceptibilidades, JVC dirige-se aos estudantes que eventualmente estiverem a ler o seu escrito (e como os estudantes são leitores assíduos de escritos sobre a autonomia e modelo de gestão universitário!...), acalmando-os com a sua pitada paternal “Vão continuando a ler com paciência e abertura de espírito.” (frase, que na versão original, principiava vocativando:”Ó meujamigos-jejejeje”.

JVC também cai na armadilha do estrangeirismo. Defende o empreendedorismo, afirmando que as universidades são empreendedoras (entrepeneurial universities), ao melhor estilo let’s look at the traila. Insiste na comparação com os Estados Unidos, o que como exercício retórico é desculpável, mas empiricamente infrutífero, dada a fulcral distinção histórica e tradição de uma cultura universitária europeia que precede em séculos o arguto George Washington.

Independentemente das propostas apresentadas, há que reconhecer que o efeito ricochete mina qualquer reforma, porque independentemente do tipo de órgãos, não pode ser feita uma implosão das universidades. O problema das universidades é tão só um eufemismo para o problema de Portugal, que é intrinsecamente sociológico.

O final do ensaio/monografia, para ser fiel às palavras do Autor, coroa o ensimesmamento do discurso: dirigindo-se aos seus comentadores indefectíveis, presta-lhes uma “homenagem”, agradecendo a possibilidade de, através da comunicação internética, conviver com universitários de grande qualidade, “com ideias convergentes com as minhas”…o esplendor da flexibilidade.

Mas talvez tudo isto seja um pouco cruel para JVC e as suas “conversas-com-pessoas com-as-mesmas-ideias”. É deixá-lo.

Porque, afinal, do que ele gosta é apenas de dizer coisas.


Avalon

BUSH/ KERRY

“the buck stops here”
H. Truman


As qualidades que importam para o desempenho presidencial e que fazem a diferença para os eleitores, numa dada combinação e num primeiro tempo, e perante a história, noutro conchavo e noutra distância, acabam por ser essencialmente:

- Eficácia como comunicador;

- Capacidade de organização;

-Destreza política;

-Visão ou capacidade de inspirar;

-Especial capacidade cognitiva ou inteligência;

-Inteligência emocional.

Em abstracto, será sempre possível imaginar um presidente inteligente, do ponto de vista cognitivo e emocional, notável comunicador, bom organizador da Administração e da Casa Branca, e dotado de uma visão e de uma habilidade política excepcionais.

No mundo real a imperfeição é inevitável, mas algumas imperfeições são mais determinantes que outras.

Muitos dos modernos presidentes americanos tiveram desempenhos consistentes sem ser oradores brilhantes. Apenas uns poucos mostraram capacidade organizacional. Um patamar mínimo de habilidade política é condição de eficiência presidencial, mas um largo número dos que chegaram à Casa Branca mostrou possuir tal qualidade em elevado grau.

A visão foi mais rara que a habilidade.

Finalmente temos o pensamento e a emoção. A importância da força cognitiva na presidência é uma evidência. Todavia, alguns presidentes revelaram-se intelectualmente impressivos mas com fortes vulnerabilidades temperamentais. Outros o contrário.

Uma ilação fundamental parece poder, ainda assim, encontrar-se:

Cuidado com um candidato presidencial destituído de inteligência emocional. Na sua falta, tudo o resto pode não valer nada.”

Os candidatos de Novembro próximo terão poucas, algumas ou muitas destas qualidades. O que acham os americanos?

O melhor exercício possível nesta matéria na Grande Loja do Queijo Limiano (White house 04 – Bush vs. Kerry )


Fred Greenstein

c/ brunov

16.9.04

MOMENTO IMPAGÁVEL DE HUMOR NEGRO

A não perder no Anarca Constipado

O HINO DE MAIS DE SEIS MILHÕES

Aqui está uma despedida em grande estilo. Com classe.

