“Ó portugal, se fosses só três sílabas,
Linda vista para o mar,
(...)
Se fosses só o sal, o sol, o sul,
O ladino pardal,
(...)”
Alexandre O´Neill
Em 1830 o rendimento médio de um português andava pelos 250 dólares.
Estava acima do belga (240), do dinamarquês (225), do sueco (235), e também do
alemão (240), do norte americano (240) e do japonês (180)
Apenas era superado pelo rendimento de um inglês (370), de um canadiano (280)
ou de um francês (275).
Trinta anos mais tarde, Portugal tinha aumentado o seu rendimento médio per
capita para o equivalente a 290 dólares, mas tombara significativamente em
termos comparativos. Encontrava-se agora muito atrás, do Reino Unido (600), dos
Estados Unidos (550) e da Suiça (415) e também dos países nórdicos, da Espanha,
Bélgica e Holanda.
Em 1913,três países – Estados Unidos, Reino Unido e Canadá - ultrapassavam a
barreira dos 1000 dólares e, no mundo industrializado, Portugal era um dos três
( com o Japão e a Rússia) a quedar-se na casa dos 300 dólares.
Em 1929, apenas a União Soviética (350) se encontrava atrás de Portugal (380).
Em 1950, com 440 dólares, Portugal voltava a ser penúltimo, com a Espanha,
marcada pela guerra Civil, a regredir e a cair no último lugar (430).
Fundado em 1143, Portugal assinou com Castela em 1927 o Tratado de Alcanises,
pelo qual se firmaram praticamente as suas fronteiras actuais.
Em 1415, um país de um milhão de pobres e analfabetos camponeses lançou-se numa
surpreendente Expansão.
Em 1494, o poder portugês atinge o seu auge e é celebrado com a outra
superpotência do tempo o tratado de Tordesilhas, ficando o mundo dividido em
duas esferas de influência.
Donde veio a decadência?
Dois factores importantes para o declínio económico e espiritual foram a
expulsão dos judeus (1496) e a introdução da inquisição (1536).
Os judeus tinham os capitais e o saber científico e cosmopolita fulcrais para o
desenvolvimento. Por outro lado, com a inquisição, Portugal sofria os efeitos
estagnadores da contra-reforma e os efeitos destruidores das fogueiras do Santo
Ofício sem ter navegado os ventos da Reforma.
Em 1640, o brilhante Padre António Vieira foi usado como embaixador de D. João
IV pela Europa fora, procurando legitimar o novo regime. Os seus grandes
objectivos eram o regresso dos judeus mais os seus capitais (entrtanto emigrados
na Holanda) e fazer cessar a inquisição.
Não teve êxito.
As riquezas do Brasil, a partir de 1693, a acção do Marquês de Pombal, 50 anos
depois, as invasões francesas em 1806, provocaram sobressaltos que nunca
consumaram uma passagem sustentada para o desenvolvimento continuado.
As revoltas liberais e a guerra civil entre cartistas e miguelistas desembocaram
num rotativismo que não deu sangue novo a uma monarquia velha de oito séculos,
que morre desprestigiada, falida e pobre em 1910.
Na primeira República houve de tudo, menos democracia e desenvolvimento.
O Portugal rural, analfabeto, descalço continuou sem arrancar e o descalabro
levou ao 28 de Maio.
Meio século mais tarde, cai outro regime, deixando o país com os indicadores
económicos e sociais mais atrasados do continente.
561 anos depois o país regressa ao seu território europeu e estabiliza a
democracia nos anos oitenta.
Com a adesão à CEE o crescimento económico ganha novo balanço e a convergência
face à media europeia parece atingível.
Mas com o final do século voltam as angústias e a divergência. O fosso em
relação aos parceiros volta a alargar-se.
Qual a razão de tudo isto?
Falhou o povo ou falharam as elites que o foram governando ao longo da sua
História?
Em 1900 a percentagem de analfabetos em Portugal era de 78% contra apenas 3% no
Reino Unido.
Hoje cerca de 77% da população adulta apresenta níveis de literacia dos mais
baixos da OCDE.
São, estes dados, causa ou sintoma?
Enfrentando o dogma segundo o qual o económico precede o social, o qual, por sua
vez, determinaria o mental, cremos, com Peyrefitte, que a razão fulcral do
desenvolvimento económico e da modernidade reside num conjunto de factores
socio-culturais que se traduzem em atitudes, comportamentos, maneiras de estar e
de ser – um ethos – dos homens e das mulheres numa sociedade.
Se assim for, se aí residirem os porquês, havemos de convir que o nosso lugar no
mundo (nos “melhores” trinta) não é brilhante nem trágico.
O que seria optimo era, promovendo um ethos de confiança competitiva, não
descer.
(Fernando C. De Oliveira- “Publica – 31.12.00;
A. Peyreffite – “O milagre em Economia” )
crsDVal