Sobretudo agora que a Águia, aristocrata e altaneira, vai retomando, soberba, o seu voo imponente.

IVAN, O TERRÍVEL


O furacão IVAN anda por terras do tio Sam, mais precisamente na Florida, depois de já ter passado por outras terras das Caraíbas.

IVAN já esteve classificado, durante a sua passagem pelas Caraíbas, no grau mais elevado - grau 5, a que corresponde uma velocidade do vento superior a 250 Km/h.

A escala Saffir-Simpson, que mede o grau de violência de furacões varia entre o grau 1 e o grau 5.

Agora, sobre a Florida, enfraqueceu e passou ao grau 3 (ventos entre os 180 e os 210 km/h).

Entretanto já matou mais de 60 pessoas.

Toda a informação no National Oceanic & Atmospheric Administration (NOAA)

À BOLEIA

Secretário de Estado do Ambiente dá boleia a Sérgio Paulinho.

Para marcar o início da Semana da Mobilidade, Moreira da Silva desloca-se de comboio até Oeiras para depois pedalar ao lado do vice-campeão olímpico de ciclismo.

Resta saber se para os lados de Oeiras há mais gente a precisar de boleia...

SÉTIMA ARTE

Por falar em links...


A seguir no "Do Portugal profundo"

15.9.04

PLURALISMO...



Ontem à noite, na SIC Notícias, os comentadores eram Luís Delgado e Mário Bettencourt Resendes.

Nem mais nem menos que os dois colegas do Conselho de Administração do gigante da comunicação português Global Noticias.

Global Noticias detida pelo grupo Lusomundo. Grupo Lusomundo detido pelo grupo PT. PT que detém a PT Multimedia. PT Multimedia que detém a SIC Noticias. SIC Notícias onde ontem estavam Luís Delgado e Mário Bettencourt Resendes a “debater”…

Nem Pol Pot…

14.9.04

UM PACTO COM O DIABO OU A BAZUCA LÍQUIDA II


António, Expresso, 12 de Setembro de 2004

Ainda não surgiram reacções...

DE GAULLE E O BOMBEIRO

“Tu não te deites a afogar duma ponte tão baixinha”


Ponta final da corrida ao Rato. Os candidatos, sacudidos, fustigam o desprotegido torrão eleitoral a golpes de enxada.

E, quase diariamente, trazem surpresas.

Em entrevista à SIC Notícias, João Soares, ainda assim mais modesto que Almeida Santos (cuja camaradagem com Cristo é conhecida), foi buscar amparo ao General De Gaulle.

Nem mais.

Podia, no seu afã demonstrativo da excelência da experiência autárquica para os voos governativos, socorrer-se de Valentim Loureiro, Ferreira Torres, Isaltino de Morais, Edite Estrela, Fernando Gomes, da própria Fátima Felgueiras ou mesmo do seu camarada Narciso Miranda. Podia, até, invocar Luís Felipe Menezes, que se declarou preparado para uma qualquer pasta ministerial, ou Santana Lopes, que chegou onde chegou.

Mas não, nada de simplicidades.

Um pouco a montante do desvario, contou ao incrédulo J Adelino Faria, que o General De Gaulle, assim alçado em oráculo da esquerda moderna, é que sabia fiar fino. Passava em apertado crivo os candidatos a governante, murmurando severo: só entram ex-autarcas.

Parece, todavia, que teria havido uma (!) excepção: André Malraux. Aqui, Soares, embevecendo-se com a própria tirada, deixou cair que havíamos de convir que se tratava de uma excepção perdoável… (Sempre era o André).

Temos pois o afoito candidato, que noutros tempos, ardendo o edifício da Câmara, se afivelou de bombeiro para os telejornais, a apoderar-se agora da farda do lendário General para, recortando-se no horizonte, suplantar de vez o engenheiro e o poeta.

Que mais nos trará a versatilidade da criatura?


Bruno v

A VERDADEIRA FACE DO BLOCO DE ESQUERDA...

Partidelho.

A expressão é do Presidente da Câmara Municipal do Porto – Rui Rio – após a invasão de uma reunião da câmara do Porto que decorria com normalidade democrática.

A deputada municipal do Bloco de Esquerda invadiu a sala e impediu a continuidade da reunião.

Eis a forma como este partidelho convive com as regras democráticas que apenas finge respeitar...

13.9.04

BATMAN EM BUCKINGHAM


Podemos ficar tranquilos quanto a medidas de segurança. Só mesmo o Batman conseguiu entrar no Palácio de Buckingham...

LE VOYAGEUR MAGNIFIQUE

“Era esse hombre que aguardaba todo, no esperaba nada, tambaleándose de una a outra ola…”


“Le désert ce n´est pas l´absence.
C´est l´état d´avant la présence, avant que les nomades le traversent, avant que les aventuriers ne s´y arrêtent pour ensuite s´en aller et repartir ailleurs. Il est. Sans avoir à en délimiter les contours, une géographie, une superficie, il est le désert. Ce lieu où l`on se perd, où le monde est anéanti, où le temps est sans vitesse, où le jour et la nuit se succèdent en étant n`importe quel jour et n`importe quelle nuit, avec le minéral présent, aux formes éphémères, la poussière, la pierre, les rochers, le sable…Et tout autour, l`espace et le ciel… Il est le lieu de nulle part où parfois un mot peut s`emparer de son infini. »

Yves Simon



brunov

VOU A ALCAIDE DE BLOCO NO BOLSO

Alegre sugere o alargamento da coligação ao Bloco de Esquerda (Público)


“Os habitantes da aldeia Suiça de Hurdenburg tinham uma forma muito peculiar de eleger o alcaide. Os candidatos sentavam-se em redor de uma mesa e colocavam as barbas sobre ela. Colocava-se então um piolho sobre a mesa e esperava-se que saltasse para uma das barbas. O dono da barba escolhida era o novo edil”

(Almanaque do Incrível)


bruno v

O FETICHE, O OLFACTO E A VAGA DE FUNDO

“Já provei que o meu apelido não me beneficiou”
J.Soares


João Soares, estupendo, veio partilhar com o povo que tem “um certo fetiche por segundas voltas”. Mais, contou: “Cheira-me que vou disputar a segunda volta com o Manuel Alegre”.
Estas pérolas do patusco candidato foram distribuídas em Celorico de Basto a uma vasta assembleia de indefectíveis – “perto de três dezenas de militantes” (Público de12.9).
O “perto” é uma delícia….


Bventana

UM PACTO COM O DIABO OU A BAZUCA LÍQUIDA

“O peixe-arqueiro do Sueste Asiático derruba moscas e mosquitos atirando-lhes um certeiro jacto de água”

Cartoon de António ( “Expresso” de 12 de Setembro) : “Querelle”, o barco da moral & dos bons costumes.
Veremos como reagem os lobbies a esta forma de luta.


Bruno v

10.9.04

A TEMPESTADE E A BONANÇA - I

A TEMPESTADE E A BONANÇA - I


“Everything should be made as simple as possible, but not simpler.”
Albert Einstein

(Dedicado a Bruno V)


Em tempos de tanto e augusto alarido sobre a vida e seus dramas, barcos estranhos, delfins traídos, negociatas obscuras, media atrevidos, decidimos denunciar os verdadeiros terroristas que povoam nossas vidas. São aqueles anónimos (ou não?!...) que nos acercam, ora dolosa, ora involuntariamente, e que marcam o ritmo das coisas. São os rostos da tempestade.


Tempestade Nº1 – O Condutor do Lado

Avenida movimentada. Qualquer hora do dia ou da noite. O condutor do lado é sempre o pior pesadelo. Não quer ultrapassar, tem sobrolho franzido e bigodaça imponente. O sinal verde cai. Vive o complexo do siamês e não deixa mudar de faixa. Grunha o tufão:

- Eh pá, ó (irreproduzível)! Mexe-te, ó ….!

Às vezes, o condutor do lado está dentro do carro e é instrutor de condução. Nesse caso, o tufão é:

- Nãaaaaaaaaaaaaaaao! Tou farto de ensinar velhas e nunca vi nada assim!.....

A Bonança: Por uma vez, era bom que o condutor do lado soubesse que há piscas, deixasse sempre ultrapassar e acenasse ternamente com o polegar fosse qual fosse a manobra.


Tempestade Nº 2 – O Caixa do Banco

Manhã atribulada. É mais um pedido de caderneta.

- Bom dia, precisava de uma segunda via da caderneta, sff.
- Outra vez????’
- Perdi a outra.
- Outra vez. E o que é que lhes faz?
- Não sei, por isso é que a perdi e lhe estou a pedir outra.
- Só é possível depois de entregar a caderneta antiga.
- Como? Se eu a perdi?!
- Só coma antiga.
- Não está aperceber. Eu estou sem caderneta.
- Só com a antiga.
- Olhe, eu vou ali levantar dinheiro com o cartão, então.
- Olhe que a máquina não dá moedas…

A Bonança: Por uma vez, gostava que o caixa do banco dissesse: “Bom dia. Aqui tem a sua 2ª via da caderneta que pediu ontem à meia-noite. O Banco acedeu ao seu pedido de crédito sem juros.”


Tempestade Nº 3 – O Funcionário

- Bom dia, precisava de uma informação relativa ao…
- Isso não é comigo, é com…., que está de férias.
- Sim, mas o que eu precisava era de confirmar se…
- Como lhe disse, siso eu não sei.
- Então, já que estou a falar consigo, perguntava-lhe se ..
- Isso não é comigo.
- Mas não pode saber se…
- Nós aqui não temos nada disso.
- Mas eu tenho aqui uma informação sobre isto assinada por si.
- Desculpe, estou de saída.

A Bonança: Por uma vez, gostava de viver a experiência de um telefonema assim:

- Bom dia, precisava de uma informação relativa ao…
- Estou a enviar-lhe já por mail. E o que é que precisa mais?
- Sabe se…
- Tenho aqui, mando-lhe também. Já agora, para ficar completo, vou juntar dois exemplares de… e a proposta de.., que pode ter utilidade. Pode ser ao final da manhã?

Tempestade Nº 4 – O Empregado do restaurante

- Temos orelha, alheira, enguias e lulas. Tudo do melhor.
- Não, queria um bitoque, então.
- Só com salada?
- Não, com batatas e arroz.
- Pra beber, aguinha?
- Não, queria Coca-Cola.
- De sobremesa, temos manga, melão, uvas
- Não há mousse de chocolate?

A BONANÇA: Por uma vez, gostava que o empregado sugerisse:

“Hoje temos sopa de hortelã, e como prato do dia, medalhões de tamboril com molho de menta, acompanhado com arroz de pinhões, batatinhas princesa e salada de agrião. De sobremesa, brownies com calda de chocolate e gelado de pistachio.”


Pensem nisso.


Avalon

LISBOA

A luz vinha devagar
Através do firmamento...
Vinha e ficava no ar,
Parada por um momento,
A ver a terra passar
No seu térreo movimento.


Depois caía em toalha
Sobre as dobras da cidade;
Caía sobre a mortalha
De ambições e de poalha,
Quase com brutalidade.


O rio, ao lado, corria
A querer fugir do abraço;
Ñuma vela que se abria,
E onde um sorriso batia,
O mar já era um regaço.


Mas a luz podia mais,
Voava mais do que a vela;
E o Tejo e os areais
Tingiam-se dos sinais
De uma doença amarela.


Ardia em brasa o Castelo,
Tinha febre o casario;
Cada vez mais nosso e belo,
O profeta do Restelo
Punha as sombras num navio...


Nas casas da Mouraria,
Doirada, a prostituição
Era só melancolia;
Só longíqua nostalgia
De amor e navegação.


Os heróis verdes da História
Tinham tons de humanidade;
No bronze da sua glória
Avviva-se a memória
Do preço da eternidade.



Nas ruas e avenidas,
Enluaradas de espanto,
Penavam, passavam vidas,
Mas espectrais, diluídas
Na cor maciça do encanto.


E a carne das cantarias,
Branca já de seu condão,
Desmaiava em anemias
De marítimas orgias
De um fado de perdição.


Miguel Torga

LISBOA VISTA DO CÉU


A TRADIÇAO VERRUMA A NEBRINA DOS SÉCULOS

“ Mais vale dois pássaros na mão qu´um a avoar”
(popular)



BRINDE A PALMERSTON

“Ascendem a Ministros alguns homens com pouca prática da sociedade. Cincam, principalmente, em certas normas da pragmática e da cortezia. O titular de uma das pastas oferece um jantar aos chefes das missões estrangeiras. .À sobremesa, um colega sopra de tal modo a espuma da sua taça de champagne, que ela transborda e estraga o vestido da esposa do encarregado de negócios da Suécia, Mme Kantzow. Doutra vez um destes mesmos Ministros, num jantar em que não havia brindes, teima em fazer um, a Lord Howard, e principia:

- Senhores, je bais à la santé de Mr. Lord Palmerston.

O ministro de Inglaterra limita-se a responder-lhe:

Mr, le ministre, vous êtes extrement aimable.

Nos corredores das legacões e nas salas da aristocracia casquina a risota por largo tempo.”

(Eduardo Noronha)



O BOSQUE DOS PIGMEUS

João Soares, conhecido pela sua pesada bagagem de bernardices, atira, girando sobre si próprio, que “Sócrates apareceu na corrida à liderança do PS como um gato escondido com o rabo de fora”.

A dita corrida ganha, de facto, a espessura de um duelo de titãs.



DUETO BLAIR-BROWN EM CORDA TENSA

Tony Blair, mesmo com Alastair Campbell recuado aos bastidores e Peter Mandelson na Comissão Europeia, reforça a mão, aproveitando uma remodelação para avançar um aliado seguro, Alan. Milburn, para o papel principal na preparação das próximas eleições. Esse papel, nas duas anteriores eleições, havia sido desempenhado por Gordon Brown.



VERDADE E CONSEQUÊNCIA

No caso da refinaria da Galp de Leça da Palmeira, o Governo surgiu seguro, expedito e firme. Por uma vez, neste país, uma Comissão de Inquérito produziu no tempo certo um relatório competente e incisivo e que, apresentado com rigor, vai ter, sobretudo vai ter, consequências. Animador.



QUARTO CRESCENTE

Diz-nos a imprensa do dia que o deputado municipal António Proa vai suceder a Teresa Maury, devendo assegurar os pelouros dos Espaços Verdes (actualmente com Carmona Rodrigues) e Atendimento ao Público na Câmara Municipal de Lisboa. Com trabalhos continuados na área governamental, nos sectores do ensino superior, da ciência e de articulação com o Parlamento e com as Autarquias Locais o jovem turco social-democrata chega-se à boca de cena. Com vento e lua favoráveis, a ver com interesse o que se segue.



A COMPANHIA DO BEM

Notável. Na Grande Loja do Queijo Limiano



A ESQUERDA ENGANOU-SE

António Barreto no seu melhor e no Público (de domingo e segunda-feira). Para ler e ficar.



O CAPITÃO HADDOCK, O CAPITÃO TORMENTA E O MAJOR ALVEGA EM CORRIDA UNS CONTRA OS OUTROS

Enquanto Alegre e Soares, incorrigíveis, continuam envolvidos em compacta nuvem, o eng.º José Sócrates, cabriolando de fraga em fraga, já teve tempo de encomendar ao mandarim um finíssimo plano tecnológico em que borbulha logo à superfície a nudez processual do picanço sobre o faval dos Fundos


Bruno V.

FRASE DO DIA

"O PS tem vivido mergulhado numa lógica aparelhistica e caciqueira"

João Soares na TSF hoje de manhã...

9.9.04

É SÓ O INÍCIO...

E quando vier o orçamento?


"Presidente do ISCTE insurge-se contra "avaliação selvagem"

O presidente do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) contestou hoje que a sua escola seja apontada como uma das piores num suposto ranking das universidades elaborado pelo Governo, ao qual não teve acesso."

Lusa

A NÉVOA VAI-SE DISSIPANDO NESTE SETEMBRO OU O NOVO GUIA DO AQUÁRIO

“Com fruta ou bolachas, o fondue de chocolate é uma sobremesa irresistível.”
Anónimo


Almeida Santos, por certo depois de conversar com o camarada Cristo, anuncia-se disponível para se recandidatar.

É uma verdadeira lufada.


O Secretário de Estado da Ciência e Inovação almoçou com o Mandarim. Uma ementa de vanguarda.

Este, depois de receber, juntamente com a Promotora Oficial da Divulgação Científica Portuguesa, a Ministra do sector no seu – deles - pavilhão à beira Tejo, deverá ter comentado com o novo governante que Marte esteve coberto de água por um longo período, mas que agora é altura da comunidade científica nacional “dar as mãos e olhar em frente”.

O puritanismo processual parece na verdade ter os dias contados.


A Selecção Nacional sofreu e depois goleou. Com dois pontas de lança fixos, que é como se querem os pontas de lança.


O DN refere que Camilo Castelo Branco foi amanuense do Governo Civil de Vila Real, mas teve que abandonar o cargo devido a um artigo que escreveu contra o Governador Civil, que o mandou espancar.


Miguel Almeida, que tão boa conta de si deu na Figueira da Foz, foi nomeado para lugar de monta.


Zapatero, esse estadista, conta que a única coisa que tinha medo, quando tomou posse, era de que o poder o mudasse. Mas, agora sabe, não o mudará.

Que fazer num caso destes?


Luís Suspiro, o cozinheiro alquimista do restaurante Condestável, viajante de mágicas experimentações e meu querido amigo, conta que no seu “bacalhau em forma delirante” o grão se transforma em pudim e as batatas em espuma. Diz que prefere mundializar a cozinha portuguesa sem “globalizar os sabores” .

E este artista, no seu “monólogo de entrega, de paixão e de loucura”, define-se: “ Sou um rústico refinado”.

Grande.


Até Agosto foram vendidos 344 automóveis da marca Jaguar em Portugal. É bom.


Bruno v

POR CAUSA DE UM PÁRA-QUEDAS...


O que resta da cápsula da sonda espacial Genesis após se ter despenhado nas areias do deserto de Utah por falha de um pára-quedas...

7.9.04

MAU PERDER

“- Irra, caramba, larga-me, animal!”
A Relíquia
Eça de Queirós



O Tribunal Administrativo e Fiscal de Coimbra veio confirmar a legalidade da decisão do governo português em impedir o barco da morte de entrar em águas territoriais portuguesas.

Não convencidas com decisão do tribunal (por elas escolhido para contestar), propõem-se continuar a desafiar os portugueses com atitudes provocatórias.

Agora pretendem “ensinar” as mulheres portuguesas a provocar o aborto com recurso a medicamentos à venda em farmácias, utilizando o seu site na Internet.

Esta atitude diz bem da falta de cultura democrática e de respeito pela legalidade que as caracteriza. Não sendo novidade é sempre bom esclarecer. Afinal não é só em Portugal que há disto.

…Mas ninguém as cala de vez?!!

SÃO ROSAS, SENHOR!...

“Henrique, habituado às etiquetas da civilização urbana, que estabelece entre amos e criados distâncias desconhecidas na aldeia, estranhou um pouco a familiaridade, mas sujeitou-se a ela sem reflexões.
Maria de Jesus dizia ainda admirada:

- Ó senhora! Não que uma coisa assim! Pois é este o menino que vinha à cozinha limpar o tacho em que se fazia a marmelada!
- É verdade! E que boa marmelada cá se fazia!
- Lambareiro! – disse a tia, sorrindo. – Se eu soubesse que eras assim, não tinha mandado lavar o tacho do doce, que ainda hoje serviu.”

Júlio Dinis


Sócrates, ex-ministro do Ambiente (quantos anos está previsto ser-se ex-ministro?), lá vai cantarolando aqui e acolá críticas brandas aos seus opositores (leia-se, Alegre e Soares).
Por vezes, parece ao de leve ouvir-se mesmo uma “boutade”, dirigida aos seus adversários (leia-se, uma vez mais, Alegre e Soares).

Sócrates vive num dilema.

Ele não é de esquerda, sendo-o (ou será o inverso?), mas quiçá o Louçã ou o Bernardino, ou até a Heloísa, com uma reciclagem podiam ser aproveitáveis.

Alegre, que é de esquerda, levou-lhe muita malta – oops! – que com ele privou em tempos de pagode. Alegre até nem queria, até sugeriu, antes, a bem da renovação, o nome de Tozé Seguro, o jovem mais velho de Portugal.

Vitorino concede a Sócrates apoio pessoal. Para quem irá o apoio político?
C’os diabos! A “Olívia patroa, Olívia costureira” está para durar na política!...

O melhor é falar com o Coelho.

Avalon

6.9.04

ANITA EM DARFUR

“Dona Semifofa erguendo o dedo
mindinho arqueado em asa sobre a asa da
chávena disse: - Eu sempre soube que poetas não
são gente em quem confie uma senhora –
e num sorvinho delicado rematou
a mágoa de cinquenta primaveras.”

Jorge de Sena


Ana Gomes, em mais um exercício de incontinência verbal, como diria o seu velho amigo José Lello, discorre sobre as moças abortivas holandesas, cheia de argumentos fortes. Lê-se no blog causa-nossa, no post “Portugal vence olimpíadas da hipocrisia”. Era Domingo, 29 de Agosto.

Quanta verborreia! Quanta profundidade e agudeza d’esprit!
E o humor?! O sarcasmo?! A análise atenta?!

Ficamos também a saber que já não está zangada com Sampaio. Pois que belíssimo Post Scriptum com que nos brinda: “A propósito, o Presidente Sampaio foi ouvido e concordou com a proibição, ou já não é preciso passar-lhe cartão, nem sequer adoçar-lhe a pílula?”

Dois dias depois, Sampaio anuncia que vai pedir informações ao Governo. Quanta felicidade para Ana! Quanto regozijo!

Mas Sampaio não tardou em cortar o barato à interventiva Anita. É que ele não está nada descontente!

Que golpada, pensará Ana, de lábio trémulo.
De que Olimpíadas considerará Sampaio vencedor?

Ai, Darfur, aqui tão perto…


Avalon

INQUIETAÇÕES E RÊVERIES

“ - Mas afinal, que moléstia é a tua, menino?
- Eu sei lá, tia Doroteia! Nem os médicos a conhecem bem. É, entre outras coisas, uma tristeza, uma melancolia, que me não deixa, que me persegue por toda a parte. Às vezes, parece-me que sinto apertar-se-me dolorosamente o coração; outras são palpitações, ânsias. Tenho quase vontade de chorar; não leio, não durmo, não como. Finalmente, todo eu sou doença e tristeza.
(…)
- Então, é assim uma espécie de mania?
À palavra “mania”, Henrique sobressaltou-se. Seria a consciência que se sentia ferida?
- Mania! Ó, tia Doroteia! Mania! Veja bem, olhe que o terno é forte! Mania!
- Sim, menino – pois olha que não é outra coisa. Pois isto de estar triste sem ter de quê…sim, porque não te morrendo ninguém, nem te doendo nada…
(…)
Henrique não podia, porém, digerir a expressão de que se servira a tia para diagnosticar o seu mal.
- Mania! – repetiu ele – Essa agora! Sempre é forte de mais. Mania, não, tia Doroteia, lá isso não. Mania!”

Júlio Dinis

Avalon

1.9.04

VEIO UM ATAQUE LÁ DE FORA! CHAMEM O CLA!

“Nas suas casas de oração, a que chamam pagodes, fazem muitas feitiçarias e nigromâncias….”
Duarte Barbosa


O Mandarim, esse o do pagode, torneou a moita, e, do seu jornal “O Público”, dirigiu-se a um grupinho alargado: todas “as pessoas responsáveis que querem o desenvolvimento do país”, dentro dos partidos políticos e “fora deles”.

Impressionante no tempero e omitindo o mandato (andará por aqui camarada de Almeida Santos, desses dos mais recentes?), esporeou-se e pediu “apoio para uma política científica progressiva para Portugal”e precisou, manso, que o “apelo não é contra ninguém”.
O que acontece é que urge encerrar dois anos difíceis e “virar a página”.

Todavia, sempre deita um olhar ao passado malsão:

“Foram atacados os Laboratórios associados” e “alguns desses Laboratórios viram-se sem financiamento durante ano e meio” (presumindo-se que tenham fechado à míngua de sustento), condenou-se o Ciência Viva, a menina dos seus olhos, “a inaceitáveis dificuldades” e, como se tudo isto não chegasse, veio um ataque lá de fora, “um ataque contra a Ciência em Portugal”(!)
Isso mesmo, Portugal foi alvo de um ataque rasteiro urdido por Bruxelas (onde estaria o camarada Busquin?), que, desalmadamente, quis rebentar com a nossa Ciência.

E porquê?

O Mandarim dá-nos o porquê: Puritanismo processual.

Aqui chegados, bem recordados do que se trata ( vd. DEPOIS DAS JANELAS ELES QUEREM FECHAR AS PORTAS, ELES QUEREM FECHAR AS JANELAS e MAROTEIRAS NA ALDEIA ), apenas podemos concluir que o Mandarim é então um decidido adepto da pornografia processual.

Dá logo a seguir um rico exemplo prático, em forma de pergunta: Porque não pede o governo ao Conselho dos Laboratórios Associados ( esse, o CLA ) apoio no contraditório com Bruxelas?

É uma ideia e peras! Até se podia juntar o ex Presidente da FCT, prof. Luís Magalhães, mais a rapaziada da DGDR da altura, e aproveitar para contar como é que se sacou a última tranche do PRAXIS XXI sem ter a maçada de encerrar o programa.

Mas, afinal, o que traz, por estes dias, tão cheio de viço o Mandarim?

A antevisão do choque tecnológico do engenheiro Sócrates? Não chega.
O calor de alma dum Verão bem passado? Não é o género.

“Virar a página”? O que mudou recentemente, que torna o momento apropriado?

O Governo.
O Mandarim gostou da mudança.

Ele sabe porquê.
O Presidente do Conselho Superior de Ciência, Tecnologia e Inovação também sabe.
E nós também.

O artigo de “ O Público”, exercício já na raia da palhaçada, tem contudo um título certeiro, como um boomerang envenenado, que assim se deve ler:

“Todos precisamos sempre da ciência” (mas uns precisam mais do que outros)
e
“hoje a ciência precisa de nós” ( precisa mesmo…)


PS- Tarde amena de finais de Agosto. Pavilhão à beira Tejo. O Mandarim e a Promotora Oficial da Divulgação Científica em Portugal recebem, juntos, a tutela com champagne e mansedume. Uma ligeira brisa vinda do mar da palha faz mais leves os ares…


Bruno v